quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ainda a Presidência da República


Recentemente prestei provas num "procedimento concursal" destinado a preencher um lugar na Biblioteca da Presidência da República. Como quase todos, este concurso decorreu com alguns episódios pouco claros. Para já fica a reclamação que fiz, mas neste fim-de-semana prometo opinar sobre o método com que os concursos na Administração Pública são realizados, dando 4 ou 5 exemplos concretos que tenho bem documentados.


Secção Recursos Humanos recursos_humanos@presidencia.pt
6 Jan
para mim
Bom dia,

Durante a prova de conhecimento não há consulta de legislação.
Com os melhores cumprimentos.
A Secção de Recursos Humanos




"Exmo(a) Sr(a),


Após ter realizado a prova escrita de conhecimentos referente ao Aviso nº 21531/2011, de 31 de Outubro - Refª. B, tive oportunidade de verificar que me transmitiu uma informação errada em relação à possibilidade de consulta de legislação. De acordo com o que foi dito por um dos elementos presentes durante a realização da prova era permitido o acesso à legislação, desde que esta não fosse anotada. De facto só assim se tornaria minimamente razoável a resposta a duas questões onde era necessário saber o número e data de publicação de uma Lei. Na sala onde prestei provas, mais ninguém tinha consigo qualquer legislação pois receberam a mesma informação que eu, ou assim o alegaram, embora de forma telefónica. Contudo, numa outra sala, pelo menos um candidato encontrava-se munido da respectiva legislação. Não sei se o fez de forma propositada ou apenas por manifesta incompetência, o que sei é que a Presidência da República é a mais alta magistratura da Nação e não deve ter associada a si processos pouco claros.

Posto isto tenho a informar-lhe que não me considero com o perfil ideal para o lugar a que concorri e, devido única e exclusivamente a esse facto, não intentarei qualquer acção judicial ou administrativa contra esse facto, apenas queria demonstrar o meu desagrado. 

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Manuel Faísca"

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Um triste (re)encontro de amigos


Na passada sexta-feira dois amigos de longa data, por sinal um "casal" de irmãos, abriram um pequeno bar na Marina Sul da Expo. Creio que foi a solução que ambos encontraram para combater a situação de desemprego em que actualmente se encontravam. Tendo estado afastado de Lisboa há cerca de um ano e meio, esta inauguração revelou-se a oportunidade ideal para reencontrar velhos amigos e conhecidos que, de certa forma, cresceram comigo e, consequentemente, cujo percurso acompanhei.

Ainda que tenha apreciado bastante a companhia de todos, que ache o local bastante agradável e que, provavelmente, serei um cliente frequente, fiquei um pouco triste por saber das dificuldades porque muitos agora passam. Para além dos donos fiquei a saber do GC que está há dois anos desempregado, e nas suas próprias palavras já tentou de tudo, tendo ido a entrevistas de todas as maneiras e feitios - com barba, sem barba, bem vestido, mal vestido, só lhe falta ir nu; o PL, recém-casado, cujo contrato está a terminar e vê como solução a emigração para Bruxelas deixando em Lisboa a esposa; o FP também um desempregado de longa duração e que aos 47 anos já lhe restam poucas hipóteses de o deixar de o ser; e, por último, posso falar do meu caso, que sempre me vou safando, umas vezes melhor, outras pior, todavia, sempre sem quaisquer direitos daqueles que alegadamente foram "adquiridos" como, por exemplo, subsídio de férias, de desemprego ou qualquer tipo de assistência na doença. 

Infelizmente podia dar muitos mais exemplos mas fico-me por estes.

Fizeram tão mal ao país e, sobretudo, aos seus filhos mais jovens. Que iremos nós fazer perante tudo isto?

P.S. - Penso que pelo menos os proprietários deste espaço vão ter sucesso. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

É por isto que, em regra geral, não gosto deles.

