segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Património desaparecido: Antiga Igreja Matriz de Ponte de Sor




No passado sábado, tive o prazer de conduzir um passeio pelo centro histórico da antiga vila de Ponte de Sor, fazendo referência a uma série de bens patrimoniais ainda existentes e a outros que, infelizmente, não chegaram até nós. Um destes é a Antiga Igreja Matriz, que foi demolida em 1887, devido ao seu avançado estado de ruína, tendo então começado a ser construída a atual Matriz (inaugurada em 1903). Já desde pelo menos meados do século XIX que o edifício da Antiga Igreja carecia de obras. A comprová-lo, temos, por exemplo, o facto de, em 1862, a Junta de Paróquia de Ponte de Sor, que tinha direito à administração dos bens das confrarias da freguesia extintas, pretender aplicar o produto da venda dos objetos e bens das Confrarias do Rosário e das Almas «aos reparos de que carece a Igreja Matris» (ofício de 1862 Junho 4).

Parece-me interessante salientar que entre os objetos vendidos estiveram peças de ourivesaria de carácter religioso, que se perderam assim por motivos muito pragmáticos e devido à pobreza da Junta de Paróquia de Ponte de Sor. Com isto, chamo também a atenção para o património móvel pontessorense que foi desaparecendo ao longo do tempo e do qual muitas vezes só temos conhecimento através da análise das fontes históricas.
Mais concretamente, segundo os respectivos autos de arrematação, foram vendidos:

o   «algum ouro dos santos despensavel, para com o seu producto ser applicado aos reparos da Egreja Matriz desta Villa», a saber: 1 cordão, 11 brincos de pescoço e 3 pares de botões das orelhas (sic), tudo pesando 37 oitavas e meia ou 131,25 gramas, no valor de 50.845 réis, comprado por um negociante de ouro (auto de 6 Outubro 1863);
o   «uma porção de prata, pertencente á Igreja Matriz desta Villa, despensavel ao uzo da mesma», «para ser seu producto applicado ao conserto da Egreja», a saber: 1 cruz, o bojo de outra, 2 cálices e 3 patenas, tudo pesando 15 marcos ou 3.442 gramas, no valor de 97.500 réis, comprado por um indivíduo de Vale de Santarém (auto de 5 Outubro 1863). É provável que esta prata tenha pertencido à Confraria das Almas, pois o alvará régio de 23 Outubro 1862 autorizava a Junta de Paróquia de Ponte de Sor a vender os bens daquela, legalmente extinta, entre os quais algumas alfaias de prata, para com produto se proceder aos «urgentes reparos de que muito carece o templo da mesma freguesia»; isto tendo em vista a informação do Governador Civil de que a Junta não tinha outros recursos para realizar a obra.

Nota: os documentos citados encontram-se no Arquivo Municipal de Ponte de Sor e integram a série da correspondência recebida pela Administração do Concelho. Na foto, localização da Antiga Igreja Matriz de Ponte de Sor, em frente ao Mercado Municipal.