Cliometria é um termo que surgiu no início da década de 1960 (Tosh e Lang 2009, 273; Cardoso 2011, 494), no meio académico norte-americano, contando por isso com aproximadamente cinco décadas de existência. A este conceito está subjacente uma abordagem económica ao processo histórico, cujo ponto de partida é uma rigorosa especificação da hipótese de trabalho formulada a partir da teoria económica, à qual se segue uma exaustiva recolha de dados empíricos quantificáveis, tratados posteriormente através do recurso a métodos quantitativos de carácter econométrico (O’Brien 1977, 13; Cardoso 2011, 489–490). Procurou-se então introduzir na história económica métodos, conceitos e teorias derivados da economia, que, segundo os seus defensores, poderiam ultrapassar algumas das limitações dos métodos históricos tradicionais na análise das economias do passado (O’Brien 1977, 13). É muito provavelmente por este motivo que, desde o seu início, a cliometria foi também designada de «nova história económica» ou «história econométrica» (Fogel 1966; O’Brien 1977).
A entrada da cliometria no campo da história económica suscitou alguma controvérsia, tendo-se criticado o seu foco excessivamente económico que subalternizou demasiado a análise histórica em problemas que, situando-se no passado, são também objeto da história. Contudo, a abordagem cliométrica obteve um sucesso bastante significativo no seio da história económica, levando a que alguns autores tenham chegado a afirmar que esta substituiu por completo qualquer outro paradigma de investigação nesta área, tornando-se ela própria «a história económica» (Heckman 1997, 404). Ainda que nos Estados Unidos da América e, possivelmente, no espaço anglo-saxónico esta afirmação possa estar relativamente próxima da realidade, tal não será o caso da historiografia económica de determinados países europeus como, por exemplo, Espanha, França, Alemanha e Portugal (Cardoso 2011, 495–496). No entanto, mesmo nestes países, assim como no caso concreto da Península Ibérica, é atualmente comum a existência de investigação cliométrica, sendo uma das suas manifestações mais evidentes a realização periódica de encontros científicos especificamente sujeitos a esta abordagem – os Iberometrics.
O crescimento das publicações de carácter cliométrico não esteve certamente dissociado de algumas correções que esta abordagem foi implementando (Greif 1997) e, consequentemente, do decréscimo do ceticismo em relação à cliometria de um maior número de historiadores internacionais; todavia, a historiografia económica portuguesa mantém ainda, como certamente outros historiadores de outros países mantêm, algumas reservas face a esta abordagem (Cardoso 2011, 488). Neste sentido, já no início do século XXI, Fernando Rosas (Rosas 2000, 14–16) publicou, na introdução de uma das suas obras, um texto em que critica duramente a utilização desta «nova história económica», a qual já contava, à data dessa publicação, com cerca de quarenta anos de prática a nível internacional e cerca de vinte anos no seio da historiografia económica portuguesa (Cardoso 2011, 494).
Para mais leituras:
Cardoso, José Luís. 2011. «Entrevista a Jaime Reis». Análise Social 46 (200): 484–499.
Greif, Avner. 1997. «Cliometrics After 40 Years». The American Economic Review 87 (2) (Maio 1): 400–403. doi:10.2307/2950953.
Heckman, James J. 1997. «The Value of Quantitative Evidence on the Effect of the Past on the Present». The American Economic Review 87 (2) (Maio 1): 404–408. doi:10.2307/2950954.
O’Brien, Patrick. 1977. The new economic history of the railways. London: Croom Helm.
Sardica, José Miguel. 1993. «Recensão a Carlo Cipolla. (Recensão do livro «Entre la História Y La Economia - Introducción a la História Económica)». Penélope (9/10): 259–262.
Tortella, Gabriel. 2002. Introducción a la economía para historiadores. 3a ed. Madrid: Tecnos.
Tosh, John, e Sean Lang. 2009. The pursuit of history. Harlow: Longman.
Whaples, Robert. 1991. «A Quantitative History of the Journal of Economic History and the Cliometric Revolution». The Journal of Economic History 51 (2): 289–301.
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