Não vou discutir a pertinência da extinção de 4 feriados do calendário laboral português, nem tão-pouco dos seus alegados efeitos na economia e na produtividade. A questão que quero abordar é sobre a escolha de quais serão os feriados extintos.
O governo acordou com a Igreja Católica a extinção de 2 feriados civis e de 2 feriados religiosos. Sobre estes últimos pouco há a dizer, desde que se mantenha a Páscoa, o Natal e talvez o Dia de Todos-os-Santos, praticamente qualquer outro feriado encontra-se desprovido de qualquer devoção, tornando fácil a sua extinção e, simultaneamente, comprovando a decadência da fé católica - diria até religiosa - em Portugal.
As grandes disputas situam-se nos feriados civis, na medida em que estes têm quase todos determinadas implicações políticas ( 25 de Abril, 1 de Maio, 5 de Outubro, etc.) ou estão demasiado enraizados na sociedade portuguesa (caso do 1 de Janeiro). Vejamos então a lista:
1 de Janeiro - Após a celebração do Ano Novo um dia de descanso que é quase tão unânime como o Natal.
25 de Abril - Feriado intocável pois celebra a instauração do regime actual.
1 de Maio - Dia do Trabalhador. Um dos dias mais celebrados a nível mundial e simbólico para toda a esquerda portuguesa, desde o Partido "Socialista" até aos sectores mais radicais como o PCTP/MRPP.
10 de Junho - Dia de Portugal, celebrado sobretudo por nacionalistas, ex-combatentes, emigrantes e monárquicos.
5 de Outubro - Implantação da República, feriado especialmente sensível para a esquerda e, dentro desta, para o Partido Socialista e a Maçonaria "herdeiros" naturais da I República.
1 de Dezembro - Restauração da Independência. Dia extremamente importante para monárquicos e, em menor escala, para alguns grupos nacionalistas.
Ao que tudo indica o governo optou pela extinção do 5 de Outubro e do 1 de Dezembro e, na minha opinião, correctamente. Ora a extinção de qualquer um dos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril e 1 de Maio, resultaria numa enorme contestação social fosse por via de forças partidárias e sindicais, fosse por via popular.
Restam, portanto, outros três feriados dos quais dois, 10 de Junho e 1 de Dezembro, são celebrados por sectores mais "conservadores" e um outro pela esquerda republicana. Seria injusto acabar com os dois primeiros mantendo o último, pelo que assim se justifica parte da extinção do 5 de Outubro. O restante prende-se com uma comemoração de uma data que pouco diz aos portugueses do século XXI e, sobretudo, onde é exaltado um regime que foi belicista, anti-democrático, colonialista e um autêntico desastre económico e financeiro.
Sobra a escolha entre 10 de Junho e 1 de Dezembro, parece-me que institucionalmente o primeiro é mais importante devido ao facto de procurar aproximar os quase 4 milhões de portugueses espalhados pelo globo. Mas se tal não for suficiente, basta relembrar que entre 1 de Dezembro e 1 de Janeiro já existem 4 feriados e, portanto, parece-me mais lógico terminar com o 1 de Dezembro.