Anuncia o Público que o presidente do Sindicato Independente dos Médicos afirmou nesta quarta-feira que há cada vez mais médicos a sobreviverem graças à solidariedade dos colegas, nomeadamente através da Ordem dos Médicos. Em entrevista à Lusa, Carlos Arroz lamentou este aumento de pedidos de ajuda de clínicos que, ao atingirem a idade da reforma, se deparam com dificuldades financeiras e precisam mesmo de apoio.

Depois destas palavras tão revoltante ocorrem-me tantos insultos que me remeto ao silêncio. Espero que este senhor e/ou o Bastonário da Ordem dos Médicos nunca se cruzem comigo na rua, o saldo será uma confortável estadia junto dos seus solidários colegas. 



domingo, 15 de janeiro de 2012

O “ouro português”: a evolução do negócio corticeiro em Portugal


(Parte 4: O triunfo português e a nova geografia industrial corticeira (1929-1960))

Nos trinta anos que vão desde o início da Grande Depressão (1929) até 1960, três profundas alterações ocorrem no negócio da cortiça. Em primeiro lugar, deve-se assinalar o progressivo abandono desta actividade por parte dos países não produtores de matéria-prima; em segundo lugar, a quebra da actividade corticeira em Espanha; e, por último, o crescimento desta indústria em Portugal, tornando o país luso o líder mundial não só na extracção de cortiça, bem como na sua transformação, alterando a estrutura da indústria nacional que até então se dedicava mais à exportação de produtos em bruto ou semitransformados.
Durante os anos 1930, a descoberta de produtos sintéticos que substituíram as aplicações de cortiça ao nível do isolamento e revestimento afectaram a produção de aglomerados. Estes eram a principal actividade da indústria corticeira nos países desenvolvidos e uma boa parte da espanhola, enquanto Portugal tinha mantido até então um forte pendor na produção de rolha o que ajuda a explicar, mas apenas em parte, algumas destas mutações. No entanto, o problema é muito mais complexo, especialmente, na inversão dos papéis dos dois países ibéricos. 
Durante o período considerado Espanha conheceu algumas graves crises conjunturais e, sobretudo, alterações estruturais responsáveis pela agonia das corticeiras espanholas. A primeira das crises conjunturais foi, desde logo, a Grande Depressão que, tal como no período da Grande Guerra, causou uma quebra do comércio internacional e a adopção de medidas proteccionistas nos principais mercados consumidores de cortiça (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Rússia). Neste cenário as exportações espanholas foram mais prejudicadas, já que as exportações portuguesas de cortiça em bruto ou semitransformada eram menos penalizadas nas diversas pautas aduaneiras. Todavia, pode-se afirmar que a Grande Depressão afectou os dois países, embora com proporções diferentes, o que já não acontecerá durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39).
Será durante a Guerra Civil espanhola que, pela primeira vez, Portugal se tornará o principal país corticeiro do globo. Para além dos efeitos naturais deste duro conflito bélico, existiu uma separação, durante os três anos da guerra, entre a zona de transformação de cortiça situada na Catalunha e dominada pelo lado Republicano, e a área de produção situada na Extremadura e Andaluzia e controlada pelos Franquistas. Perante a impossibilidade de fornecer a indústria catalã, os produtores extremenhos e andaluzes viraram-se para a indústria lusa, através de um comércio ilegal de contrabando com foco na fronteira Cedillo-Montalvão, frequentemente com a conivência das autoridades portuguesas.
