Corria o ano de 1862 quando o Governo Civil de Lisboa realizou um inquérito ao estado da instrução primária no respetivo Distrito. Neste, fica-se a saber que na freguesia de Santa Maria dos Olivais, à época pertencente ao concelho homónimo, funcionavam 4 estabelecimentos de ensino primário: 2 estatais e destinados exclusivamente ao sexo masculino e 2 particulares repartidos entre o sexo masculino e o sexo feminino.
O resultado era uma população escolar muito desequilibrada em termos de género, visto que 93 rapazes olivalenses frequentavam o ensino primário, mas apenas 23 raparigas tinham o mesmo privilégio. A população escolar da freguesia 116 alunos num total de cerca de 2.000 habitantes, não existindo qualquer estabelecimento de ensino secundário no concelho.
A generalidade das escolas primárias oitocentistas, públicas ou privadas, estavam muito longe da ideia que hoje temos do ensino primário. Algumas não tinham edifício próprio, funcionando em espaços adaptados ou mesmo na residência particular do professor; os alunos eram, frequentemente, agrupados numa mesma sala não obstante estarem fases diferentes do seu percurso escolar; os horários e o calendário escolar eram totalmente diferentes do atual.
A julgar pelas conclusões do inquérito, as duas escolas públicas primárias dos Olivais, administradas pela Câmara Municipal, encontravam-se em boas condições. Os seus 67 alunos dirigiam-se a um edifício próprio - ao número 180 do Rossio dos Olivais ou ao número 663 do Poço Bispo -, onde encontravam mobiliário adequado, embora o papel e a tinta - à semelhança de hoje em dia - fossem fornecidos pelos próprios alunos. Em caso de impossibilidade devido a alguma situação de pobreza, o professor estava incumbido de suportar todos os custos com material.
O mais curioso no funcionamento destas escolas - e que reflete a forma diferente como se encarava o ensino no século XIX e na atualidade - são as idades dos alunos. Estas variavam entre os 6 e os 14 anos, mostrando as frequentes interrupções do percurso escolar devido a questões laborais ou a entrada tardia no sistema de ensino, fruto da pouca utilidade que este, à primeira vista, poderia ter para uma população essencialmente rural ou de operários desqualificados.
Já as escolas privadas - situadas, novamente, no Rossio dos Olivais e na Rua Nova* - funcionavam em residências particulares. A escola feminina era suportada totalmente pelo benemérito Ricardo Lambert, e dirigida por Maria do Bonfim, apesar desta não possuir autorização oficial para o fazer. O programa de ensino, além do habitual ensinar a «ler, escrever e contar», incluía também «doutrina cristã» e uma disciplina de «cozer». O inquérito, infelizmente, não discrimina quais os manuais desta escola, pelo que é impossível comparar com a sua congénere masculina.
Nesta, dirigida por António José da Cunha, também ele sem autorização para o fazer, usavam-se os manuais de Monteverde, de Montpellier, do Abáde de Salamonde e a História Sagrada.
Comum a todas as escolas, públicas ou privadas, masculinas ou femininas, era o Compêndio do Novo Sistema Métrico Decimal, fornecido, aliás, pelo próprio Administrador do Concelho.
Adotado oficialmente em Dezembro de 1852, tendo sido tornado de uso exclusivo e obrigatório a partir de 1 de Janeiro de 1860, na verdade utilização do sistema de pesos e medidas de Antigo Regime prolongou-se no tempo, mesmo apesar das multas a que estavam sujeitos todos aqueles que não utilizassem o novo sistema métrico-decimal.
Cientes do problema que isso acarretava para o quotidiano das populações, as autoridades portuguesas empreenderam um grande esforço para fazer triunfar o novo método de medir e pesar. O ensino foi, como seria de esperar, um dos seus principais campos de batalha.
* A Rua Nova, no sítio da Aldeia, situava-se próxima da Igreja Matriz dos Olivais, no núcleo histórico dos Olivais Velho.
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