segunda-feira, 23 de setembro de 2013

1º Visconde dos Olivais - Uma breve biografia

Aquele que viria a ser o primeiro Visconde dos Olivais, António Teófilo de Araújo, nasceu em Lisboa, a 5 de Março de 1804. Filho de um tesoureiro minhoto, o jovem António Araújo casou aos 19 anos, em 1823, com Maria Rosa de Araújo Veiga, natural de Macau, filha de um opulento capitalista, proprietário e filantropo Macaense.

Ainda relativamente jovem fez importantes investimentos no setor segurador, adquirindo ações da Companhia Confiança, em 1838, e, mais tarde, da Confiança Nacional, em 1845.

Em 1847, o futuro Visconde dos Olivais adquiriu 70 acções do Banco de Portugal, iniciando, desta forma, um longo percurso naquela instituição, na qual exerceu diversos cargos de administração. Assim, António Araújo foi membro do Conselho Fiscal (1854-78) e director do Banco de Portugal, no ano de 1862. Por outro lado, o Visconde era também um dos principais accionistas, chegando a possuir, nos anos 1870, cerca de 700 acções.

Com tamanha importância económico-financeira, não é de espantar a nobilitação como Visconde dos Olivais, com que o Rei D. Luís o agraciou por Decreto de 22 de Março de 1864.

Mas para além do Banco de Portugal, o agora Visconde dos Olivais foi o principal promotor da Companhia de Águas de Lisboa - com uma quota de 80 contos de réis -, esteve no grupo fundador da Companhia Geral de Edificações - empresa de construção civil -, e do Banco Lisboa e Açores, em 1875. Este Banco está na origem do atual Santader-Totta.  

A fortuna do banqueiro valeu-lhe ainda figurar, no censo eleitoral de 1872, como um dos 40 maiores contribuintes de Lisboa, enquanto, em 1877, passou a ter assento no Conselho Municipal, devido ao facto de se encontrar entre os 24 maiores proprietários da capital.

As ligações entre o poder económico e político não são de hoje, e o Visconde dos Olivais foi um membro ativo do Partido Histórico, sendo eleito sucessivamente deputado na Câmara dos Deputados, entre 1865 e 1874, primeiro pelo círculo de Póvoa do Lanhoso, terra de seu pai, e posteriormente pelo círculo de Lisboa.




A 16 de Julho de 1870 foi elevado, por carta Régia, a par do Reino. Pertenceu a diversas Comissões Parlamentares, entre as quais as de Agricultura (1865,66,68,1870-74), pelo que espero «encontrar-me com ele» nas minhas próximas pesquisas.

Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, o Visconde dos Olivais faleceu, na Lapa, a 4 de Agosto de 1879.

Sem descendência, o título passou para a sua sobrinha e principal herdeira, Clotilde Veiga de Araújo.

Uma última nota para a sua esposa que, seguindo o cariz filantrópico do seu próprio pai, fundou um importante asilo para crianças pobres, nos Olivais, ao qual legou 14 contos de réis.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Arquivo Histórico Municipal de Ponte de Sor | Documentos do mês | setembro 2013 | Os Menezes: morgados de Ponte de Sor (séculos XV-XIX)

No mês de setembro, a mostra "Documentos do mês", patente no Centro de Artes e Cultura, articula-se com a iniciativa integrada na comemoração das Jornadas Europeias do Património, que consistirá numa conferência intitulada “Arquitetura civil oitocentista no concelho de Ponte de Sor: as Casas das Famílias Goes e Braga”, a realizar no CAC, no dia 21 de setembro, pelas 16h30. A Casa da Família Goes, situada na Rua Vaz Monteiro, em Ponte de Sor, foi construída no final do século XIX no preciso local onde até então existia um prédio, que Primo Pedro de Andrade apelida de «Solar», pertencente aos Menezes, detentores do Morgado de São Francisco de Ponte de Sor.

