quarta-feira, 14 de março de 2012

Aplica-se na perfeição aos dias de hoje

Corria o ano de 1868 quando o rei consorte D. Fernando II recebe um (de muitos) desesperado pedido de auxílio financeiro.

O remetente, António Guimarães, tinha sido uma pessoa influente no panorama político português e relata assim o estado da sua desgraça: (o itálico é texto original, os restantes comentários são meus, bem como as citações assinaladas a negrito)

"(…) fructo dos meus esforços foi a perseguição e por fim a miséria.”. Tendo, desta forma, passado os últimos “(…) doze annos (…) em tormentos e aflições mas preferi-os e até os dos meus filhos que me doíam mais do que as minhas, ao sacrifício de convicções baseadas no estudo desapaixonado das cousas do pais.”


Culpando sucessivamente a política, o remetente afirma que “(…) Pelas minhas opiniões a bandeira portuguesa cobriria hoje um vasto comercio de café, açúcar e dos mais géneros coloniais de produção nacional teria, em vez de uma crise financeira.”, no entanto, “(…) Amesquinharam tudo e cuidaram só dos interesses das facções, esquecendo tristemente o que tem d’elevada a missão de governar os estados.. António Guimarães continua advertindo D. Fernando que Adular não é amar os Reis. Aduladores acham elles sempre, amigos leves e dedicados raras vezes.”

Voltando a insistir que “(…)toda essa dedicação cívica, todo esse patriotismo reflectido e desinteressado só me grangearam uma persiguição que conseguiu fazer esgotar os seus recursos de que dispunha e collocar-me na extremidade de suplicar a protecção de Vossa Magestade, porque vão ser penhoradas os meus moveis e consumado o sacrifício do homem pela rasão de querer o bem da pátria.”, o remetente implora um auxílio financeiro já que “(…)Estou afflicto porque sei que os meus moveis vão ser penhorados se não me isempto em 48 horas, d’encargos que contrai e não posso solver porque s’esgotaram os meus recursos particulares e da politica não me é licito fazer uso nem disso sou capaz” e, nas suas próprias palavras, o empréstimo será apenas temporário pois tenciona emigrar para a América onde “(…) em poucos meses m’acharei em condições diversas e de pagar”.

O que me assusta é, por um lado, a actualidade deste discurso, fosse à época válido ou não, e, por outro, o facto de conhecer pessoas que não conseguem (ou não querem) compreender a segunda frase que coloquei a negrito. Isto passados quase 150 anos...dá que pensar!


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