quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Produção Florestal de Cortiça em Ponte de Sor e algumas novidades para 2013


Em Portugal, o negócio corticeiro conheceu o seu período mais florescente durante o século XX, especialmente entre as décadas de 1930 e 1960. Neste espaço de tempo, por um lado, registou-se o progressivo abandono desta actividade por parte dos países não produtores de matéria-prima (Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, etc.), e, por outro, ocorreu uma quebra da actividade corticeira em Espanha. Perante este cenário, a indústria corticeira portuguesa cresceu e tornou-se líder mundial do setor, alterando-se a estrutura da indústria corticeira nacional que até então se dedicava mais à exportação de produtos em bruto ou semitransformados.

Ao mesmo tempo, a oferta nacional de matéria-prima cresceu, de uma média de cerca de 130 mil toneladas anuais até uma média de cerca de 180 mil toneladas, procurando, desta forma, a exploração florestal acompanhar as necessidades industriais. 

No caso concreto de Ponte de Sor, o século XX parece corresponder também a uma crescente importância  da produção florestal de cortiça, em termos absolutos, mas sobretudo em termos relativos. Assim, a ponderação da produção corticeira do concelho cresceu bastante a nível distrital e nacional. Para o ilustrar deixo um pequeno exemplo. Ora, se Ponte de Sor, em 1905, já era o maior produtor de cortiça do distrito de Portalegre contando com 18,1% da sua produção total, em 1945, essa ponderação cresceu para 31,3%, enquanto em 1975 atingia já os 45,5%.

Distribuição da produção nacional de cortiça


Esta brevíssima apresentação a este tema, extremamente lacunar em termos de análise e de apresentação de dados mensuráveis, serve de introdução para anunciar um conjunto de atividades que pretendemos realizar durante este ano de 2013.

Uma delas é realização de encontros periódicos subordinados a temas atuais de interesse regional, nacional e internacional, analisados a partir de uma perspetiva histórica de longa duração que se estende até aos nossos dias. Para esse efeito, para além de nós próprios, contaremos com a presença de jovens doutorandos e doutorados das principais universidades e centros de investigação portugueses, onde se pode incluir, por já se encontrarem confirmados, a Universidade de Évora, a Universidade Nova de Lisboa e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.   

Os temas escolhidos serão o negócio corticeiro alentejano, que ficará a meu cargo e da Ana Isabel; a colonização interna e a desertificação do interior, cujo convidado está ainda por confirmar; as desigualdades sociais e de rendimento no Alto Alentejo do Antigo Regime, onde partilharei as responsabilidades com um colega da Universidade de Évora. Por último, abordar-se-à a emigração científica, um tema bastante atual, a partir do exemplo de um insigne historiador, natural de Galveias, que se tornou num conhecido nome da historiografia portuguesa dos anos 1960/70. Esta apresentação, em princípio, ficará a cargo de um seu descendente, com o qual tive a sorte de partilhar os bancos da Universidade Nova de Lisboa, onde atualmente ele desenvolve o seu projeto de pós-doutoramento.

Faltam, contudo, muitas questões de ordem prática, mas este é um projeto que me empenharei por cumprir, não obstante a minha crónica falta de tempo, visto que o seu sucesso me dará um grande prazer pessoal. Creio que à Ana Isabel também.

Assim, quando tivermos notícias mais específicas, caso ele se venha a concretizar, anunciaremos as datas e o que se pretende com estes encontros.

Finalmente, este blog irá em breve passar a dispor de uma pequena apresentação curricular dos seus autores, bem como a disponibilização de alguns trabalhos, respeitando sempre o Código de Direitos de Autor, que se encontrem on-line.

Para já é tudo, espero que sintam tentados a participar nas nossas atividades.

P.S. - Entretanto se quiserem ler algo mais sobre a exploração de cortiça, aqui ficam algumas referências bibliográficas:

Branco, Amélia. 2005. «O Impacto das florestas no Crescimento económico moderno durante o Estado Novo (1930-1974)». Tese de Doutoramento, Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa.

Fonseca, Helder Adegar. 1996. O Alentejo no século XIX : economia e atitudes económicas. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Guimarães, Paulo. 2006. Elites e indústria no Alentejo (1890-1960) : um estudo sobre o comportamento económico de grupos de elite em contexto regional no Portugal contemporâneo. Lisboa: Edições Colibri : Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora.

Parejo Moruno, Francisco. 2009. «El negocio de exportación corchera en España y Portugal durante el siglo XX: cambios e intervención pública». Tese de Doutoramento, Badajoz: Universidad de Extremadura.

Pereda García, Ignacio, e Euronatura. 2009. Junta Nacional da Cortiça (1936-1972). Euronatura 2. Lisboa: Euronatura.

Zapata Blanco, Santiago. 2002. «Del suro a la cortiça: el ascenso de Portugal a primera potencia corchera del mundo». Revista de historia industrial (22): 109–137.




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