Morgado ou morgadio consistiu numa forma institucional e jurídica de defesa da base económica territorial da nobreza, pois de acordo com este sistema, que se desenvolveu em Portugal a partir do século XIII e só foi extinto em 1863, os domínios senhoriais eram inalienáveis, indivisíveis e insuscetíveis de partilha por morte do seu titular, transmitindo-se nas mesmas condições ao descendente varão primogénito. A referência mais antiga que até agora encontrámos ao Morgado de Ponte de Sor é o sumário de uma escritura celebrada em 1504, integrado num inventário do cartório da «Caza de Menezes. Ponte do Sôr», que está conservado no Arquivo Histórico Municipal (Doc. 1). O referido sumário documenta a compra de uns casais em Sintra pertencentes ao Morgado de Ponte de Sor, sendo o comprador Gonçalo Vaz de Azevedo, que foi Senhor desta vila e Alcaide-Mor de Sintra, títulos adquiridos ao seu tio, Pedro Lopes de Azevedo (Doc. 2). É possível que a ligação da família Menezes a Ponte de Sor se tenha estabelecido através do casamento de Gonçalo de Azevedo com Leonor de Castro, filha de Fernando de Menezes, o Roxo, o qual nasceu cerca de 1430 e foi o 1.º Senhor do Louriçal, senhorio que se autonomizou a partir do dos Menezes de Cantanhede. Gonçalo de Azevedo e Leonor de Castro tiveram três filhos, dois homens e uma mulher, tendo o primogénito morrido em Arzila e passando o senhorio de Ponte de Sor para o filho segundo, Francisco de Azevedo e Lucena ou de Menezes. Este casou duas vezes, mas não teve descendência, acabando o senhorio por transitar para um seu sobrinho, filho da irmã, Isabel de Castro, e de António Correia Baharém, fidalgo do século XVI que se distinguiu nas guerras do Oriente. Séculos mais tarde, o último morgado de Ponte de Sor foi Manuel Maria de Menezes, o qual, como comprovam as escrituras conservadas no Arquivo do Cartório Notarial de Ponte de Sor, começou a vender as propriedades que aqui possuía em 1892 e se desfez da maioria dos bens pertencentes ao Morgado de São Francisco de Ponte de Sor no ano de 1898.

Documento 1
1498 Junho 30, Lisboa – Carta de venda e doação feita por Pêro Lopes de Azevedo, Fidalgo da Casa d’El Rei e Senhor de Ponte de Sor, e por sua mulher Dona Isabel de Miranda ao Doutor Gonçalo de Azevedo, Fidalgo da Casa d’El Rei, Desembargador do Paço e sobrinho daqueles, da dita vila de Ponte de Sor, com todo o seu termo, jurisdição cível e crime, alcaidaria e todos os direitos que nela possuíam, bem como das casas que tinham na vila, com seus chãos e pombal, pela quantia de 80.000 réis brancos da moeda então corrente, ficando como fiador, em caso de morte do comprador sem que a dívida estivesse saldada, Dom Diego de Castro, do Conselho d’El Rei, Alcaide-Mor do Sabugal e Senhor das terras de Lanhoso, Cinfães, Santa Cruz. Testemunhas: Licenciado João de Braga, Fernão Vieira, Escudeiro de Pêro Lopes, e Gonçalo Vaz, moradores em Ponte de Sor. Tabelião: Silvestre Afonso, Escudeiro d’El Rei e seu Tabelião em Lisboa. AHMPS. Proveniência: doação particular.

Documento 2
[S.d., s.l.] – Inventário do cartório da «Caza de Menezes. Ponte do Sôr». Data possivelmente do século XVIII e elenca um vasto conjunto de documentos, distribuídos por três maços e numerados (no Maço I, 40 documentos; no Maço II, 42; no Maço III, 57). Infelizmente, desconhecemos o paradeiro do cartório, restando-nos apenas os sumários da documentação que o compunha. Trata-se de escrituras relacionadas com a posse e a administração de direitos e de bens imóveis, lavradas entre os séculos XV e XVIII. AHMPS. Proveniência: doação particular.