A indústria portuguesa aproveitou este período conturbado da História de Espanha para conquistar diversos mercados à custa dos seus rivais espanhóis. Após o final do conflito era de esperar um certo incremento das exportações espanholas, porém, o hiato entre as exportações lusas e espanholas não parou de aumentar. Para explicar esta situação é necessário compreender as alterações estruturais do negócio corticeiro nos dois lados da fronteira que, sem qualquer dúvida, favoreceram os portugueses. Vários foram os factores responsáveis por esta situação sendo difícil hierarquizá-los. Sumariamente pode-se enumerar a actuação coerente da entidade reguladora do sector, a Junta Nacional de Cortiça, por comparação com a confusão institucional do lado espanhol; a maior abertura da economia portuguesa ao exterior por oposição à rígida autarcia franquista que permitiu, por um lado, a importação de alguns materiais essenciais para a indústria corticeira e cuja relação qualidade/preço em muito superaram os seus congéneres de origem espanhola à disposição da indústria daquele país e, por outro, possibilitou aumentar a oferta de matéria-prima quando a produção do mercado interno português deixou de ser suficiente para abastecer a enorme indústria que entretanto se criara; a política aduaneira lusa, que favoreceu as exportações de cortiça transformada em detrimento das exportações de cortiça em bruto, quando em Espanha o lobby dos produtores florestais conseguiu o contrário; e, por último, o custo mais reduzido da mão-de-obra portuguesa, num sector que necessita de mão-de-obra intensiva e onde esta representa entre 13% a 27% dos custos finais, consoante a época.
Nos “anos de ouro” da cortiça em Portugal ocorreram também importantes mudanças a nível interno. Assim, existiu uma forte deslocalização das corticeiras em direcção à região Norte, concretamente ao distrito de Aveiro e, sobretudo, em torno de Santa Maria da Feira. Embora outras regiões tenham conhecido algum crescimento como, por exemplo, são os casos do Algarve e Setúbal, nenhuma experienciou um aumento tão espectacular como a referida região. No Inquérito Industrial de 1957-59 existiam, no Distrito de Aveiro, cerca de 4500 trabalhadores ligados ao ramo corticeiro (22% do total nacional) distribuídos por várias centenas de empresas especializadas no fabrico de rolhas (44% da produção nacional de rolhas e apenas 5% de outros produtos manufacturados).
Embora Santa Maria da Feira não se situe especialmente perto da região produtora, reuniu um conjunto de factores a seu favor: uma boa rede de transportes terrestres e marítimos; uma tradição industrial que vinha desde finais do século XVIII; a disponibilidade imediata de mão-de-obra devido ao seu recente crescimento demográfico; a acção de uma grande empresa, a Amorim&Irmãos, hoje líder mundial do sector; e, finalmente, o factor mais decisivo, a existência de salários mais baixos, facto institucionalizado oficialmente pelo governo em 1941, através da publicação legal do regime salarial do sector corticeiro. Já referimos a importância do custo da mão-de-obra na estrutura de custos destas indústrias, ora em seguida reproduzimos a respectiva tabela salarial.
No caso norte-alentejano, para além da Robinson e de uma filial da Mundet, sem administração autónoma, inaugurada em Ponte de Sor em 1927, o sector corticeiro pautava-se pela existência de pequenas fábricas que operavam, na maioria dos casos, como intermediários numa cadeia comercial mais vasta dominada pelos grandes operadores internacionais. A sua actividade estendia-se da compra de cortiça à venda de produtos que constituíam matéria-prima para a indústria que se encontrava em rápida transformação – prancha, apara e os quadros. Novamente a realidade alentejana reflectiu o panorama nacional, ou seja, a criação de novos empreendimentos teve um pico durante os anos 1940 para de seguida, a partir do final dos anos 1950, se acentuar a caducidade das licenças industriais, acelerando-se este movimento na década de 1960. Desta forma, muitas pequenas indústrias encerraram ou deslocalizaram-se para outros centros corticeiros mais importantes como a Margem Sul e, sobretudo, em direcção ao distrito de Aveiro e a Santa Maria da Feira.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A motivação do Homem por Adam Smith


