No passado sábado, tive o prazer de conduzir um passeio pelo centro
histórico da antiga vila de Ponte de Sor, fazendo referência a uma série de
bens patrimoniais ainda existentes e a outros que, infelizmente, não chegaram
até nós. Um destes é a Antiga Igreja Matriz, que foi demolida em 1887, devido
ao seu avançado estado de ruína, tendo então começado a ser construída a atual Matriz
(inaugurada em 1903). Já desde pelo menos meados do século XIX que o edifício
da Antiga Igreja carecia de obras. A comprová-lo, temos, por exemplo, o facto
de, em 1862, a Junta de Paróquia de Ponte de Sor, que tinha direito à
administração dos bens das confrarias da freguesia extintas, pretender aplicar
o produto da venda dos objetos e bens das Confrarias do Rosário e das Almas
«aos reparos de que carece a Igreja Matris» (ofício de 1862 Junho 4).
Parece-me interessante salientar que entre os objetos vendidos
estiveram peças de ourivesaria de carácter religioso, que se perderam assim por
motivos muito pragmáticos e devido à pobreza da Junta de Paróquia de Ponte de
Sor. Com isto, chamo também a atenção para o património móvel pontessorense que
foi desaparecendo ao longo do tempo e do qual muitas vezes só temos
conhecimento através da análise das fontes históricas.
Mais concretamente, segundo os respectivos autos de
arrematação, foram vendidos:
o
«algum ouro dos santos despensavel, para com o
seu producto ser applicado aos reparos da Egreja Matriz desta Villa», a saber:
1 cordão, 11 brincos de pescoço e 3 pares de botões das orelhas (sic), tudo
pesando 37 oitavas e meia ou 131,25 gramas, no valor de 50.845 réis, comprado
por um negociante de ouro (auto de 6 Outubro 1863);
o
«uma porção de prata, pertencente á Igreja
Matriz desta Villa, despensavel ao uzo da mesma», «para ser seu producto
applicado ao conserto da Egreja», a saber: 1 cruz, o bojo de outra, 2 cálices e
3 patenas, tudo pesando 15 marcos ou 3.442 gramas, no valor de 97.500 réis,
comprado por um indivíduo de Vale de Santarém (auto de 5 Outubro 1863). É
provável que esta prata tenha pertencido à Confraria das Almas, pois o alvará
régio de 23 Outubro 1862 autorizava a Junta de Paróquia de Ponte de Sor a
vender os bens daquela, legalmente extinta, entre os quais algumas alfaias de
prata, para com produto se proceder aos «urgentes reparos de que muito carece o
templo da mesma freguesia»; isto tendo em vista a informação do Governador
Civil de que a Junta não tinha outros recursos para realizar a obra.
Nota: os documentos citados encontram-se no Arquivo
Municipal de Ponte de Sor e integram a série da correspondência recebida pela
Administração do Concelho. Na foto, localização da Antiga Igreja Matriz de Ponte de Sor, em frente ao Mercado Municipal.