quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O último 1 de Dezembro


Parece que hoje é o último 1 de Dezembro, isto é, a última vez que se comemora, através de um feriado nacional, a restauração da independência portuguesa obtida após quase três décadas de guerra, cujo início foi uma rebelião lisboeta ocorrida precisamente a 1 de Dezembro de 1640.

Ainda nada é definitivo mas parece ser este, a par com o 5 de Outubro, um dos feriados escolhidos pelo governo para ser extinto. O que posso afirmar é que os leitores deste espaço concordam com as intenções do governo na escolha dos dois feriados a eliminar. Qualquer um deles obteve quase 2/3 dos votos. Eu também concordo pelos motivos que tive oportunidade de esclarecer neste espaço.


Numa segunda linha seguem-se o 10 de Junho, 25 de Abril e 1 de Maio. Por último, o 1 de Janeiro apenas recolheu 1 voto (5%), curiosamente o único destes feriados sem qualquer conotação política. Assim, pode-se afirmar que o descanso depois de uma festa de fim-de-ano se sobrepõe a qualquer simbolismo político.

Em breve espero lançar uma nova sondagem. A todos os que votaram, muito obrigado!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A rigidez da Administração Pública e o desemprego entre os jovens


Toda a minha vida trabalhei na precariedade, ou melhor, na ultra-precariedade. Fui bolseiro de investigação científica durante quase 3 anos, fui estagiário profissional durante um ano, trabalhei 6 meses num call-center através de uma empresa de trabalho temporário, colaborei com o Oceanário de Lisboa e com o Pavilhão Atlântico em regime de prestação de serviços, isto é, com recurso aos famosos recibos verdes.

Com este historial é natural que seja solidário com os protestos de movimentos como os indignados, precários inflexíveis, entre outros, muitos dos quais mais ou menos controlados pela extrema-esquerda. No entanto, estou em completo desacordo com a reivindicações por parte destes.

Na sua maioria, os membros destes grupos reclamam pelos mesmos direitos que têm os trabalhadores do regime geral e, sobretudo, os trabalhadores em funções públicas. Em relação à primeira situação estou absolutamente de acordo, mas o mesmo já não posso dizer da segunda. Como tenho vindo por diversas vezes a referir aqui, considero a legislação laboral que regula o trabalho em funções públicas demasiado rígida. Esta é a principal responsável pela situação actual, em que os jovens têm sido sistematicamente impedidos de aceder a cargos públicos.

Ao tornar o despedimento praticamente impossível, esta situação teria que ocorrer mais cedo ou mais tarde, com ou sem crise, pois o Estado não poderia crescer eternamente. Sabendo que a vida útil de um trabalhador se situa em 35 anos, facilmente se compreende como a renovação de quadros no Estado seria extremamente lenta num cenário de estagnação do número funcionários públicos que, eventualmente, teria que acontecer.

Ora atravessando um período de dura crise a situação agravou-se rapidamente, pois tornou-se imperativo a redução de custos fixos no Estado, ou seja, a contracção no número de trabalhadores e nos seus salários.

A origem desde problema é antiga com raízes no PREC (1974-75), quando se generalizou a contratação colectiva e se aprovou um novo regime laboral que tornou o despedimento individual praticamente uma impossibilidade.

A consequência de tudo isto são os diversos casos de maus trabalhadores que não dão qualquer valor ao seu posto de trabalho, enquanto os mais jovens são marginalizados num autêntico regime de Apartheid. Eu conheço casos que vão desde a recorrente baixa fraudulenta, passando pela embriaguez em horário de trabalho até ao desvio de pequenas somas de dinheiro público e nada, absolutamente nada lhes acontece em termos práticos.

Assim, os referidos movimentos devem, na minha opinião, lutar pela passagem de todos os trabalhadores ao regime geral de trabalho desde os "falsos recibos verdes", aos estagiários e bolseiros, até ao mais acomodado trabalhador em funções públicas.

domingo, 27 de novembro de 2011

É o país que temos!

Esta expressão é utilizada vezes sem conta sempre que alguém se quer queixar de algo mas, mais frequentemente, quando se pretende queixar de entidades públicas ou da falta de civismo dos portugueses.

Sinceramente é uma expressão que já me começa a enjoar, apesar de eu próprio já a ter usado. O país que temos é composto por nós próprios, pelos políticos que elegemos e pelas instituições das quais fazemos parte. Pode parecer uma verdade de "La Palice", mas de facto a mudança começa por cada um de nós, nas nossas atitudes e nos exemplos que damos à sociedade.

Serve toda esta argumentação evidente, que todos nós já ouvimos e repetimos vezes sem conta, para denunciar uma situação que a mim me faz uma tremenda confusão. Um dos princípios cívicos que, na minha opinião, é mais urgente implementar, num planeta com gravíssimos problemas ambientais, é o da reciclagem. Infelizmente esta prática ainda não está totalmente enraizada apenas, na grande maioria dos casos, por comodismo e egoísmo para com as novas gerações.

Mas se a reciclagem deve ser o mínimo, colocar o lixo no lixo é absolutamente obrigatório! É aliás uma questão de saúde e higiene pública. Infelizmente em Ponte de Sor ainda existem pessoas que neste aspecto vivem no século XIX, fazendo da via pública o seu caixote do lixo particular.

Exemplo disso mesmo é o pátio interior do bloco de prédios junto ao Centro de Saúde que se situam entre a Rua Cardeal António Ribeiro e a Rua Manuel Adegas. Ontem apanhei uma das poluidoras deste espaço que do seu terraço particular, ao início da tarde, ou seja, em plena luz do dia, e sem quaisquer pudores, atirou algumas caixas de cartão para a rua.

