quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A inutilidade e obsolescência da Greve Geral


Amanhã, dia 24 de Novembro de 2011, as duas centrais sindicais - UGT e CGTP - convocaram uma greve geral dos trabalhadores. Alguns políticos, para além dos respectivos dirigentes sindicais, depositam uma grande esperança nesta greve como um ponto de partida para a mudança do sentido das políticas de austeridade que têm vindo a ser tomadas em Portugal. É o caso do líder (coordenador na terminologia daquele partido) do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, que vê a greve geral "como um novo 25 de Abril".

Embora concorde na generalidade com os motivos da greve geral, caso estivesse empregado, que não estou, e se fosse sindicalizado, coisa que nunca fui, não tomaria parte na mesma.

Em primeiro lugar, as sucessivas greves a que temos assistido têm-se pautado, sem excepção, pela sua inconsequência. É mesmo caso para dizer que "os cães ladram e a caravana passa". Na minha opinião, esta situação deve-se ao facto que a greve não tem qualquer impacto junto das autoridades quando o principal visado é o sector público. Aliás, arrisco que financeiramente a greve é benéfica para um Estado que se encontra completamente falido.

Em segundo lugar, e talvez se trate do ponto mais importante, os sindicatos não representam quem mais tem sofrido com o estado caótico das finanças públicas: os jovens e os desempregados. Devido a uma forte emigração e a um padrão salarial relativamente baixo, historicamente Portugal era um país com uma baixa taxa de desemprego, ou seja, neste cenário os sindicatos representavam uma proporção considerável da população activa portuguesa. Contudo, actualmente a taxa de desemprego real, isto é, a soma dos que estatisticamente se encontram desempregados com a inúmera massa de sub-empregados (bolseiros, estagiários, recibos verdes, trabalhadores de empresas de trabalho temporário, etc.), deverá rondar, pelo menos, os 20 a 25% da população activa. Assim, existe a priori uma massa enorme de cidadãos que não se encontra enquadrada em estruturas sindicais. Estes têm-se progressivamente organizado e associado a outras estruturas como o movimento dos indignados.

Por último, as greves e a luta sindical só me faz lembrar a luta do operariado quando o peso da indústria no produto nacional era significativamente maior do que é hoje em dia. Nestes tempos uma paragem na produção saía muito mais onerosa ao proprietário fabril do quando hoje se encerra uma escola ou se suprime uma carreira de autocarros.

Em jeito de conclusão, a greve é uma forma de luta anacrónica e inconsequente e, portanto, na sexta-feira tudo estará igual dia de hoje. Entretanto existiu uma paragem em alguns serviços, declarações inflamadas de alguns políticos, algo para encher os noticiários e pouco mais. Se desejam uma forma de luta diferente e ameaçadora, infelizmente só consigo imaginar uma, o recurso à guerrilha urbana.

6 comentários:

  1. Completamente de acordo. Em tudo, especialmente na ultima ideia.

    ResponderEliminar
  2. Pela primeira vez sinto-me obrigado a discordar de grande parte do teu post de hoje, na ultima greve geral do ano passado foi o inicio do anunciado fim do governo na altura a paralização quase completa de serviços importantes e a mega adesão provou o descontentamento geral que reinava e reina entre as classes sociais mais afectadas na altura e agora, quando referes que neste momento o sector publico é o mais visado estas enganado, ja se fala na penumbra que uma das proximas medidas a serem tomadas pelo governo com vista a minorar "o sofrimento" de um sector publico sera o corte de 50% nos subisidios do privado arrecadando assim para os cofres do estado uma verba significativamente maior do que com o corte total dos subisidios do sector publico basta fazer contas basicas e ver que é verdade. Estamos a atravessar uma altura deveras dificil mas entendo que se ficarmos calados e quietos e apenas conspirando nas sombras que nada mudara, a greve de amanhã e o arrancar de uma onda de protesto contra as leis de injustiça que ai vem contra um OE pensado a favor do patronato é um grito de revolta contra o empobrecimento das classes mais necessitadas e da diminuição do nosso ja diminuto poder de compra mas é tambem um elo de ligação naquilo a que vou chamar jogada psicologica por parte de quem manda e que se assiste agora, jogando o sector publico bastante visado nestes cortes contra o sector privado, abrindo assim as portas e a aceitação de novos cortes que acredito que estejam ha muito pensados contra o sector privado. Guerrilha urbana?A ideia é bastante apreciada mas neste momento terias pouca adesão e fundamento o pais precisa antes demais de ver por ele que não a outra saida....

    ResponderEliminar
  3. Tó,

    O que fez cair o executivo do sócrates foi um conjunto de factores nos quais a greve geral teve, na minha opinião, muito pouco peso.

    Não compreendo como é que o corte de 50% dos subsídios do sector privado pode ser arrecadado para o Estado. Aliás nem sei como é possível o Estado ditar aos privados que não paguem seja o que for, parece-me que é ilegal. Quanto muito o estado pode é lançar um imposto extraordinário sobre os privados, mas impedir qualquer pagamento creio ser ilegal.

    Claro que não defendo que devemos ficar quietos e calados, nunca fui apologista do carneirismo. O que digo é que a greve por si só não leva a nada, e que se queremos de facto mudar algo temos que partir para formas de luta mais radicais. A guerrilha urbana é um prazer pessoal que tenho, pois gostava de ver alguns dos intocáveis com medo. No entanto, isso não vai acontecer obviamente

    ResponderEliminar
  4. totalmente de acordo... masssss acho q se deve fazer alguma coisa, entao o que sobra para os comodistas dos portugueses. Greve! Eu amanhã não vou poder vir trabalhar por causa da greve, mas tb nao vou a mais manifestação nenhuma, bastou uma... onde vi a atitude e ignorância da juventude portuguesa. É triste!

    ResponderEliminar
  5. deixo aqui um link que tem algo a ver com isto e pode nem ter nada foi-me falado por um dirifgente sindical numa discussão acerca do momento actual do mundo e tive curiosidade pode não ser mais que uma teoria da conspiração mas que muita coisa bate certo la isso bate.
    http://www.realidadeoculta.com/silenciosas.html

    ResponderEliminar