Adam Smith (1723-1790) foi um filósofo e economista escocês numa época onde tal ainda era possível. Tive o prazer de ler as duas obras mais conhecidas deste autor; na totalidade, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations; e, de forma parcial, The Theory of Moral Sentiments.

Wealth of Nations é considerado o primeiro trabalho de economia e, devido sobretudo a esta obra, Smith é encarado como o fundador da ciência económica. No entanto, publicada numa época onde o conhecimento científico ainda era relativamente reduzido, permitindo que um grande pensador pudesse dominar várias áreas em simultâneo, e imbuída pelo espírito iluminista, Wealth of Nations possui algumas reflexões de carácter quase filosófico.

Hoje trago-vos uma sobre a natureza humana que tive que a transcrever mal a li, pois acho-a genial. Na minha opinião, o que estão prestes a ler resume grande parte daquilo que somos, mas deixo à vossa consideração outras possíveis opiniões. Leiam, vale mesmo a pena.

“ (…) O cachorro afaga a mãe, o pequeno cão de estimação procura de mil formas atrair a atenção do dono, que está a jantar, quando quer que ele lhe dê comida. O homem usa, por vezes, dos mesmos artifícios dos com os seus congéneres e, quando não tem outra maneira de os levar a agir de acordo com os seus desejos, procura, por meio do servilismo e da adulação, obter a sua boa vontade. Não tem, contudo, tempo para fazer isto a cada momento. Numa sociedade civilizada ele necessita constantemente da ajuda e cooperação de uma imensidade de pessoas, e a sua vida mal chega para lhe permitir conquistar a amizade de um pequeno número. Em quase todas as outras espécies animais, cada indivíduo, ao atingir a maturidade, é inteiramente independente e, no seu estado normal, não necessita de ajuda de qualquer outro ser vivente. Mas o homem necessita quase constantemente do auxílio dos seus congéneres e seria vão esperar obtê-lo somente da sua bondade. Terá maior probabilidade de alcançar o que deseja se conseguir interessar o egoísmo deles a seu favor e convencê-los de que terão vantagens em fazer aquilo que ele deles pretende. Quem quer que propõe a outro um acordo de qualquer espécie, propõe-se conseguir isso. Dá-me isso, que eu quero, e terás isso, que tu queres, é o significado de todas as propostas desse género; e é por esta forma que obtemos uns dos outros a grande maioria dos favores e serviços que necessitamos. Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração que eles têm do seu próprio interesse. Apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles. (…) ” 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Avaliação dos nossos professores


Este meu comentário de hoje vem no seguimento de uma discussão que surgiu no seio de um grupo onde estavam presentes várias professoras. Durante todos os meus anos como aluno tive, na generalidade, bons professores. Isto aplica-se desde o 1º ano até ao Mestrado. Claro, existiram excepções, recordo-me de uma odiosa professora de Geometria Descritiva da extinta Escola Vitorino Nemésio e de uma professora de Francês que pouco me ensinou, embora isso também se deva ao mau comportamento da minha turma na aula dela (e já agora meu também). Também me recordo de vários excelentes exemplos como o professor de Inglês do 9º ano na Escola Gaspar Correia, a professora de Português e a de Química do 12º ano ambas da Vitorino Nemésio ou, por último, o Professor de Filosofia do 11º ano da Herculano de Carvalho.

Assim, lanço uma pequena sondagem sobre a qualidade dos professores que foram encontrado ao longo da vida e, caso o queiram, podem sempre utilizar a caixa de comentários para justificarem as vossas opções.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Que soluções adoptam os mais jovens para sobreviver?

Quero iniciar um ciclo de entrevistas e de exposição de casos pessoais de jovens portugueses no que diz respeito às suas actividades profissionais. Numa altura em que o desemprego e o subemprego entre os jovens é seguramente superior a 40%, pretendo divulgar as mais diversas estórias, das mais bem sucedidas às mais trágicas, dos que emigraram e dos que se recusam a emigrar, daqueles que estudaram "ciências sociais" e de engenheiros, dos que não estudaram e etc.

Caso algum de vós queira expor a vossa estória pessoal de forma pública ou anónima basta contactarem-me.

P.S. - Sim, tal como fazem os ingleses, faço a distinção entre História, um ramo do saber que estuda o passado humano, e estória, uma sequência de eventos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O mais importante de uma organização: os seus recursos humanos



Existe uma Biblioteca de Ensino Superior cujo o número de colaboradores com formação superior em Ciências da Informação é zero. Era assim para quando lá entrei num estágio profissional, assim ficou quando o meu estágio terminou e, consequentemente, de lá saí.