Espero que esta senhora tenha o bom senso de apanhar o seu próprio lixo. Neste momento já passaram 36 horas desde a indesejável "descarga". Vou aguardar uma semana e, caso a situação se mantenha, vou alertar a respectiva proprietária e divulgarei a sua identidade visto que parece ser mãe do membro masculino de um dos mais emblemáticos casais pontessorenses.



sábado, 26 de novembro de 2011

Alteração ao projecto do edifício da CM de Ponte de Sor


Ao que tudo indica irá ocorrer uma alteração ao projecto do edifício da CM de Ponte de Sor, de forma a incluir a Junta de Freguesia de Ponte de Sor e a repartição das finanças. O assunto foi discutido na última reunião da Câmara Municipal, tendo causado um grande celeuma entre os vereadores afectos ao partido comunista e o executivo socialista. No final, a alteração foi aprovada pela maioria socialista com os votos contrários de toda a oposição (PCP e PSD).

Antes de dar a minha opinião quero declarar que não sou "social-democrata", nem socialista, nem tão-pouco comunista.

Depois de ler atentamente a respectiva acta camarária e, excluindo as acusações de carácter pessoal que sinceramente eram perfeitamente dispensáveis, tenho que concordar com a posição do actual executivo camarário. Ou seja, a ideia de reunir três instituições na mesma estrutura pública não só permite uma concentração de serviços que beneficia o cidadão nas suas deslocações, como possibilita certamente poupar em custos de funcionamento e de manutenção do edifício. Acresce que qualquer uma destas instituições - Junta de Freguesia, Câmara Municipal e Finanças - encontra-se em instalações sem as devidas condições técnicas e arquitectónicas que devem ser exigidas a um serviço público.

No entanto, concordo em absoluto com a declaração de voto do Vereador do PSD quando este refere "Já quanto à sede da Junta de Freguesia e pensando na actual Reforma Administrativa, o que se impõe é a extinção das mesmas nas sedes de concelho."

De facto não faz qualquer sentido a existência da Freguesia de Ponte de Sor quando, em grande parte, partilha competências com a Câmara Municipal. Será um assunto que vou abordar brevemente com maior exaustividade. Porém, a Junta de Freguesia de Ponte de Sor não deverá ser extinta e, portanto, faz todo sentido incluí-la no novo edifício.

P.S. - Se fosse possível ainda incluir a Segurança Social óptimo!! É que é de todos o serviço público com piores instalações.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A inutilidade e obsolescência da Greve Geral


Amanhã, dia 24 de Novembro de 2011, as duas centrais sindicais - UGT e CGTP - convocaram uma greve geral dos trabalhadores. Alguns políticos, para além dos respectivos dirigentes sindicais, depositam uma grande esperança nesta greve como um ponto de partida para a mudança do sentido das políticas de austeridade que têm vindo a ser tomadas em Portugal. É o caso do líder (coordenador na terminologia daquele partido) do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que vê a greve geral "como um novo 25 de Abril".

Embora concorde na generalidade com os motivos da greve geral, caso estivesse empregado, que não estou, e se fosse sindicalizado, coisa que nunca fui, não tomaria parte na mesma.

Em primeiro lugar, as sucessivas greves a que temos assistido têm-se pautado, sem excepção, pela sua inconsequência. É mesmo caso para dizer que "os cães ladram e a caravana passa". Na minha opinião, esta situação deve-se ao facto que a greve não tem qualquer impacto junto das autoridades quando o principal visado é o sector público. Aliás, arrisco que financeiramente a greve é benéfica para um Estado que se encontra completamente falido.

Em segundo lugar, e talvez se trate do ponto mais importante, os sindicatos não representam quem mais tem sofrido com o estado caótico das finanças públicas: os jovens e os desempregados. Devido a uma forte emigração e a um padrão salarial relativamente baixo, historicamente Portugal era um país com uma baixa taxa de desemprego, ou seja, neste cenário os sindicatos representavam uma proporção considerável da população activa portuguesa. Contudo, actualmente a taxa de desemprego real, isto é, a soma dos que estatisticamente se encontram desempregados com a inúmera massa de sub-empregados (bolseiros, estagiários, recibos verdes, trabalhadores de empresas de trabalho temporário, etc.), deverá rondar, pelo menos, os 20 a 25% da população activa. Assim, existe a priori uma massa enorme de cidadãos que não se encontra enquadrada em estruturas sindicais. Estes têm-se progressivamente organizado e associado a outras estruturas como o movimento dos indignados.

Por último, as greves e a luta sindical só me faz lembrar a luta do operariado quando o peso da indústria no produto nacional era significativamente maior do que é hoje em dia. Nestes tempos uma paragem na produção saía muito mais onerosa ao proprietário fabril do quando hoje se encerra uma escola ou se suprime uma carreira de autocarros.

Em jeito de conclusão, a greve é uma forma de luta anacrónica e inconsequente e, portanto, na sexta-feira tudo estará igual dia de hoje. Entretanto existiu uma paragem em alguns serviços, declarações inflamadas de alguns políticos, algo para encher os noticiários e pouco mais. Se desejam uma forma de luta diferente e ameaçadora, infelizmente só consigo imaginar uma, o recurso à guerrilha urbana.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Igualdade de género: o combate urgente ao feminismo


Escola Básica 2+3 Gaspar Correia, Portela de Sacavém, Setembro de 1996.

