É comum ouvir os jovens queixarem-se que, com esta crise e com as altas taxas de desemprego que penalizam justamente os mais novos, é quase impossível pensarem em ter filhos. Eu compreendo este discurso ou não estivesse eu numa situação de indefinição laboral a dias de ser pai.
Portugal é actualmente o terceiro pior país do mundo em termos de Taxa de Fertilidade (1,3 filhos por mulher), apenas superado nesta terrível competição pela Bósnia e por Malta. No entanto, a crise não pode ser responsabilizada por esta situação, mas antes o contrário. Ou seja, a falta de natalidade com todas as suas implicações está na origem de parte da actual crise económica.
O gráfico seguinte analisa a evolução do PIB (azul) e da Taxa de Fertilidade (castanho) em Portugal no período 1970-2005. Para uma melhor leitura reduzi as duas séries a números índice em que 1980=100.
Fonte: Pordata (dados), elaboração própria (gráfico).
Entre 1970 e 2005, os portugueses foram enriquecendo sucessivamente - com algumas quebras pontuais como 1976, 1984 ou 2003 -, mas tal facto não implicou um aumento da natalidade. Na realidade, o número de filhos por mulher tem vindo a cair ininterruptamente apesar de todos termos cada vez mais condições económicas para os criar.
Se o esclarecedor gráfico não convencer o leitor, fique sabendo que o Coeficiente de Correlação de Pearson* entre as duas séries é de -0,86, isto é, quanto maior a riqueza, menor a natalidade.
Perante esta realidade, só posso afirmar que somos vítimas de nós próprios, do nosso estilo de vida, da nossa mentalidade e, sobretudo, do nosso egoísmo! Se enriquecemos durante mais de 30 anos, porque é que deixámos de ter filhos? Para ir de férias a Cuba? Para ter um carro melhor? Para quê? Foi a vida profissional que se colocou no nosso caminho?
O problema é que agora começamos a pagar a factura da falta de renovação de gerações e, consequentemente, da população estar cada vez mais envelhecida: A segurança social tornou-se insustentável e caminha a passos largos para a falência; os gastos do Serviço Nacional de Saúde não param de aumentar; caso um dia a economia volte a crescer irá deparar-se com falta de mão-de-obra; falta de competitividade e de produtividade na economia; a mentalidade dominante será também mais retrógrada.
A prova do nosso egoísmo é que todos sabíamos disto mas preferimos ignorar, os sucessivos governos nunca se preocuparam a sério com o maior problema que teremos que lidar a longo prazo, todos assobiaram para o lado na certeza que a bomba iria rebentar nas mãos do próximo.
Ora os próximos somos nós e embora seja agora de facto mais difícil termos condições financeiras para ter filhos, ou eles nascem, ou Portugal inevitavelmente morrerá. Poder-vos-à parecer demasiado alarmista, mas é de facto a nossa sobrevivência como povo que está em causa.
Portanto façam o favor de ter filhos! É uma questão de emergência nacional e, para além disso, diz quem já os teve que é a melhor coisa do mundo. Daqui a uns dias espero poder confirmá-lo.
*O Coeficiente de Correlação de Pearson mede o grau de correlação entre duas variáveis. Este coeficiente assume valores entre -1 (significa uma correlação negativa perfeita, isto é, se uma aumenta, a outra diminui na mesma proporção) e 1 (ambas aumentam de forma igual). A partir de 0,7 considera-se que existe uma forte correlação entre as duas variáveis.
