No mês de setembro, a mostra "Documentos do mês", patente no Centro de Artes e Cultura, articula-se
com a iniciativa integrada na comemoração das Jornadas Europeias
do Património, que consistirá numa conferência
intitulada “Arquitetura civil oitocentista no concelho de Ponte de Sor: as
Casas das Famílias Goes e Braga”, a realizar no CAC, no
dia 21 de setembro, pelas 16h30. A Casa da Família Goes, situada na Rua Vaz
Monteiro, em Ponte de Sor, foi construída no final do século XIX no preciso
local onde até então existia um prédio, que Primo Pedro de Andrade apelida de
«Solar», pertencente aos Menezes, detentores do Morgado de São Francisco de Ponte de Sor.
Morgado ou morgadio consistiu numa forma
institucional e jurídica de defesa da base económica territorial da nobreza,
pois de acordo com este sistema, que se desenvolveu em Portugal a partir do
século XIII e só foi extinto em 1863, os domínios senhoriais eram inalienáveis,
indivisíveis e insuscetíveis de partilha por morte do seu titular,
transmitindo-se nas mesmas condições ao descendente varão primogénito. A referência
mais antiga que até agora encontrámos ao Morgado de Ponte de Sor é o sumário de
uma escritura celebrada em 1504, integrado num inventário do cartório da «Caza de Menezes. Ponte do Sôr», que está conservado no
Arquivo Histórico Municipal (Doc. 1). O referido sumário documenta a compra de
uns casais em Sintra pertencentes ao Morgado de Ponte de Sor, sendo o comprador
Gonçalo Vaz de Azevedo, que foi Senhor desta vila e
Alcaide-Mor de Sintra, títulos adquiridos ao seu tio, Pedro Lopes de Azevedo
(Doc. 2). É possível que a ligação da família Menezes a Ponte de Sor se tenha
estabelecido através do casamento de Gonçalo de Azevedo com Leonor de Castro,
filha de Fernando de Menezes, o Roxo, o qual nasceu
cerca de 1430 e foi o 1.º Senhor do Louriçal,
senhorio que se autonomizou a partir do dos Menezes de Cantanhede. Gonçalo de
Azevedo e Leonor de Castro tiveram três filhos, dois homens e uma mulher, tendo
o primogénito morrido em Arzila e passando o senhorio de Ponte de Sor para o
filho segundo, Francisco de Azevedo e Lucena ou de Menezes. Este casou duas
vezes, mas não teve descendência, acabando o senhorio por transitar para um seu
sobrinho, filho da irmã, Isabel de Castro, e de António Correia Baharém,
fidalgo do século XVI que se distinguiu nas guerras do Oriente. Séculos mais
tarde, o último morgado de Ponte de Sor foi Manuel Maria de Menezes, o qual, como comprovam as
escrituras conservadas no Arquivo do Cartório Notarial de Ponte de Sor, começou
a vender as propriedades que aqui possuía em 1892 e se desfez da maioria dos
bens pertencentes ao Morgado de São Francisco de Ponte de Sor no ano de 1898.
Documento 1
1498 Junho 30, Lisboa – Carta de venda e doação feita por Pêro Lopes de Azevedo, Fidalgo da Casa
d’El Rei e Senhor de Ponte de Sor, e por sua mulher Dona Isabel de Miranda ao Doutor Gonçalo de Azevedo, Fidalgo da
Casa d’El Rei, Desembargador do Paço e sobrinho daqueles, da dita vila de Ponte de Sor, com todo o seu
termo, jurisdição cível e crime, alcaidaria e todos os direitos que nela
possuíam, bem como das casas que tinham na vila, com seus chãos e pombal, pela
quantia de 80.000 réis brancos da moeda então corrente, ficando como fiador, em
caso de morte do comprador sem que a dívida estivesse saldada, Dom Diego de
Castro, do Conselho d’El Rei, Alcaide-Mor do Sabugal e Senhor das terras de
Lanhoso, Cinfães, Santa Cruz. Testemunhas: Licenciado João
de Braga, Fernão Vieira, Escudeiro de Pêro Lopes, e Gonçalo Vaz, moradores em
Ponte de Sor. Tabelião: Silvestre Afonso, Escudeiro d’El Rei e seu Tabelião em
Lisboa. AHMPS. Proveniência: doação particular.
Documento 2
[S.d., s.l.] – Inventário
do cartório da «Caza de Menezes. Ponte
do Sôr». Data possivelmente do século XVIII e elenca um vasto conjunto de
documentos, distribuídos por três maços e numerados (no Maço I, 40 documentos;
no Maço II, 42; no Maço III, 57). Infelizmente, desconhecemos o paradeiro do cartório, restando-nos apenas os
sumários da documentação que o compunha. Trata-se de escrituras relacionadas
com a posse e a administração de direitos e de bens imóveis, lavradas entre os séculos XV e XVIII. AHMPS. Proveniência: doação particular.
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