No intervalo "grande" da manhã num canto, entre as salas de Educação Visual e Trabalhos Manuais, um grupo de alunos decide canalizar todos os votos na eleição de delegado de turma para uma única pessoa. Este grupo resulta da discriminação que todos, sem excepção, sentem desde o 7º ano. Trata-se de uma discriminação de género com alguns toques de discriminação sócio-económica. O grupo é constituído exclusivamente por rapazes que, apesar da desvantagem numérica em relação às raparigas, está confiante na vitória devido à natural dispersão dos votos destas. Não será uma eleição fácil, são 9 rapazes numa turma com cerca de 25 alunos. Chegada a hora da votação tudo corre como combinado e, pela primeira vez, um rapaz é eleito delegado de turma perante a estupefacção da directora de turma e, sobretudo, de uma das raparigas que quando percebe o que se está a passar não hesita em protestar que o eleito era uma pessoa irresponsável.
O eleito fui eu e acreditem que não me tinha dado a este trabalho todo se tal não se justificasse.

Faculdade de Biblioteconomia e Documentação, Badajoz, 17 de Novembro de 2011.

Uma conferencista apresenta um trabalho em que refere a discriminação das mulheres nas Bibliotecas brasileiras e que o mesmo se deve passar em Portugal. No final, um jovem conferencista contesta referindo que tal se aplica certamente ao passado, mas não ao presente. Ou seja, não à sua geração e conclui alegando que nunca se sentiu beneficiado por ser homem, antes pelo contrário.
Novamente o jovem era eu.

Servem estas duas pequenas estórias pessoais para introduzir a questão da igualdade de género. Não nego que as mulheres foram durante séculos discriminadas quer legalmente, quer socialmente, e que esta situação se prolongou praticamente até aos dias de hoje. Admito que a sociedade portuguesa actual ainda não esteja totalmente em harmonia neste aspecto, mesmo nos centros urbanos, visto que quem detém o predomínio dos cargos mais relevantes é ainda uma geração onde o machismo dominava.

No entanto, na minha geração e remetendo para o meio em que me movi, isto é, um meio urbano e escolarizado, nunca senti qualquer discriminação em relação às mulheres. Na realidade considero que vivemos num pós-feminismo em que a mulher já conquistou, com todo o direito, o seu lugar na sociedade. Perante este cenário a existência de inúmeras feministas não só é um tremendo anacronismo, bem como constituiu um perigo para uma sociedade que se quer igualitária. Ou seja, temo que a sociedade que era claramente machista se torne, a curto prazo, feminista.

Foi para combater esta tendência que nos organizamos em 1996 e, igualmente, que eu reclamei quinze anos mais tarde. O simples facto de uma mulher se apresentar publicamente como feminista é para mim um tremendo insulto que nunca, mas nunca, tolerarei. Imaginem o escândalo que seria eu apresentar-me como machista, certamente seria repudiado e insultado de imediato. O contrário ser tolerado é para mim intolerável!

Eu sou um apologista da igualdade de género que significa isso mesmo IGUALDADE! Ora igualdade é a inexistência de atitudes machistas, mas também de atitudes feministas. Espero que outros pensem da mesma forma e, assim, se possa erradicar o cancro de discriminação social que é o feminismo.

domingo, 20 de novembro de 2011

A fraca argumentação dos aficionados



Eu não sou apreciador da tradição tauromáquica portuguesa, acho um espectáculo sem qualquer interesse visto que se traduz no massacre e sofrimento de um dos intervenientes que é obrigado a estar presente - o touro. Não que seja um pacifista, pois não só considero que a resolução por intermédio da violência de algumas situações é, infelizmente, a única solução, como pratiquei com prazer desportos de combate. No entanto, existe uma grande diferença entre assistir a um combate entre duas pessoas que o fazem de forma consciente e livre, e assistir à tortura de um animal.
Do vasto leque de argumentos dos aficionados a grande parte são absolutamente ridículos, um é discutível e o único que, na minha opinião, é aceitável raramente é referido. Eis um resumo daqueles que costumo ouvir:

- É absolutamente absurdo defender a tourada com base de se tratar de uma tradição, visto que pelo simples facto de ser uma tradição não torna a sua prática legítima de qualquer ponto de vista, muito menos do ponto de vista moral.

- Argumentar que o touro não sofre é uma tremenda mentira e creio que só uma criança de muito tenra idade poderá acreditar nisso.

- Referir que o touro não qualquer utilidade para além de ser lidado, é pressupor que a natureza apenas existe para nos servir. Infelizmente esta concepção do planeta tem-nos levado a um caminho de auto-destruição ambiental, que ao ritmo actual nos irá levar à extinção.

- O primeiro argumento a que posso conceder alguma legitimidade é que a tourada tem um impacto económico em determinadas regiões não desprezível e, consequentemente, a sua extinção levaria à ruína alguns agentes económicos (não faço ideia de quantos).

- Por último, o único motivo que realmente admito que alguém defenda a tourada é que gosta e ponto final. O aficionado diverte-se perante um espectáculo de sangue e sofrimento animal e pouco mais há a acrescentar. Contudo, raramente tenho-o ouvido talvez por ser politicamente incorrecto. A tourada não é o meu estilo e até me enoja, mas tenho que respeitar. Eu também gosto de boxe, k1, vale-tudo, o que certamente choca e enoja outras pessoas mais sensíveis nesse aspecto.