A falta de aposta em profissionais devidamente formados tem um preço e, infelizmente, nesta será bem alto caso nada seja feito com urgência. A referida Biblioteca reúne, desde o ano 2000 em formato exclusivamente digital e em suporte de CD, todos os trabalhos académicos produzidos pela instituição. Contudo, não existe qualquer estratégia de preservação digital devido, numa primeira fase, à natural falta de sensibilização para a questão por parte dos seus colaboradores e, após ter existido um alerta continuado para este facto, à falta de meios ou à desvalorização do papel da Biblioteca por parte da direcção. Sinceramente é difícil compreender qual, embora a deslocalização da reprografia para o espaço interno da Biblioteca coloque mais ênfase na segunda opção.

Actualmente alguns dos trabalhos mais antigos já tinham sido perdidos devido à deterioração do material de suporte físico, algo que se irá acentuar rapidamente nos próximos anos. Porém, o problema extravasa o mero problema do suporte, já que todos os objectos digitais carregam consigo um problema estrutural que coloca em causa a sua preservação a longo prazo: a rápida obsolescência a que a tecnologia de leitura, armazenamento e recuperação digital se encontra geralmente sujeita. A obsolescência tecnológica pode então manifestar-se de duas formas, por um lado, ao nível de suportes físicos como foram os casos das cassetes VHS ou das disquetes e, por outro, ao nível do próprio software pois também estes sofrem evoluções constantes como, por exemplo, o MS-DOS ou o Windows 98.

A falta de investimento em pessoal qualificado é uma das causas desta situação o que é, na minha opinião, ainda mais escandaloso quando estamos perante uma instituição de Ensino Superior.Num futuro não muito distante, devido provavelmente à incúria humana, esta instituição perderá parte importante do seu património académico devido à falta de uma estratégia de preservação digital, o que não deixa de ser curioso quando lá se leccionam cursos de Eng. Informática. Talvez então seja dada à Biblioteca a mesma importância que ao Laboratório de Química ou ao de Design, embora tarde demais. 


  

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O ódio irracional contra os ricos


Caros leitores hoje tinha planeado avaliar o sector cultural do concelho de Ponte de Sor. Contudo, tenho que fazer uma pequena pausa para dar a minha opinião sobre a deslocalização da Jerónimo Martins para a Holanda.

O Estado português pessimamente gerido aumentou, somente no século XXI, a carga fiscal em cerca de 37%! Ou seja, em média um contribuinte que no ano 2000 pagava 1000 euros anuais de impostos, hoje paga, produzindo o mesmo, 1370 euros. 

Perante esta situação a oposição toda critica a excessiva carga fiscal, considerando-a como um factor de perda de competitividade da economia portuguesa, têm razão. Porém, os que conseguem chegar aos lugares executivos das primeiras medidas que tomam é precisamente o aumento dos impostos. Foi assim com Pedro Passos Coelho, foi assim com José Pinto de Sousa, foi assim com Durão Barroso e foi assim com Guterres. 

Portanto, na minha opinião, acho que esta deslocalização só peca por tardia, até porque Soares dos Santos vinha pedindo há vários anos para não aumentarem mais os impostos sob o risco de acontecer isto mesmo. 

Isto é a explicação lógica de uma acção legal que foi tomada. Agora vejamos o ponto de vista moral que parece ter ofendido alguns super-portugueses patriotas que não discutem a Nação. 

De facto é prejudicial para portugal e, por extensão, para os portugueses esta deslocalização mesmo que a maioria dos impostos do grupo JM continue a ser paga em Portugal. Admito então a vossa indignação caso sejam coerentes com esta postura ultra-patriótica.

Assim, pessoas que abastecem os seus veículos em bombas de gasolina espanholas junto à fronteira portuguesa fugindo, desta forma, aos impostos nacionais; que compactuam com fuga aos impostos não pedindo a respectiva factura sempre que levam o seu animal ao veterinário ou contratam um pedreiro para uma obra em suas casas; os próprios profissionais liberais que não passam o respectivo recibo; aqueles que estão sempre à espera de uma cunha, para si ou para os seus, do Presidente da Câmara ou do Assessor do Ministro, mas que ficam indignados quando esta vai para o vizinho do lado; portugueses que passam a vida enfiados na loja do chinês contribuindo para um negócio que, por um lado, está isento de impostos e, por outro, é competitivo devido ao recurso a trabalho escravo, lamento mas têm que estar CALADOS!