Creio que a paternidade se esta a apoderar de ti!LOL gostei do post de hoje, foi algo que ja eu próprio tinha pensado e claro penso que em breve tambem irei poder contribuir para o crescimento do nosso pais nesse sentido, no entanto, tal como a maioria da nossa geração penso tambem nas dificuldades acrescidas que é trazer uma criança a este mundo, não falo só das económicas mas se pensarmos bem que pais somos nos que metemos neste mundo tão podre e decadente mais uma criança?Que valores vai ela ter?Seremos nos capazes de lhe incutir todos aqueles valores que se estão a perder?Sou sincero tiro o meu chapéu a quem neste momento assume a capacidade de ser pai a 100% pois para mim a paternidade é algo que tem de ser assumida completamente e não a fachada que se vulgarmente vê agora, para mim não é só dar-lhe boas roupas, boas escolas, as ps3 e os telemoveis caros,eles são o nosso futuro e tem de o enfrentar bem mais preparados que nós, creio que a tal tão proclamada revolução tem de começar dentro das nossas casas, as nossas crianças estão a sofrer de uma crise de valores que acho gritantemente revoltante.
ResponderEliminarA ti que vais ser pai em breve sei que irás ao máximo conseguir incutir esses valores do rebento, mas e o resto de nós?
Tó eu não sou nenhum ser sobrenatural, nem tão-pouco um guardião da virtude humana. Tu ou qualquer outra pessoa desde que QUEIRA, pode ser um bom pai mesmo sem as possibilidades financeiras ideais. Tudo parte de nós, fico à espero de um primo (a) para o Duarte, mas cuidado quanto mais prima mais se lhe arrima (ou algo do género).
ResponderEliminarComo sempre o Sr. Faisca tem toda a razão
ResponderEliminarNão te estou a por em nenhum pedestal mas do pouco que te conheço, vejo que tens o que é necessário para pelo menos e claro em conjunto com a Ana incutirem a criança um conjunto bem grande de valores, ja o que a crinaça fara com eles varia e tem muitas condicionantes ou variaveis pelo meio, e quando falo em nós refiro-me ao resto da sociedade como é obvio, onde as crianças são cada vez mais negligenciadas há luz de uma vida dos pais cada vez mais preenchida e de precalços.
ResponderEliminarEm relação ao primo(a) para o Duarte vamos ver, mas seguramente será bem melhor que o pai isso sem dúvida :)
Concordo com tudo o que já foi dito no post e nos comentários; gostava apenas de acrescentar um aspecto e reforçar uma ideia. Penso que um dos factores que pode ter contribuído para a baixa da natalidade nas últimas décadas é o aumento da frequência do ensino superior, com o consequente adiamento da entrada no mercado de trabalho e da autonomização dos jovens em relação aos pais. E esta é uma questão particularmente sensível no universo feminino, que passou a valorizar em larga escala a formação académica e a carreira profissional. Algo absolutamente legítimo, mais, um direito incontestável numa sociedade que se quer igualitária. Naturalmente, a opção pela prioridade da formação e da carreira reflecte-se no atraso da idade em que se tem o primeiro filho e mesmo na redução do número de filhos por mulher. Mas há ainda casos em que a mulher decide dedicar-se exclusivamente à sua vida profissional e pessoal e opta por não ter filhos, considerando que a maternidade não é condição indispensável para a realização pessoal e social do género feminino, ao contrário do que nos foi incutido ao longo de séculos. É uma escolha pessoal, que tem de ser respeitada e não cabe a ninguém julgar. Não é a minha, pois encaro a possibilidade de ser mãe como um privilégio, um privilégio do género feminino, que ultrapassa a questão da igualdade entre homens e mulheres e do qual não abdicaria. Tal não significa que restrinja a realização pessoal e social das mulheres à maternidade e que não considere as dificuldades em conciliá-la com a carreira académica e profissional. Quer dizer apenas que, na minha perspectiva, ser mãe, tal como ser pai, é uma vertente essencial da realização do ser humano. E isto não só a nível individual, mas também colectivo, pois implica deixar de lado o egoísmo, no que reforço a ideia do Carlos, e dar a parte mais importante de si ao outro (filho/a) e aos outros (sociedade).
ResponderEliminarAna Isabel Silva
Olá Carlos! Tenho a dizer-te que gostei deste post e realmente faz-nos pensar.
