No passado mês de novembro, um dos nossos passeios domingueiros em
família incluiu uma breve visita à vila de Cabeço de Vide, que foi sede de
concelho até 1855, tendo então passado a freguesia do concelho de Alter do Chão e, mais tarde (1932), do de Fronteira. Um
dos edifícios cujo exterior pudemos observar foi o da Santa Casa da
Misericórdia de Cabeço de Vide, situado junto da Igreja Matriz e composto pelo
Hospital, a Igreja e a Sala dos Mesários da Irmandade (ver fotos abaixo). Como
as misericórdias têm sido sempre um dos meus objetos de estudo, partilho
convosco algumas informações que tenho recolhido sobre esta em particular.
Conjunto arquitetónico da Santa Casa da Misericórdia de Cabeço de Vide: Hospital, Igreja, Sala dos Mesários e antigo Cemitério. Fonte: indicada na foto. |
Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Cabeço de Vide. Fonte: foto da autora. |
Segundo os dados disponíveis num dos volumes da coletânea Portugaliae Monumenta Misericordiarum, a
Misericórdia de Cabeço de Vide já existia seguramente em 1520. «A 14 de Abril
desse ano D. Manuel I, no regimento que dava aos oficiais e tesoureiros da Casa
da Mina sobre as ordinárias de açúcar, ordenava que se pagassem duas arrobas de
açúcar à Confraria de Cabeço de Vide» (PORTUGALIAE Monumenta Misericordiarum.
Coord. científica de José Pedro Paiva. Lisboa: União das Misericórdias
Portuguesas, 2002, vol. 3, p. 377).
Na obra Album Alentejano,
publicada na década de 1930, diz-se que Cabeço de Vide possuiu dois hospitais,
um da Confraria do Espírito Santo e outro da Misericórdia, tendo sido este «um
dos mais ricos do Alentejo, irmão gémeo das mais antigas instituições dêste
género» (MACHADO, F. S. de Lacerda – «Freguesia de Cabeço de Vide: a sua
origem». In Album alentejano. Dir. Pedro
Muralha. Lisboa: Imprensa Beleza, [1931], p. 799-800). Aquando a publicação do Album, já só existia este último Hospital,
«completamente remodelado e actualisado» (idem).
Uma monografia sobre Cabeço de Vide fornece-nos uma descrição do Hospital da
Misericórdia: subindo a breve escadaria, corredor largo e arejado, forrado a
azulejos, à direita do qual está o Banco; mais à frente, novamente à direita, a
enfermaria feminina, com sete camas de ferro e amplas janelas (sala de convívio
contígua); à esquerda, a masculina, idêntica; moderna e ampla cozinha (LEAL,
João Ribeirinho – Achegas para a
monografia de Cabeço de Vide (Portalegre). [S.l.]: Ed. Autor, 1981, p.
93-94).
Por fim, destaco outro aspeto da história desta instituição,
designadamente o seu património documental. Segundo o levantamento publicado na
coletânea acima citada, o Arquivo da Misericórdia de Cabeço de Vide inclui
documentos cujas datas extremas oscilam entre 1516 e 1966, testemunhando a
estrutura orgânica, as funções e as atividades da instituição. Uma das séries
mais destacadas é a dos compromissos, que constituem o documento regulador das
misericórdias. A Misericórdia de Cabeço de Vide possui um exemplar do primeiro
Compromisso impresso da Confraria da Misericórdia de Lisboa, de 1516, e outro da impressão de 1662 do Compromisso de 1618 da mesma instituição, cujas normas
foram seguidas, embora com adaptações, pela maioria das misericórdias criadas
por todo o país. O valor bibliográfico destes documentos, em particular do
primeiro, é enaltecido pelos vários autores que escrevem sobre a Misericórdia
de Cabeço de Vide. Curiosamente, foi exatamente o exemplar pertencente a esta
instituição que encontrámos reproduzido num artigo sobre os compromissos das misericórdias publicado no Boletim da Assistência Social, um periódico oficial dos anos
de 1940 que integra a Biblioteca do Arquivo Histórico Municipal de Ponte de Sor (ver
imagem abaixo). Aproveitando a ocasião para publicitar, esta Biblioteca será
brevemente apresentada no Centro de Artes e Cultura, no dia 18 de janeiro
(sábado), pelas 16h00, ficando disponível ao público para consulta.
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