sexta-feira, 6 de julho de 2012

Creating Wine: The emergence of a World Industry, 1840-1914.

Nas últimas duas semanas andei a ler um estudo sobre o desenvolvimento da indústria do setor vinícola, da autoria de James Simpson. Deixo aqui um resumo do seu conteúdo:


James Simpson oferece ao leitor um estudo sobre a indústria do vinho, um tema em que é um reconhecido especialista, contando já com diversas obras publicadas sobre o setor vitivinícola. Desde logo a escolha do subtítulo – The emergence of a World Industry, 1840-1914 – desvenda um pouco do conteúdo da obra, pois, como o autor demonstra, foi precisamente durante este período que a indústria vinhateira ganhou uma dimensão mundial. Assim, se no início do século XIX o comércio internacional de vinho se restringia ao segmento de vinhos espirituosos e de alta qualidade como, por exemplo, o Vinho do Porto ou o Champagne, nas vésperas da Grande Guerra não só vários tipos de vinho eram transacionados nos mercados internacionais, como também as principais regiões produtoras tinham-se expandido até ao Continente Americano, ao Norte de África e à Oceânia.
            Na realidade, a partir da segunda metade do século XIX, a indústria vinhateira sofreu importantes alterações que, em grande parte, se mantêm até à atualidade. É precisamente nestas modificações que James Simpson centra a sua análise, examinando com grande detalhe os principais países produtores de vinho europeus – França, Espanha, Itália e Portugal -, a evolução do comércio internacional deste produto e o crescimento da produção no “Novo Mundo” – Estados Unidos, Chile, Argentina e Austrália. Desta forma, o livro encontra-se dividido em quatro partes, a primeira relativa ao segmento do vinho “comum”; segue-se a análise da exportação de vinho na europa e, sobretudo, do falhanço, no longo prazo, na abertura de novos mercados dentro do continente europeu; a terceira parte incide na reação dos produtores das regiões mais prestigiadas a fenómenos como a adulteração e a fraude; e, finalmente, uma quarta parte estuda o desenvolvimento da indústria vinhateira fora dos limites europeus.
            O autor começa por assinalar como o negócio vinhateiro europeu novecentista, em torno do vinho “comum”, foi marcado pela integração de mercados, fruto do desenvolvimento dos meios de transporte e do aumento da procura, contribuindo decisivamente para o aparecimento de uma especialização regional e da internacionalização do seu comércio, mas, sobretudo, também pelas consequências da disseminação de doenças e pragas, como o oídio e a filoxera. Na realidade o impacto destas crises transformou radicalmente a estrutura de produção daquele tipo de vinho, assim como a sua comercialização. Em resposta à morte das vinhas desenvolveu-se, especialmente em França, uma aposta no conhecimento científico que possibilitou um maior conhecimento da planta e, paralelamente, a obtenção, a médio prazo, de uma maior qualidade de vinho. O relativo sucesso desta aposta trouxe ao setor um novo modelo organizativo, visto que passou a ser necessário um maior investimento em capital, sobretudo em alfaias agrícolas e químicos, e um know-how mais aprofundado. A indústria vinhateira parecia então estar destinada a grandes companhias cuja estratégia operacional passaria pela integração vertical, todavia, os pequenos produtores lograram associar-se permitindo a manutenção do seu papel preponderante neste setor.
            Simultaneamente, outros produtores de uvas reagiram de forma diferente optando pela importação de resistentes vinhas americanas, enquanto alguns produtores de vinho e comerciantes apostaram na adulteração e na fraude como forma de satisfazerem a procura de vinho, num período marcado por grandes quebras de produção. Esta resultou na perda de alguns mercados importantes, como o mercado inglês, e numa quebra momentânea de consumo no mercado francês, devido à volatilidade da qualidade do vinho e à falta de informação fiável por parte do consumidor.
Ao mesmo tempo, os produtores de vinhos espirituosos e de alta qualidade, também estes afetados por estas práticas, associaram-se corporativamente de forma a pressionar o Estado na criação legal de regiões demarcadas, assim como na fiscalização do seu cumprimento. Nas regiões onde estas pretensões foram acedidas, como França e Portugal, houve uma recuperação do consumo vinícola e a criação de cooperativas de produtores que mantiveram, até os nossos dias, uma estrutura produtiva organizada em milhares de pequenas unidades, por vezes de carácter familiar.
            Fora da Europa, não obstante a tentativa de introdução de vinhas datar do início do período colonial, a indústria do vinho só se desenvolveu no final do século XIX, coincidindo com a introdução de novas tecnologias na produção e da viticultura científica, que permitiu combater com eficácia as infeções bacterianas típicas de climas quentes; com o aparecimento de economias de escala, devido ao crescimento da população; e, por último, com a queda dos custos marginais.
Aproveitando algumas condições mais favoráveis que os seus congéneres europeus não possuíam como, por exemplo, uma maior produtividade da vinha e o reduzido preço da terra e, simultaneamente, evitando desvantagens como o elevado custo do trabalho através de uma produção mais extensiva, esta nova indústria vinhateira parecia destinada a dominar os mercados internacionais. No entanto, com exceção da Austrália, a produção fora da Europa acabou por se restringir à substituição de importações, fornecendo, com bastante sucesso, os seus mercados internos, em grande expansão, tendo beneficiado ainda, para esse efeito, de pautas aduaneiras fortemente protecionistas.
Ao contrário da produção europeia, devido à necessidade de fortes investimentos em capital, surgiram no “Novo Mundo” grandes companhias que dominaram a indústria vinhateira. De facto naquelas regiões, perante a ausência de uma estrutura tradicional baseada em pequenos produtores, o aparecimento significativo destes estava limitado pelos avultados investimentos em tecnologia, que possibilitou a produção de vinho em climas quentes; em transportes, devido às grandes distâncias que o produto tinha que percorrer até ao chegar ao consumidor final; e em estratégias de marketing na obtenção de novos consumidores, sobretudo nos países de influência anglo-saxónica onde a população não tinha por hábito consumir vinho.

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