ResponderEliminarTambém concordo com o comentário da Ana Silva quando ela refere que "a opção pela prioridade da formação e da carreira" (no universo feminino, claro) "reflecte-se no atraso da idade em que se tem o primeiro filho e mesmo na redução do número de filhos por mulher". Quando olho à minha volta vejo mulheres com qualificação superior que só agora decidiram ser a "altura mais apropriada" para serem mães(sendo este termo subjectivo pois cada um sabe quais são as supostas condições que quer atingir até pensar ter filhos) e estamos a falar de mulheres com os seus 30 anos. Antes desta idade realmente não vejo nenhuma amiga, familiar ou conhecida a pensar nesta ideia. Existem muitos objectivos, uns mais plausíveis que outros, que nos fazem adiar este momento. Claro que depois existem por aí muitas moças sem eira nem beira que engravidam por ignorância e porque o dito rendimento de apoio está lá para as "sustentar", ups queria dizer "apoiar"... ;p
Por último resta-me dar-te os parabéns por estares a contribuir para a causa! Espero qualquer dia poder também eu fazer o mesmo aí com uns 4 ou 5 cachopos ;p
Ana,
ResponderEliminarNão concordo quando dizes " a mulher decide dedicar-se exclusivamente à sua vida profissional e pessoal e opta por não ter filhos, considerando que a maternidade não é condição indispensável para a realização pessoal e social do género feminino(...)"
Decide-o, tal como o homem o pode decidir, mas é uma decisão errada que a prejudica (ou a ele), assim como à sociedade onde vive e compromete o desenvolvimento humano. Evidentemente que ninguém deve ser obrigado a ter filhos, mas podia-se muito bem, como se fez no passado, promover quem os tem. Uma das coisas boas que os regimes totalitários tiveram foi exactamente um apoio Brutal à natalidade (embora com outros objectivos). No entanto, nenhum político do pós 25 do A se preocupou minimamente com isso e agora vamos enfrentar tempos muito mas muito duros.
Beta,
O que dizes é verdade, eu também estou à beira dos 30. Mas com a minha idade ainda vou perfeitamente a tempo de ter 2 filhos e manter a renovação de gerações ;)
Quanto ao RSI fica para outra discussão mais séria.
Carlos,
ResponderEliminarSó um pequeno esclarecimento: falei da decisão da mulher em não ter filhos, relacionando-a com a opção pela formação e pela carreira, porque me estava a referir concretamente à mudança que ocorreu no nosso país, em grande medida após o 25 de Abril, com o aumento exponencial da frequência feminina do ensino superior. Claro que o homem também pode decidir não ter filhos, mas nunca houve uma ligação tão intensa, ao nível do que a sociedade esperava dos indivíduos, entre a condição masculina e a paternidade como entre a condição feminina e a maternidade. E foi isso que mudou.
Quanto ao incentivo à natalidade por parte do Estado, concordo em absoluto que devia fazer-se; aliás, já devia ter vindo a ser feito há anos, como demonstram os dados que apresentaste. Mas o facto de não ter acontecido também se pode relacionar exactamente com o prurido em usar estratégias adoptadas pelos regimes totalitários do passado, com os quais se pretendia cortar a todos os níveis. Obviamente que não faz qualquer sentido recorrer hoje a instituções como a OMEN (Obra das Mães pela Educação Nacional) e às cerimónias de atribuição de prémios às famílias mais numerosas do país... Mas certamente é possível encontrar outras formas de sensibilizar para a importância da natalidade e de a apoiar.
Ana Isabel Silva
Ana,
ResponderEliminarUm dos grandes problemas deste regime é ter cortado totalmente com o passado. Cortou-se no mau, mas também se cortou no bom. Ou seja, passamos do 80 para o 8, quando era suposto ficar-se a meio caminho. Se o folclore propagandístico da OMEN não faz qualquer sentido, não me parece que atribuir-se prémios a famílias numerosas seja um anacronismo. Faz falta a promoção da natalidade "rapidamente e em força".