Num país em que a economia paralela é cerca de 20% do PIB, e em que quando descobrimos que alguém foge aos impostos em vez de o denunciarmos perguntamos como é que se faz, é preciso ter muita LATA para se criticar o empresário Soares dos Santos.

Na realidade o que vocês têm é um ódio irracional aos ricos semelhante tendo, por isso, uma postura muito semelhante à do Bloco de Esquerda. No lugar dele fariam exactamente o mesmo (eu já o tinha feito há mais tempo). Meus amigos, algumas das coisas que descrevi são ilegais, o que ele fez não!

Quem nunca cometeu nenhum dos "pecados" que descri que lance à vontade a primeira pedra, os outros por favor calem-se que falsos moralismos só vos fica mal.

A Bem da Nação!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O “ouro português”: a evolução do negócio corticeiro em Portugal


(Parte 3: As primeiras décadas do século XX (1900-1929)

                Os primeiros anos do século XX trazem uma novidade técnica que revolucionou a indústria da cortiça, a descoberta do aglomerado de cortiça. Este, patenteado pela firma alemã Grünzweig & Hartmann e, quase em simultâneo, fabricado também nos Estados Unidos pela Armstrong Cork Company, será responsável pela diversificação dos produtos de cortiça – agora utilizada também em aplicações como isolante e de revestimento na construção civil -, pela mecanização da transformação de cortiça e, consequentemente, pelo aparecimento de novas grandes corticeiras e do aumento investimento externo em Portugal neste sector.

            Os primeiros países que produziram o aglomerado (França, Estados Unidos, Alemanha) detinham um potencial industrial e tecnológico muito superior ao português. No entanto, não dispondo da matéria-prima eram obrigados à sua importação, ao que se somavam os custos indissociáveis do comércio internacional, isto é, os custos com o transporte e as respectivas tarifas aduaneiras. Assim, algumas multinacionais optaram por se fixar em Portugal como é o caso da Mundet, cuja principal unidade em território nacional foi inaugurada em 1906 no Seixal.

            A produção no início do século XX continua a crescer com base na mesma estrutura de sempre, onde predomina a preparação de cortiça e o fabrico de rolhas. Porém, com a Grande Guerra (1914-18), a indústria corticeira nacional atravessa uma grande crise devido, por um lado, ao afrouxamento natural do comércio internacional e, por outro, pelo facto que entre os principais beligerantes se encontravam também os maiores importadores de cortiça a nível mundial. Terminado o conflito, Portugal conheceu um período de inflação galopante acompanhado de uma forte desvalorização da moeda o que, de certa forma, amorteceu o aumento de custos provocado pelo crescimento desmesurado dos preços. Ou seja, os corticeiros lusos estiveram em condições competitivas razoáveis e, mal a procura internacional regressou em larga escala, puderam efectuar transacções rentáveis.

            Foi precisamente esta última situação que ocorreu durante a década de 1920, quando a procura mundial de aglomerados cresceu de uma forma significativa. É neste período, por exemplo, que a Mundet abre uma segunda fábrica dedicada somente a este produto no Montijo.

            Esta época caracterizou-se ainda por alguma deslocalização geográfica da indústria corticeira em direcção aos grandes portos atlânticos como a região de Lisboa (Tejo), Setúbal (Sado) ou Porto (Douro). Tal deveu-se ao desenvolvimento da rede de transportes, permitindo que deixasse de ser essencial que as principais fábricas se situassem junto da região produtora. Ainda assim, no distrito de Portalegre, subsistiram algumas corticeiras com o já inevitável destaque para a Robinson de Portalegre, o único empreendimento de grande dimensão do distrito.

Indústria de cortiça no distrito de Portalegre em 1923

Concelho Nº Empresas Nº Trabalhadores
Ponte de Sor 1 24
Portalegre 1 600
Sousel 1 1
Total 3 625