quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Se isto não chega tens Portugal ao contrário


A banda portuguesa Xutos&Pontapés têm uma música chamada "O Mundo ao contrário". Nem gosto particularmente da referida melodia, mas acho que se adequa na perfeição na transcrição que vou fazer de uma notícia hoje publicada no Público:

"Enquanto a taxa de emprego dos jovens com o ensino secundário praticamente não se alterou, a quebra no grupo dos licenciados com menos de 25 anos foi de quase 20%. Elísio Estanque, sociólogo e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, não considera estes dados surpreendentes e relaciona-os com "a falta de modernização e de inovação do tecido empresarial português, excepcional a nível europeu".

"Estamos a falar de um país em que os patrões são menos qualificados do que os empregados e onde se chega ao ponto de alguns jovens se sentirem constrangidos a omitir que têm uma licenciatura para conseguir um emprego, por estarem cientes de que o empregador optará por aquele que tiver menos qualificações", comenta Elísio Estanque."


Reformulando a letra daria algo do género:

Se te esforçaste mais,
Se trabalhaste mais,
Se isto não chega tens Portugal ao contrário

5 comentários:

  1. Realmente parece que anda tudo de pernas para o ar, mas a verdade é que os "facilitismos" a nível do ensino também não ajudam, inflacionando o número de licenciados (não necessariamente pessoas mais qualificadas, a não ser ao nível do papel/diploma)...
    PC

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  2. Tem toda a razão PC. Eu trabalhei um ano no Politécnico de Portalegre e, na sua maioria, os alunos e professores são muito mais MUITO fracos. No entanto, nem para os bons alunos de universidades conceituadas existe colocação e se quiser posso dar alguns exemplos. Aliás em Janeiro iniciarei uma ronda de entrevistas a jovens ultra-qualificados (Mestre, Doutores de instituições como o IST, a UNL, etc.) que estão mal, que emigraram ou tiveram que arranjar soluções alternativas

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  3. O problema é que muitas vezes os licenciados mal preparados saem do ensino superior com notas altas tornando-se difícil distinguir o "trigo do joio". Obviamente que concordo que também para os bons seja difícil a colocação...
    PC

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  4. O problema é que muita vezes os licenciados de más instituições de ensino e com péssimas notas têm a fabulosa cunha política. Nas autarquias isso é quase regra e veja, por exemplo, nos últimos governos quantos membros tiraram cursos em Universidades privadas com notas miseráveis e, inclusivamente, já depois de terem altos cargos políticos.

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  5. Portugal ao contrário

    Como começar
    Aquilo que acabou?
    Como acabar
    Aquilo que não começou
    Triste fado o nosso
    Que nem a rezar pai-nosso
    Evite este alegre despiste
    O de ser ex-povo poeta
    Porque virou nobre pateta

    Ó meu Portugal
    Que me dás o dia inteiro
    A possibilidade de funeral
    E todos os dias de nevoeiro
    De afonsos sem dom
    Sem segundos nem penúltimos
    Porque agora sobes o tom
    De sermos os primeiros dos últimos
    Como cantar a tua glória
    Se só na derrota cantas vitória

    Deste destino não me livro
    De bruxedo e feitiçaria
    Narro-te em trovas de um livro
    Porque é negra a tua magia
    Desfeito dos teus feitos heróicos
    Que te dilataram a fé e o império
    Agora um punhado de paranóicos
    Armados em heróis a sério
    Cambado de panascos importantes
    Que além do mais são praticantes

    Já não acredito em querer
    Que um dia vá acreditar
    Na fé desse grande crer
    Que me possas salvar
    E me faças outra vez de novo
    Filho de gente que sente
    Gente de gente, gente do povo
    Do povo de nação valente
    E agora vai pior que mal
    Numa estupidez imortal

    Onde estão nossos irmãos
    Para onde fugiram nossos amores
    A quem dar as nossas mãos
    Num país de desertores
    Viraram-se ao contrário
    Fugindo à realidade
    Montados neste cenário
    Sem esperança na saudade
    E do amigo ficou o esboço
    Do inimigo a aperta o pescoço

    Ó Portugal da mensagem
    Já sem rosto de Pessoa
    De Camões sem linhagem
    Sem porto e sem Lisboa
    Virou fantasma o Viriato
    Sebastião um morto-vivo
    O teu povo no estrelato
    Tua pátria um nado-vivo
    E já nem o velho do restelo
    Te idolatra como camelo

    Foste castelos de tantas quinas
    De reis e governantes além-mar
    E agora desempenas esquinas
    Porque te esquivas do teu mar
    Foste o senhor de tanta guerra
    Em busca do além-mundo
    E agora enterras a tua terra
    Enterrando machado em peito fundo
    Que será de ti ó Portugal
    Que só em besta tu és bestial

    Reina e impera a estupidez
    Governa a avidez e a ganância
    E de olhos fechados já não vês
    Que a tua prol é ignorância
    Que a votar não vota bem
    Que a não votar vota mal
    Porque o voto é o voto de alguém
    Que não te vota Portugal
    São votos brancos, votos de chulos
    São tudo votos, votos nulos

    Canto-te assim ó fim d´império
    Numa poesia de raiva e dor
    Que te prova muito a sério
    O pouco de tão pouco amor
    E que te vê a desmaiar
    Em queda tornada coma
    Num hospício a tratar
    E à venda na vandôma
    A Europa desfigura-te o rosto
    E o teu vinho sabe a mosto

    Ó Portugal moribundo
    A afogar-se à beira-mar
    Destes mundos e mundos ao mundo
    Sem o mundo te nada dar
    Vais agora de vento em popa
    Restos cozidos-à-portuguesa
    Eis Portugal ao inverso
    Lagutrop do meu verso


    www.poemas.blogtok.com

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