Corria o ano de 1868 quando o rei consorte D. Fernando II recebe um (de muitos) desesperado pedido de auxílio financeiro.
O remetente, António Guimarães, tinha sido uma pessoa influente no panorama político português e relata assim o estado da sua desgraça: (o itálico é texto original, os restantes comentários são meus, bem como as citações assinaladas a negrito)
"(…) fructo dos meus esforços foi a perseguição e por fim a miséria.”. Tendo, desta forma, passado os últimos “(…) doze annos (…) em tormentos e aflições mas preferi-os e até os dos meus filhos que me doíam mais do que as minhas, ao sacrifício de convicções baseadas no estudo desapaixonado das cousas do pais.”
Culpando sucessivamente a
política, o remetente afirma que “(…)
Pelas minhas opiniões a bandeira portuguesa cobriria hoje um vasto comercio de
café, açúcar e dos mais géneros coloniais de produção nacional teria, em vez de
uma crise financeira.”, no entanto, “(…)
Amesquinharam tudo e cuidaram só dos interesses das facções, esquecendo
tristemente o que tem d’elevada a missão de governar os estados.”. António
Guimarães continua advertindo D. Fernando que “Adular não é amar os Reis. Aduladores acham elles sempre, amigos leves
e dedicados raras vezes.”
Voltando a insistir que “(…)toda essa dedicação cívica, todo esse
patriotismo reflectido e desinteressado só me grangearam uma persiguição que
conseguiu fazer esgotar os seus recursos de que dispunha e collocar-me na
extremidade de suplicar a protecção de Vossa Magestade, porque vão ser
penhoradas os meus moveis e consumado o sacrifício do homem pela rasão de
querer o bem da pátria.”, o remetente implora um auxílio financeiro já que “(…)Estou afflicto porque sei que os meus
moveis vão ser penhorados se não me isempto em 48 horas, d’encargos que contrai
e não posso solver porque s’esgotaram os meus recursos particulares e da
politica não me é licito fazer uso nem disso sou capaz” e, nas suas
próprias palavras, o empréstimo será apenas temporário pois tenciona emigrar
para a América onde “(…) em poucos meses
m’acharei em condições diversas e de pagar”.
O que me assusta é, por um lado, a actualidade deste discurso, fosse à época válido ou não, e, por outro, o facto de conhecer pessoas que não conseguem (ou não querem) compreender a segunda frase que coloquei a negrito. Isto passados quase 150 anos...dá que pensar!
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