sábado, 24 de dezembro de 2011

O “ouro português”: a evolução do negócio corticeiro em Portugal


          Aproveitando a nomeação do sobreiro como árvore nacional iniciarei um breve resumo do negócio corticeiro português desde as suas origens até ao 25 de Abril. Hoje deixo-vos com a primeira parte que corresponde ao final do século XVIII e início da centúria de oitocentos.


(Parte 1: A primeira metade do século XIX)
            A origem da transformação da cortiça remonta ao século XVIII quando, na região francesa de Champagne, o monge beneditino Pierre de Perignon produziu um vinho espumoso cuja conservação exigia uma garrafa de vidro e uma rolha de cortiça. Este vinho, cuja procura aumentou devido ao facto de ser bastante apreciado pela nobreza francesa, foi o responsável pelo nascimento da indústria corticeira em França. No entanto, por um lado, a reduzida área de montado de sobreiro naquele país e, por outro, a natural baixa elasticidade da oferta de cortiça relacionada com o alargado período de crescimento do sobreiro forçaram a expansão do negócio, numa primeira fase, até à Catalunha e, posteriormente, ao resto de Espanha e a Portugal.
            Assim, nas primeiras décadas do século XIX a Catalunha era a região onde se concentrava grande parte da indústria mundial de cortiça. Já Portugal, não contado com as condições que a Catalunha dispunha para o estabelecimento de uma indústria transformadora como, por exemplo, o ambiente industrial necessário ou a necessária densidade demográfica na região de extracção de cortiça, limitava-se ao papel de fornecedor de cortiça. Neste período, mais de 98% das exportações corticeira lusas eram de matéria-prima em bruto tendo como principal mercado o Reino Unido (82%), e como mercados secundários a Rússia, Alemanha, Holanda e Estados Unidos, onde esta seria então transformada.
            No Alto Alentejo, seguindo o contexto atrás descrito, tratou-se de um período de extracção de cortiça cujos proprietários florestais acabavam por exportar para cidades britânicas como, por exemplo, Halifax onde George Robinson detinha já uma produção industrial considerável. Ainda assim, em Portalegre existia, desde 1835, uma pequena fábrica de cortiça instalada no Convento de São Francisco, adquirido após a extinção das Ordens Religiosas no ano anterior, propriedade de uma conhecida família inglesa, os Reynolds, trata-se do embrião do que virá a ser a Fábrica Robinson. (continua…)

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