(Parte 3: As primeiras décadas do
século XX (1900-1929)
Os primeiros
anos do século XX trazem uma novidade técnica que revolucionou a indústria da
cortiça, a descoberta do aglomerado de cortiça. Este, patenteado pela firma
alemã Grünzweig & Hartmann e, quase em simultâneo,
fabricado também nos Estados Unidos pela Armstrong
Cork Company, será responsável pela diversificação dos produtos de cortiça –
agora utilizada também em aplicações como isolante e de revestimento na
construção civil -, pela mecanização da transformação de cortiça e,
consequentemente, pelo aparecimento de novas grandes corticeiras e do aumento investimento
externo em Portugal neste sector.
Os primeiros países que produziram o
aglomerado (França, Estados Unidos, Alemanha) detinham um potencial industrial
e tecnológico muito superior ao português. No entanto, não dispondo da
matéria-prima eram obrigados à sua importação, ao que se somavam os custos
indissociáveis do comércio internacional, isto é, os custos com o transporte e
as respectivas tarifas aduaneiras. Assim, algumas multinacionais optaram por se
fixar em Portugal como é o caso da Mundet,
cuja principal unidade em território nacional foi inaugurada em 1906 no Seixal.
A produção no início do século XX
continua a crescer com base na mesma estrutura de sempre, onde predomina a
preparação de cortiça e o fabrico de rolhas. Porém, com a Grande Guerra
(1914-18), a indústria corticeira nacional atravessa uma grande crise devido,
por um lado, ao afrouxamento natural do comércio internacional e, por outro,
pelo facto que entre os principais beligerantes se encontravam também os
maiores importadores de cortiça a nível mundial. Terminado o conflito, Portugal
conheceu um período de inflação galopante acompanhado de uma forte
desvalorização da moeda o que, de certa forma, amorteceu o aumento de custos
provocado pelo crescimento desmesurado dos preços. Ou seja, os corticeiros
lusos estiveram em condições competitivas razoáveis e, mal a procura
internacional regressou em larga escala, puderam efectuar transacções rentáveis.
Foi precisamente esta última
situação que ocorreu durante a década de 1920, quando a procura mundial de
aglomerados cresceu de uma forma significativa. É neste período, por exemplo,
que a Mundet abre uma segunda fábrica
dedicada somente a este produto no Montijo.
Esta época caracterizou-se ainda por
alguma deslocalização geográfica da indústria corticeira em direcção aos grandes
portos atlânticos como a região de Lisboa (Tejo), Setúbal (Sado) ou Porto
(Douro). Tal deveu-se ao desenvolvimento da rede de transportes, permitindo que
deixasse de ser essencial que as principais fábricas se situassem junto da
região produtora. Ainda assim, no distrito de Portalegre, subsistiram algumas
corticeiras com o já inevitável destaque para a Robinson de Portalegre, o único empreendimento de grande dimensão
do distrito.
Indústria de cortiça no distrito de Portalegre em 1923
Concelho | Nº Empresas | Nº Trabalhadores |
Ponte de Sor | 1 | 24 |
Portalegre | 1 | 600 |
Sousel | 1 | 1 |
Total | 3 | 625 |
Muito interessante! Um bom contributo para a afirmação da importância histórica que esta magnífica matéria-prima tem na economia portuguesa!
ResponderEliminarJorge Maroco Alberto
Jorge,
ResponderEliminarA cortiça deve ser dos poucos produtos em que Portugal dispõe de uma vantagem absoluta no mercado mundial, devido a sermos o território onde ela cresce naturalmente quer em quantidade, como em qualidade. Assim, temos que valorizar este produto em todos os seus aspectos.
Um abraço