De qualquer forma preferia que as touradas terminassem de uma vez por todas, mas não farei qualquer campanha por isso pois, por um lado, considero que existem questões muito mais pertinentes a serem resolvidas na sociedade portuguesa e, por outro, não me sinto na legitimidade de julgar o que os outros pensam sobre a tourada.

sábado, 19 de novembro de 2011

Estudem a História: Como sair da crise estrutural da economia portuguesa


"O que importava [aos pequenos países da Europa] era explorar "nichos" industriais deixados vazios pelas grandes potências. Assim, por exemplo, a principal indústria sueca do final do século XIX, a serração de madeiras, nasceu a partir da exploração de um recurso abundante no país. Na Dinamarca, a industrialização baseou-se, não e produções que a Grã-Bretanha tinha enormes vantagens, mas em ramos ligados à agricultura nacional, como os lacticínios e a produção de maquinaria agrícola. Finalmente, podemos referir o caso holandês, em que a indústria têxtil se concentrou, não no fabrico em série de panos vulgares, mas na produção de artigos trabalhados em algodão e linho, com uma elevada incorporação de mão-de-obra especializada sobre a qual a indústria britânica não tinha vantagens".

LAINS, Pedro - Os progressos do atraso: uma nova História Económica de Portugal. Lisboa: ICS, 2003.

Isto reflecte o que penso há vários anos, Portugal tem que se especializar em duas ou três áreas, preferencialmente com tecnologia avançada, e com isso substituir de forma equilibrada aquilo em que somos deficitários. Agora sonhos de autarcia num país com 90 mil km2 são uma pura ilusão, portanto, deixem-se da ideia que vai regressar tudo ao campo para as campanhas de trigo uma cultura que é bastante pouco produtiva no solo nacional.

É para isto que serve estudar a História e não para saber de cor os nomes dos Reis.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Estados Unidos da Europa


A partir da época moderna e, sobretudo, após a Revolução Industrial, os pequenos países do continente europeu lideraram o mundo do ponto de vista militar, político, económico, etc. Com o final da Segunda Guerra Mundial, dois gigantes passaram a disputar o anterior predomínio europeu, contudo, um deles é um país essencialmente europeu (União Soviética) e outro, em grande medida, uma extensão da civilização europeia (Estado Unidos).

No entanto, seria uma questão de tempo até novos actores surgirem na política internacional. Assim, bastou que China, Brasil e Índia se desenvolvessem um pouco mais para, devido às duas dimensões continentais, passarem a ter um peso decisivo dificilmente ao alcance de países 10 e 20 vezes mais pequenos.

É esta a situação em que nos encontramos hoje. Mesmo a Alemanha é um país relativamente pequeno se compararmos os seus 80 milhões de habitantes com os 180 milhões do Brasil, os 1200 milhões da Índia ou os 1300 milhões da China. Neste panorama, Portugal com os seus 10 milhões de habitantes distribuídos por escassos 90 mil km2 é pouco mais do que uma pulga.

A questão se coloca é então a seguinte: Querem os europeus a continuar a ter uma palavra decisiva na forma como o mundo funciona? Se sim então a única solução é criar um estado federado que consiga competir com as grandes potências emergentes. No seu conjunto a União Europeia tem quase 500 milhões de habitantes e é de longe a primeira economia do mundo.

Por muito que seja doloroso para alguns países da dimensão de Portugal simplesmente já não fazem sentido. Tiveram o seu tempo, quando a viagem de Lisboa a Santarém demorava um dia a cavalo, mas para mim Portugal é já um anacronismo.

Eu prezo imenso a cultura europeia responsável por um dos principais garantes do bem-estar social: a liberdade. Por maiores atropelos que existem e que tenham existo num passado recente à liberdade na Europa, se compararmos com civilizações como as do Extremo Oriente, África ou até América do Sul, facilmente chegamos à conclusão do que vai acontecer ao mundo quando os centros de decisão passarem para qualquer um destes continentes.

Eu não pretendo viver num mundo em que a civilização europeia não tenha um papel preponderante, e como tal faço votos que esta crise nos leve, por fim, até ao federalismo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

V Encuentro Ibérico Edicic: impressões gerais


Pela primeira vez na minha vida proferi uma comunicação num encontro de Ciências da Informação. Como já apresentei comunicações em três encontros no âmbito da História, posso agora fazer uma breve comparação.

Notei claramente, sobretudo por parte do público português - o encontro realizou-se em Badajoz -, uma tremenda vontade em participar na discussão, o que se traduziu no alargar do tempo de cada painel e mais houvesse! Nos encontros de História a que costumo ir o público também se mostra interessado, porém, nunca de forma tão intensa.

A audiência situou-se entre as 60 e as 70 pessoas, divididas essencialmente em três nacionalidades: portugueses, espanhóis e brasileiros. O número total não é muito elevado mas trataram-se de sessões únicas, enquanto nos encontros a que tenho ido costuma-se optar por sessões simultâneas. Por um lado, neste modelo não existe uma dispersão do público o que, por vezes, leva no caso de sessões simultâneas a painéis com 3 ou 4 pessoas na assistência, castrando-se assim o debate científico. Por outro, o encontro inevitavelmente teve menos comunicantes e, provavelmente, atraiu menos público na sua totalidade. Falando apenas na minha experiência é sempre mais agradável falar para várias dezenas de pessoas do que para 3 ou 4,ou seja, gostei mais deste formato.

Uma outra constatação, esta bem mais infeliz, é que a faixa etária quer dos comunicantes, quer da assistência, era significativamente mais elevada que nos encontros de História. Não que os encontros de História sejam pautados por uma extrema adesão dos jovens, no entanto, sempre vão surgindo alguns trabalhos de jovens investigadores e, sobretudo, raramente sou o único abaixo dos 30/35, o que parece ter sido o caso de hoje.

Tudo isto leva-me a concluir o seguinte: Infelizmente as Ciências da Informação ainda são pouco valorizadas no meio académico nacional e na sociedade em geral - embora neste aspecto não me pareça que qualquer outra ciência social o seja. A consequência é a escassez crónica deste tipo de eventos em Ciências da Informação a nível nacional, não obstante o reparo que fez a Doutora Fernanda Ribeiro a este meu comentário, bem como de publicações de carácter monográfico e periódico e, por último, de projectos de investigação. Este último ponto é essencial para a ausência de jovens investigadores aliado à fase ainda inicial da disseminação de doutoramentos nesta área em Portugal, com a excepção da Universidade do Porto.

