Aproveitando a nomeação do sobreiro como árvore nacional iniciarei um breve resumo do negócio corticeiro português desde as suas origens até ao 25 de Abril. Hoje deixo-vos com a primeira parte que corresponde ao final do século XVIII e início da centúria de oitocentos.
(Parte 1: A primeira metade do
século XIX)
A origem da transformação da cortiça
remonta ao século XVIII quando, na região francesa de Champagne, o monge beneditino Pierre
de Perignon produziu um vinho espumoso cuja conservação exigia uma garrafa
de vidro e uma rolha de cortiça. Este vinho, cuja procura aumentou devido ao facto
de ser bastante apreciado pela nobreza francesa, foi o responsável pelo
nascimento da indústria corticeira em França. No entanto, por um lado, a reduzida
área de montado de sobreiro naquele país e, por outro, a natural baixa
elasticidade da oferta de cortiça relacionada com o alargado período de
crescimento do sobreiro forçaram a expansão do negócio, numa primeira fase, até
à Catalunha e, posteriormente, ao resto de Espanha e a Portugal.
Assim, nas primeiras décadas do
século XIX a Catalunha era a região onde se concentrava grande parte da indústria
mundial de cortiça. Já Portugal, não contado com as condições que a Catalunha
dispunha para o estabelecimento de uma indústria transformadora como, por
exemplo, o ambiente industrial necessário ou a necessária densidade demográfica na região
de extracção de cortiça, limitava-se ao papel de fornecedor de cortiça. Neste
período, mais de 98% das exportações corticeira lusas eram de matéria-prima em
bruto tendo como principal mercado o Reino Unido (82%), e como mercados
secundários a Rússia, Alemanha, Holanda e Estados Unidos, onde esta seria então
transformada.
No Alto Alentejo, seguindo o
contexto atrás descrito, tratou-se de um período de extracção de cortiça cujos
proprietários florestais acabavam por exportar para cidades britânicas como,
por exemplo, Halifax onde George Robinson detinha já uma produção
industrial considerável. Ainda assim, em Portalegre existia, desde 1835, uma
pequena fábrica de cortiça instalada no Convento de São Francisco, adquirido
após a extinção das Ordens Religiosas no ano anterior, propriedade de uma conhecida
família inglesa, os Reynolds,
trata-se do embrião do que virá a ser a Fábrica Robinson. (continua…)
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