Em Portugal, a
propriedade rural encontra-se historicamente dividida de uma forma bastante
desigual. Assim, enquanto no Norte impera a pequena e a muito pequena
propriedade, no Sul, por oposição, a larga maioria da superfície agrícola é
ocupada pela grande propriedade e pelo latifúndio. Ao longo dos séculos vários
fatores contribuíram para esta situação, desde logo a forma como se construiu o
espaço nacional a Sul do Tejo – a concessão de regimes vinculares às Ordens
Religiosas Militares –, passando por fatores de ordem ecológico-agrícola – a
menor produtividade da terra a Sul relacionada, entre outros motivos, com uma
crónica escassez de água –, a menor pressão populacional a Sul do Tejo, etc.
Figura 1 - Distribuição da propriedade em Portugal (1934)
Figura 1 - Distribuição da propriedade em Portugal (1934)
Figura 2 - Durante o Estado Novo, a Junta de Colonização Interna irá recuperar algumas destas ideias, mas pouca aplicação prática
Fora destas ideias mais radicais, a
verdade é que alguns proprietários promoveram, na viragem do século XIX para o
século XX, movimentos colonizadores nas suas terras, através do aforamento ou arrendamento a longo prazo de
glebas de baixa produtividade a famílias vindas de outras regiões. Assim, os
proprietários conseguiram fixar força de trabalho junto das suas explorações
agrícolas, que, devido à baixa qualidade das terras aforadas, teria que
trabalhar também em regime assalariado como forma de complementar o orçamento
familiar.
Muitos destes locais receberam topónimos de Foros e parece-me que poderá ter sido o caso de Foros
de Salgueira, mas, sobretudo, de Foros de Arrão já que a fundação da
localidade deve-se ao aforamento promovido por Pedro Aleixó Falcão, da Herdade
do Arrão no ano de 1912. Trata-se, sem dúvida, de um assunto que merece uma
investigação aprofundada para que a historiografia local possa finalmente
compreender todos os impactos das diferentes políticas de «colonização interna»
no nosso concelho, fossem estas de carácter público ou promovidas por privados,
sabendo-se que a última e principal consequência foi a construção da barragem
de Montargil.
* Repare-se no povoamento concentrado em torno de Rio Frio no caso de uma exploração direta da propriedade e do povoamento disperso da zona aforada. Esta característica ainda hoje se pode observar, por exemplo, em Foros de Arrão e em Foros de Almada (Coruche).
Figura 3 - Os Foros de José Maria dos Santos (Pinhal Novo) são um exemplo conhecido de «colonização espontânea»*
* Repare-se no povoamento concentrado em torno de Rio Frio no caso de uma exploração direta da propriedade e do povoamento disperso da zona aforada. Esta característica ainda hoje se pode observar, por exemplo, em Foros de Arrão e em Foros de Almada (Coruche).
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