quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre a extinção de Feriados

Não vou discutir a pertinência da extinção de 4 feriados do calendário laboral português, nem tão-pouco dos seus alegados efeitos na economia e na produtividade. A questão que quero abordar é sobre a escolha de quais serão os feriados extintos.

O governo acordou com a Igreja Católica a extinção de 2 feriados civis e de 2 feriados religiosos. Sobre estes últimos pouco há a dizer, desde que se mantenha a Páscoa, o Natal e talvez o Dia de Todos-os-Santos, praticamente qualquer outro feriado encontra-se desprovido de qualquer devoção, tornando fácil a sua extinção e, simultaneamente, comprovando a decadência da fé católica - diria até religiosa - em Portugal.

As grandes disputas situam-se nos feriados civis, na medida em que estes têm quase todos determinadas implicações políticas ( 25 de Abril, 1 de Maio, 5 de Outubro, etc.) ou estão demasiado enraizados na sociedade portuguesa (caso do 1 de Janeiro). Vejamos então a lista:

1 de Janeiro - Após a celebração do Ano Novo um dia de descanso que é quase tão unânime como o Natal.
25 de Abril - Feriado intocável pois celebra a instauração do regime actual.
1 de Maio - Dia do Trabalhador. Um dos dias mais celebrados a nível mundial e simbólico para toda a esquerda portuguesa, desde o Partido "Socialista" até aos sectores mais radicais como o PCTP/MRPP.
10 de Junho - Dia de Portugal, celebrado sobretudo por nacionalistas, ex-combatentes, emigrantes e monárquicos.
5 de Outubro - Implantação da República, feriado especialmente sensível para a esquerda e, dentro desta, para o Partido Socialista e a Maçonaria "herdeiros" naturais da I República.
1 de Dezembro - Restauração da Independência. Dia extremamente importante para monárquicos e, em menor escala, para alguns grupos nacionalistas.

Ao que tudo indica o governo optou pela extinção do 5 de Outubro e do 1 de Dezembro e, na minha opinião, correctamente. Ora a extinção de qualquer um dos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril e 1 de Maio, resultaria numa enorme contestação social fosse por via de forças partidárias e sindicais, fosse por via popular.
Restam, portanto, outros três feriados dos quais dois, 10 de Junho e 1 de Dezembro, são celebrados por sectores mais "conservadores" e um outro pela esquerda republicana. Seria injusto acabar com os dois primeiros mantendo o último, pelo que assim se justifica parte da extinção do 5 de Outubro. O restante prende-se com uma comemoração de uma data que pouco diz aos portugueses do século XXI e, sobretudo, onde é exaltado um regime que foi belicista, anti-democrático, colonialista e um autêntico desastre económico e financeiro.

Sobra a escolha entre 10 de Junho e 1 de Dezembro, parece-me que institucionalmente o primeiro é mais importante devido ao facto de procurar aproximar os quase 4 milhões de portugueses espalhados pelo globo. Mas se tal não for suficiente, basta relembrar que entre 1 de Dezembro e 1 de Janeiro já existem 4 feriados e, portanto, parece-me mais lógico terminar com o 1 de Dezembro.

10 comentários:

  1. Só porque estou com pressa para recomeçar a trabalhar depois do intervalo de almoço, faço apenas 2 reparos:
    1 - Os feriados de que a Igreja abdicou não foram eliminados; foram transferidos para o domingo seguinte :) Porque a nós, católicos, pouco nos importa se é dia de descanso ou não, o que está em causa é a disponibilidade dos fiéis para celebrar essas festas em comunidade. Ou seja, o dia da festa é, na prática, irrelevante; transferido para o domingo seguinte, tem igual significado. Quem já comemorava os feriados religiosos, vai continuar a comemorá-los. Só aos crentes tacanhos ou de "fezinhas" é que esta alteração poderia trazer indignação. Aliás, a Igreja disse até estar disposta a abdicar de mais feriados, se tal fosse necessário.
    2 - Pergunto o que faz no nosso calendário o feriado do Carnaval e se não seria muito mais nobre e inteligente acabar com isso, em vez de irem mexer nos que dizem respeito à História de Portugal. Mas pronto, o que o povo quer é festa e copos! Pão e circo! No entanto, passar um pano por cima dos momentos da nossa memória como nação, situa-se exactamente no mesmo campo da perversão que está a conduzir o ensino obrigatório da História ao seu fim.
    Se fossem inteligentes, acabavam com o 10 de Junho, porque esse sim, não faz qualquer sentido. Transferiam o dia de Portugal para o dia da implantação da República e comemoravam inteligentemente 2 em 1: fundação da Nacionalidade (=dia de Portugal) e implantação da República. Não são comemorações incompatíveis e agradava-se assim a gregos e a troianos.
    Mas mais uma vez vemos como a mentalidade do mundo actual se rege pelo facilitismo: pensar dá muito trabalho (por isso se acabou também com a obrigatoriedade da Filosofia!) e o que já cheira a mofo não interessa para nada e tem de ser eliminado, independentemente do que quer que signifique. Tal como os "velhos" que morrem sozinhos em casa. Assim vamos.

