Não há. Ou melhor, claro que existe, mas é bastante recente, em termos quantitativos, do que à partida se poderia esperar, pois, na realidade, o Alentejo era, até sensivelmente os anos 1980, uma região com pouca produção de vinho. Este facto já se fazia sentir em meados do século XIX, conforme se pode verificar na Figura 1.
Figura 1 - Produção distrital de vinho (1882-1885)
Fonte: http://www.ruralportugal.ics.ul.pt/ (em breve disponível nas bases de dados)
Contudo, setenta anos mais tarde, como é visível na Figura 2, o panorama afigurava-se praticamente inalterado, com a produção vinícola alentejana a se pautar por um carácter ainda mais residual no contexto nacional do que no final da centúria de Oitocentos.
Figura 2 - Produção distrital de vinho (1950-1954)
Fonte: Estatísticas Agrícolas (INE)
De facto, a agricultura portuguesa sofreu muitas alterações nas últimas décadas, muito para além da sua conhecida quebra no conjunto da atividade económica nacional. Foram vencidos alguns constrangimentos ecológicos, muito por força dos trabalhos de hidráulica agrícola, assim como a política económica para o setor alterou-se radicalmente à medida que a «lavoura», entre outros factores, se industrializou trazendo boas - especialização, aumento produtivo - e más consequências - perda de biodiversidade.
Este tipo de questões só podem ser compreendidas à luz de uma visão de longa duração que, esperançosamente, o projeto Agriculture in Portugal: Food, Development and Sustainability (1870-2010) irá conceder.
Quanto ao caso do vinho alentejano, certamente há quem saiba os motivos da ausência tardia. Recordo-me de alguém me falar na proibição da plantação de vinhas no Alentejo, mas sinceramente ainda não sei responder com precisão. Se algum dos leitores souber, por favor deixe o seu contributo na caixa de comentários.
Publiquei:
ResponderEliminarhttp://historiamaximus.blogspot.pt/2013/07/a-origem-historica-do-vinho-alentejano.html
Nota: Os links que inseriu no texto não funcionam.
Obrigado João. E sabe adiantar mais alguma coisa sobre o assunto?
ResponderEliminarUm abraço,
Carlos.
Caro Carlos Faísca,
EliminarPenso que o principal motivo que levou à ausência de produção de vinho no Alentejo em grande escala foi o facto de durante muito tempo se ter pretendido transformar o Alentejo no "celeiro de Portugal". Ou seja, como Portugal já tinha outras regiões adequadas para a produção de vinho e produzíamos vinho em quantidade abundante, pretendeu-se dar prioridade à produção de cereais no Alentejo. Talvez, neste caso, não tivesse sido má ideia o Alentejo tentar investir na produção de cerveja de origem denominada...
O problema é que Portugal não tem condições edafo-climáticas adequadas à produção de cereais. Daí que a política de tentar transformar o Alentejo no "celeiro de Portugal" tenha sido um erro crasso, apesar de ter lógica do ponto de vista da busca nacional pela auto-suficiência alimentar.
Abraço,
JJHN
João,
EliminarSim, essa deverá ser, provavelmente, o principal motivo. Aliás, apoiaram-se os cereais, com leis protecionistas (como a lei da fome de Elvino de Brito), nos quais Portugal não detém qualquer vantagem, em detrimento, por exemplo, do montado de sobro e da cortiça, onde temos uma vantagem absoluta no comércio internacional.
Teria sido mais eficaz, em princípio, trocar cortiça transformada pelos cereais que não poderíamos produzir.
Já coloquei o seu blog nos links ali ao lado ---->
Um abraço,
Carlos.