Foi após a colaboração com um projecto de História Económica que adquiri os conhecimentos suficientes para poder investigar, algo que a formação académica ao nível da licenciatura não me deu.

Sobram os mestrados, que aliás foi o meu caso, contudo, no meu ano a grande maioria dos alunos já trabalhavam na área sem a devida formação e preocuparam-se em adquiri-la. Assim, a idade média dos alundos do Mestrado em Ciências da Informação da FCSH/UNL, ano de 2009, devia rondar algo entre os 35 e os 45 anos.

Resta-me agradecer à organização ter-me proporcionado esta experiência bastante gratificante até porque o meu tema suscitou ampla discussão e aguardar por dias mais activos para as Ciências da Informação.

Sinceramente muito obrigado!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre a extinção de Feriados

Não vou discutir a pertinência da extinção de 4 feriados do calendário laboral português, nem tão-pouco dos seus alegados efeitos na economia e na produtividade. A questão que quero abordar é sobre a escolha de quais serão os feriados extintos.

O governo acordou com a Igreja Católica a extinção de 2 feriados civis e de 2 feriados religiosos. Sobre estes últimos pouco há a dizer, desde que se mantenha a Páscoa, o Natal e talvez o Dia de Todos-os-Santos, praticamente qualquer outro feriado encontra-se desprovido de qualquer devoção, tornando fácil a sua extinção e, simultaneamente, comprovando a decadência da fé católica - diria até religiosa - em Portugal.

As grandes disputas situam-se nos feriados civis, na medida em que estes têm quase todos determinadas implicações políticas ( 25 de Abril, 1 de Maio, 5 de Outubro, etc.) ou estão demasiado enraizados na sociedade portuguesa (caso do 1 de Janeiro). Vejamos então a lista:

1 de Janeiro - Após a celebração do Ano Novo um dia de descanso que é quase tão unânime como o Natal.
25 de Abril - Feriado intocável pois celebra a instauração do regime actual.
1 de Maio - Dia do Trabalhador. Um dos dias mais celebrados a nível mundial e simbólico para toda a esquerda portuguesa, desde o Partido "Socialista" até aos sectores mais radicais como o PCTP/MRPP.
10 de Junho - Dia de Portugal, celebrado sobretudo por nacionalistas, ex-combatentes, emigrantes e monárquicos.
5 de Outubro - Implantação da República, feriado especialmente sensível para a esquerda e, dentro desta, para o Partido Socialista e a Maçonaria "herdeiros" naturais da I República.
1 de Dezembro - Restauração da Independência. Dia extremamente importante para monárquicos e, em menor escala, para alguns grupos nacionalistas.

Ao que tudo indica o governo optou pela extinção do 5 de Outubro e do 1 de Dezembro e, na minha opinião, correctamente. Ora a extinção de qualquer um dos feriados de 1 de Janeiro, 25 de Abril e 1 de Maio, resultaria numa enorme contestação social fosse por via de forças partidárias e sindicais, fosse por via popular.
Restam, portanto, outros três feriados dos quais dois, 10 de Junho e 1 de Dezembro, são celebrados por sectores mais "conservadores" e um outro pela esquerda republicana. Seria injusto acabar com os dois primeiros mantendo o último, pelo que assim se justifica parte da extinção do 5 de Outubro. O restante prende-se com uma comemoração de uma data que pouco diz aos portugueses do século XXI e, sobretudo, onde é exaltado um regime que foi belicista, anti-democrático, colonialista e um autêntico desastre económico e financeiro.

Sobra a escolha entre 10 de Junho e 1 de Dezembro, parece-me que institucionalmente o primeiro é mais importante devido ao facto de procurar aproximar os quase 4 milhões de portugueses espalhados pelo globo. Mas se tal não for suficiente, basta relembrar que entre 1 de Dezembro e 1 de Janeiro já existem 4 feriados e, portanto, parece-me mais lógico terminar com o 1 de Dezembro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Modernização da economia


Quando, em 1972, Marcello Caetano alcançou um acordo comercial com nove membros da então CEE, o estadista português percebeu que a economia portuguesa necessitava de uma rápida modernização global para responder ao previsível desarmamento alfandegário que se seguiria.

Em 1986, com a adesão de Portugal à CEE, a pauta alfandegária foi extinta para todos os estados membros que à época eram 12. Progressivamente esse número cresceu até aos actuais 27 estados-membro.

Creio que era uma boa altura, tendo em conta a crise que perdura há mais de 5 anos em Portugal, para se avaliar afinal o que foi feito para a tal modernização de que falava Caetano há 40 anos atrás.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

V Encuentro Ibérico Edicic e XXXI encontro da APHES

APHES XXXI
V Encuentro Ibérico Edicic

Neste fim-de-semana realizam-se dois encontros científicos sobre os quais tenho especial interesse.

Em Coimbra, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, realiza-se dia 18 e 19 de Novembro o XXXI encontro da Associação Portuguesa de História Económica e Social. Participei nos dois anos anteriores, no entanto, devido a uma sobreposição com outro encontro e a questões de ordem pessoal este ano faltarei com grande pena minha. A primeira vez que participei foi em 2009 na cidade do Porto, onde conheci a minha mulher.
Para a história do Alto Alentejo destaque-se a comunicação de Ignacio Garcia "A Junta Nacional de Cortiça".