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  2. Leonor,

    1 - Dizes bem para vocês os católicos, mas como na sociedade portuguesa os "verdadeiros" católicos, como tu, estão em clara minoria o que se discute é o dia de descanso e não a celebração em si, ou seja, tal como referi "qualquer outro feriado encontra-se desprovido de qualquer devoção, tornando fácil a sua extinção e, simultaneamente, comprovando a decadência da fé católica - diria até religiosa - em Portugal."

    2 - Leonor lamento mas o Carnaval não é feriado. Quanto a passar o 1 de Dezembro para dia Nacional é outra história e talvez faça sentido, no entanto, O que se comemora legalmente é a restauração da independência e é com essa base legal que o governo deve agir.

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  3. ‎1 - Erraste na "decadência da fé católica" - foi aí que eu quis chegar. Basta ires a várias missas das igrejas da Baixa, para verificares, com os teus próprios olhos, como estão cheias (CHEIAS) de jovens, de famílias e de casais novos, com ou sem filhos.
    2 - A 3ª feira de Carnaval não é feriado mas é sempre dada. Aí era um corte bastante inteligente.
    3 - Não é passar o 1 de Dezembro para dia nacional, mas o 10 de Junho para o 5 de Outubro. Em Junho já temos muitos feriados!
    4 - A Restauração é tão importante quanto o dia de Portugal, lamento mas nisso sou irredutível. E não é por já terem passado 400 anos que vou mudar de ideias. Se virmos a História por curtos períodos de 500 anos... vemos mal.

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  4. Leonor,

    1 - Lamento mas número de pessoas nas missas da baixa não reflectem, nem de perto, a realidade do país. Para isso existem os dados do INE e eles são bem claros nesse assunto.

    2 e 3 - Creio que o Carnaval já era. Em dezembro também já temos muitos feriados, mais do que em junho.

    4 - Isso é subjectivo, mas tudo bem para quem seja patriota faz sentido pensar assim.

    Então elege os teus 4 feriados a serem extintos sff

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  5. Civis (alguns ligam-se com os religiosos):
    1 - Terça de Carnaval;
    2 - 10 de Junho (mantendo o 5 de Outubro);
    3 - 13 de Junho (Lisboa); 24 de Junho (Porto); 29 de Junho (Sintra) - ou seja, fim dos feriados municipais (em todo o lado até - não me batam, lol);
    Religiosos:
    1 - Concordo com o Corpo de Deus;
    2 - Concordo com o 15 de Agosto;
    3 - Retirava Todos-os-Santos
    4 - Retirava a Imaculada Conceição (8 de Dezembro).

    Quanto à decadência da religião, notar-se-á mais para o interior do país? Talvez... Acho que não está em decadência, mas em renovação: que fiquem os verdadeiros. O Cristianismo não precisa de "assim-assins". É assim que eu vejo a questão.

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  6. O ponto 3 é altamente injusto ou existem todos os feriados municipais ou nenhuns.

    Quanto a religião a distinção é mais Norte/Sul do que Interior/Litoral

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  7. Injusto? Não acho nada. Eu retirava todos os feriados municipais. Faz mais sentido existirem apenas os nacionais.

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  8. Então porque mantens os de Lisboa, Porto e Sintra?!?!?!

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  9. Eu não disse que mantinha! Todos os que enumerei na lista acima são os que eu acho que devem ser retirados.

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  10. Eu sou sincero, e não li todos os comentários,mas quem nos governa só pensa no lucro, seja ele de quem for.Em relação aos feriados,essas medidas só beneficiam ,os mais ricos, porque esses nunca souberam o que é produzir,nem sofrer o frio , o calor, e a fome.
    Tenham medo do povo PORTUGUÊS.

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