Quase em simultâneo, desta feita em Badajoz entre os dias 17 e 19 de Novembro, realiza-se o V Encuento Ibérico Edicic: "Limites, fronteiras e lugares comuns: encontros e desencontros nas Ciências da Informação". Aqui participarei, dia 17 de Novembro, pelas 19h00, com a comunicação "O desbaste em Portugal: O exemplo das bibliotecas de ensino superior". Trata-se da apresentação oral de um artigo recentemente publicado.
Caso algum dos meus amigos queira assistir à minha comunicação é uma questão de me contactar.

domingo, 13 de novembro de 2011

A marcha dos privilegiados


Noticia o Público que ontem, dia 12 de Novembro, dezenas de milhar de trabalhadores da administração pública manifestaram-se em Lisboa contra o orçamento de estado e, simultaneamente, contra o corte dos subsídios de natal e férias. De acordo com o jornal manifestaram-se professores, médicos, militares, enfermeiros, funcionários judiciais, entre outros. Curiosamente algumas das profissões citadas (sobretudo as três primeiras) são das mais privilegiadas em Portugal, fruto da sua força corporativa. Não vou discutir a legitimidade deste protesto, parece-me que as pessoas têm todo o direito a indignar-se quando sentem que uma medida injusta foi tomada contra os seus interesses. No entanto quero deixar apenas a seguinte reflexão:

Eu, como tantos outros "jovens" das mais diversas áreas do conhecimento, trabalhei 4 anos para o Estado português: 3 como bolseiro de investigação científica e 1 ano num estágio profissional. Durante esse período e apesar de ter legalmente os mesmo deveres que qualquer outro agente da Administração Pública, nunca tive direito a um subsídio de férias ou natal. Nunca descontei para a Segurança Social de forma a ter direito a um subsídio de desemprego porque o Estado não me o permite, assim, sempre que os meus contratos terminam fico sem qualquer rendimento. Sempre que fico doente, não tenho qualquer protecção social.

Pensarão alguns de vocês que se calhar devia ter estudado..mas esperem afinal eu até estudei, bom então devia ter sido bom aluno.....mas pelos vistos também o fui....então olha tivesses nascido mais cedo.......pois é esse o meu maior crime.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A improbabilidade de um golpe militar em Portugal


Otelo Saraiva de Carvalho veio hoje a público defender, embora de forma discreta, a execução de um golpe militar em Portugal, tal como já tinha feito Vasco Lourenço. O antigo "capitão de Abril" e líder operacional das FP-25 referiu que bastariam 800 homens para se fazer uma nova revolução devido ao número reduzido de militares existentes em Portugal.

Na minha opinião os dois militares foram completamente ultrapassados pelo tempo e, tendo em conta o contexto actual, uma revolução militar em Portugal parece-me quase impossível. O mundo mudou desde 1974, a Europa mudou muito e Portugal mudou ainda mais. Três mudanças tornam muito difícil o sucesso de uma eventual revolução militar armada: a própria natureza das Forças Armadas, a autonomia relativa do nosso país e a conjuntura internacional.

1 - Forças Armadas
Em 1974 o peso das Forças Armadas na sociedade portuguesa era incomparavelmente maior do que é hoje em dia. A par com um conflito em três teatros de guerra distintos, Portugal dispunha de quase 300 mil homens em armas, hoje o efectivo dos três ramos das Forças Armadas é ligeiramente inferior a 50 mil militares. Ou seja, o peso numérico dos militares é um sexto do que era há quase 40 anos. Ainda restringindo-me apenas às Forças Armadas é de notar que o Estado Novo era um regime muito mais militarizado sendo, por isso, fácil de encontrar diversos militares a desempenhar os mais altos cargos públicos. O caso mais flagrante era o cargo de Presidente da República ocupado pelo Contra-Almirante Américo Tomás. Alguns dos mais conhecidos oposicionistas eram também militares e tinham precisamente saído de altos cargos do regime, registe-se os casos de Henrique Galvão, Botelho Moniz e de Humberto Delgado.

2 - A autonomia relativa de Portugal
Antes do 25 de Abril, para o bem e para o mal, Portugal era uma nação pluricontinental a caminho dos 30 milhões de habitantes e com algum peso estratégico internacional, por um lado, devido à base das Lajes que era essencial aos EUA como base de apoio no Atlântico Norte e, por outro, pela forte posição regional na África Austral, onde chegámos a ter o apoio da República de África do Sul e da Rodésia de Ian Smith. Actualmente, Portugal é um pequeno país periférico da Europa com 10 milhões de habitantes e com uma autonomia política política que foi reduzida ao longo do tempo pelos diversos tratados de integração europeia.

3 - Conjuntura Internacional
Nos anos 70, o mundo estava divido em dois blocos, o bloco capitalista e o bloco socialista. Em 2011, apesar da China já se afigurar como uma potência rival dos EUA, na Europa não existe um contra-poder que pudesse auxiliar a todos os níveis (diplomático, logístico e militar) uma possível revolução portuguesa - como era o caso da União Soviética.

Assim, mesmo que o pequeno exército português conspirasse e se organizasse de forma a executar um golpe militar não me parece que a comunidade internacional o permitisse. Aposto que em 48 horas a NATO, os Estados Unidos, o Reino Unido ou até Espanha invadiriam o território nacional de forma a "restaurar a liberdade e a democracia" e muito pouco podiam fazer as Forças Armadas portuguesas para o impedir.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O ódio à Alemanha e a Angela Merkel

Muito sinceramente não consigo compreender o ódio que alguns portugueses movem contra a Alemanha e, concretamente, contra Angela Merkel. Não é que goste particularmente da Chanceler Alemã, aliás até tenho uma opinião negativa da forma como esta tem gerido, do ponto de vista político, toda esta crise. No entanto, não a culpo pela situação orçamental portuguesa, nem tão pouco pela crise do Euro. Ela lá terá as suas culpas visto ser a líder da maior economia da zona Euro, todavia, todas as escolhas realizadas por Portugal foram com a conivência do eleitorado português.

Ninguém nos forçou a um excessivo endividamento, de facto até votamos sucessivamente em quem o desvalorizou - José Sócrates - e penalizamos quem devidamente nos alertou para o "monstro do défice" - Manuela Ferreira Leite. Que eu saiba a Alemanha ou qualquer outro país europeu não fez nenhum ultimato para que Portugal entrasse no Euro ou sequer na CEE.

Portanto meus amigos de que se queixam?

domingo, 6 de novembro de 2011

Património Histórico de Ponte de Sor: Os moinhos de água

No passado dia 16 de Abril de 2011, no âmbito das Comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, assisti no Centro de Artes e Cultura a uma conferência intitulada "Giram rodízios de espuma...A água e as actividades económicas em Ponte de Sor: os moinhos", proferida por Ana Isabel Silva.

Bom tenho a dizer que foi com a oradora que contraí o sagrado matrimónio - sagrado para nós pois tratou-se de uma cerimónia laica - no passado dia 4 de Junho de 2011.

Como forma de ilustrar a dita apresentação, no fim-de-semana anterior, percorremos o percurso da Ribeira de Sor a jusante da nossa cidade e fotografámos os três moinhos aí existentes, Moinho da Sobreira, Moinho da Pontinha e o famoso Moinho Novo da Tramaga.

O estado de conservação destes moinhos e o facto de ter aprendido que este meio de produção pré-indutrial ainda laborava no anos 1960, despertou a minha atenção. Desde logo tive a intenção de aprofundar historicamente o tema e, como é habitual, a minha mulher estava no mesmo diapasão.

No entanto, questões de ordem pessoal e profissional têm-nos retirado o tempo necessário para estudarmos convenientemente esta questão. Depois desse dia nada fizemos até o início da semana passada juntado o "útil" ao "agradável". Assim, temos aproveitado os longos passeios a que estamos "obrigados" para procurar mais algumas destas estruturas, desta feita a montante de Ponte de Sor. Hoje assinalámos mais duas - o Moinho da Pedreira e o Moinho do Pinheiro -, e ficamos a saber da existência de um outro Moinho a Nordeste destes.

Para já não iremos iniciar nenhuma pesquisa documental, mas vamos assinalar todos os moinhos na carta militar de Ponte de Sor.

Faço aqui um apelo a todos os leitores para que me enviem um e-mail, caso saibam da existência de mais moinhos de água que estejam dentro dos limites do Concelho de Ponte de Sor.

Calculo que com a construção da barragem de Montargil, alguns dos moinhos de água daquela freguesia estejam hoje submersos, contudo, se sobre estes também tiverem alguma informação por favor não hesitem em me contactar.

E agora deixo-vos com algumas das fotos que tirei.


Figura 1 - Moinho do Pinheiro

Figura 2 - Moinho da Sobreira

Figura 3 - Rodízio do Moinho da Pontinha

Figura 4 - Moinho da Pontinha

sábado, 5 de novembro de 2011

A falência da democracia de voto universal

Fátima Felgueiras após ter gozado com o sistema judicial português foi reeleita em 2005.

Costuma-se atribuir a Winston Churchill a ideia de que a democracia é o pior sistema político, se exceptuarmos todos os outros. De uma forma geral concordo com esta afirmação, no entanto, nem todas as democracias são iguais e se guiam pelo mesmos métodos eleitorais.

A nossa, tal como as demais democracias "ocidentais", pressupõe que todos os cidadãos tornam-se automaticamente eleitores aos 18 anos, com raríssimas excepções. Ora foi esta imensidão de votantes que elegeu Isaltino Morais, Fátimas Felgueiras e Alberto João Jardim, mesmo após se ter tornado público os diversos esquemas de corrupção em que estiveram envolvidos.

Foi esta mesma democracia de voto universal que elegeu os sucessivos governos que nos conduziram ao défice e, ao mesmo tempo, penalizou os candidatos que alertaram para o mesmo.

Os mesmos que continuadamente se queixam dos políticos, são aqueles que desde 1975 votam sempre nos dois partidos do costume.

Finalmente, a minha avó materna vota no PS porque o meu falecido avô assim o fazia, embora seja confessa admiradora da figura de Oliveira Salazar.

A única conclusão a que se chego é que o voto universal é perigoso num país constituído, na sua maioria, por semi-analfabetos. A democracia é a ditadura da maioria e torna-se perigosa quando a maioria é pouco dada a perceber os problemas que a rodeiam.

No passado o voto não era universal pelos piores motivos. Os cidadãos eram discriminados ou porque não dispunham de rendimentos suficientes (voto censitário), ou por questões de género, ou por origem geográfica. Evidentemente que não quero regressar a esses tempos.

O que proponho é que os direitos políticos deixem de ser automáticos apenas porque alguém atingiu uma determinada idade. Na minha opinião, a possibilidade de se exercer o direito de voto tem que estar associada à aquisição de conhecimentos mínimos sobre a Constituição Portuguesa; sobre o nosso sistema político; sobre quais são as principais orientações ideológicas dos diferentes partidos políticos; de que forma aqui chegámos, ou seja, conhecer um pouco da História de Portugal; e qual a situação num determinado momento da sociedade portuguesa.

O desinvestimento na área da Cultura e do Ensino - no primeiro caso desinvestimento económico e no segundo nos padrões de exigência -, tornou a Sociedade da Informação uma miragem.

P.S. - Para os meus amigos de esquerda que vão vomitar quando lerem isto, lamento mas é mesmo isto que acho.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A importância do ensino da História

Parece que o ensino da História, enquanto disciplina autónoma, está ameaçado já que o actual Ministro, Nuno Crato, está com ideias de fundir esta disciplina com Geografia. Não sei quais serão os objectivos desta medida, embora facilmente se adivinhe mais uma "poupança" orçamental através da redução do número de docentes destas áreas.

Actualmente não faço a menor ideia de como a História é ensinada no ensino obrigatório. A última vez que frequentei a disciplina de História foi no ano lectivo de 1996/97, estava, portanto, no 9º ano de escolaridade, visto que no secundário optei pelo agrupamento científico-natural, regressando à História apenas em 2002/03, desta feita na FCSH/UNL.

Assim, é-me difícil avaliar se o modelo de ensino actual da História faz muito ou pouco sentido. O que sei é que faz sentido e, caso seja ensinado correctamente, faz TODO o sentido. Algumas pessoas menos letradas - para não lhes chamar ignorantes - têm bastante dificuldade em compreender para que serve a História e, concretamente, qual o intuito do seu ensino.

Recordo-me de ouvir uma funcionária de uma Biblioteca queixar-se que não percebia porque é que a filha tinha que saber o que foi o Paleolítico, ou de que forma ruiu o Império Romano.

Meus caros, compreender a História não é saber de cor os Reis de Portugal, embora isso possa ser (ou não) importante. Na realidade o objecto de estudo da História é o Homem, ou seja, vocês! E ao estudar o passado humano, a História explica grande parte do presente. Não é por acaso que cada um de nós nasceu num determinado local, fala uma determinada língua, tem determinados costumes, que Portugal é um pequeno estado-nação da Europa, ou que no Norte da Europa se vive substancialmente melhor.

O estudo e o ensino da História são fundamentais para o conhecimento da natureza humana, das suas particularidades, de que forma chegámos até ao presente, ou seja, para o nosso próprio auto-conhecimento enquanto sociedade.

P.S. - Entretanto uma pessoa ligada à História indicou-me este texto, concorde-se ou não creio que vale a pena ler:


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Secretário de Estado apela a jovens para emigrarem: Tem que se demitir!


Quando li, pela primeira vez, as recentes declarações do Secretário de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, aconselhando os jovens a emigrar senti desde logo que ele deixou de ter condições para exercer o cargo. Na minha óptica é como se um General aconselhasse o seu exército a desertar.

Na realidade o que Secretário de Estado disse provou que este não tem a confiança suficiente no seu trabalho e, ao mesmo tempo, no seu governo, para acreditar que consegue dar um outro futuro aos jovens portugueses. No entanto, provavelmente Alexandre Mestre só disse a verdade e, desta forma, comprovou a sua inutilidade para a sociedade portuguesa. Se assim é que se extinga o cargo, pois sempre se poupam mais uns milhares de euros.

Uma última reflexão, não deixa de ser curioso que num país extremamente envelhecido os governantes estimulem os jovens a emigrarem. Hoje fui visitar a freguesia do Maranhão, concelho de Avis, que é das mais despovoadas do Alentejo contando com apenas 65 habitantes. Junto da Barragem com o mesmo nome, existia uma pequena povoação que hoje está totalmente abandonada. A sede de freguesia, como devem calcular, parece tirada de um Western onde só faltam os arbustos a voar. Enfim é para isto cenário que caminhamos a passos largos.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

Mais um prego no caixão: o encerramento da Linha do Leste

Estado actual da estação de Chança

Fiquei a saber que os comboios de passageiros da Linha do Leste vão terminar já no final deste ano. Não é uma notícia que me surpreenda particularmente, já esperava uma decisão neste sentido, sobretudo, após o encerramento do Ramal de Caceres.

Obviamente que esta ligação não é minimamente rentável, segundo dados da CP, em 2010, esta linha foi utilizada por 28.164 passageiros, a uma média de 19 por comboio. Um amigo meu montargilense, a quem pedi a opinião sobre este assunto, referiu que era apenas um sinal dos tempos, que o transporte ferroviário estava completamente ultrapassado e, portanto, não fazia sentido manter uma linha deficitária.

Eu não concordo com a posição dele, embora só tenha utilizado a linha que agora vai ser encerrada por três vezes nos últimos dois anos. Assim, não vou discutir a pertinência do transporte ferroviário de passageiros, seria uma discussão demasiado longa para este espaço.

Vou antes deixar ao leitor três pequenas reflexões. A primeira, de ordem prática, é que a nossa região vai ficar ainda mais isolada, seja o comboio muito ou pouco utilizado. A segunda, é que do ponto de vista simbólico é mais um serviço público que fecha dando a noção que ninguém quer saber de nós. Por último, o Estado tem que pensar se prefere gastar alguns dos seus recursos para ir mantendo alguma população no interior ou se prefere que de uma vez por todas tornar grande parte do território nacional num deserto, ao mesmo tempo que o litoral se torna ainda mais superpovoado. Esta segunda opção tem altíssimos custos do ponto vista ambiental e social, certamente muito muito superiores ao que é gasto actualmente em centros de saúde, linhas de comboio ou escolas.

P.S.1 - Por comparação fiquei a saber que o Estádio de Leiria custa ao erário público mais de 12000 euros por dia, num total de 5 milhões por ano. Este "mono" é que de facto não serve ninguém!!

P.S.2 - Ouvi rumores que a Câmara Municipal de Ponte de Sor queria de alguma forma protestar activamente contra o fim da linha do comboio. Se for o caso conte comigo.