terça-feira, 26 de novembro de 2013

Portalegre: uma cidade com um património (Visita dia 14 de Dezembro)

Fui pela primeira vez a Portalegre algures em 2003 ou 2004. Visitei os locais que, na altura, me pareceram óbvios: o Castelo, a Sé e pouco mais, tendo ficado com a impressão que se tratava de uma cidade com algum património potencialmente subaproveitado. Mais tarde, entre 2010 e 2011, trabalhei na cidade e foi aí que realmente a descobri. 


Foto 1 - Igreja de São Francisco de Portalegre (Séc. XIV)


Desde património industrial ao gótico, passando pelo Barroco e o Maneirismo, há de tudo um pouco nesta cidade. Um pouco, não! Há de tudo muito. No centro histórico multiplicam-se as casas com janelas e portas góticas, manuelinas e maneiristas. Em cada esquina encontramos um Palácio, uma Fonte, uma Igreja, um pedaço de Muralha, uma Torre do Castelo, uma Chaminé de uma Fábrica com centenas de anos.


Foto 2 - Fábrica Robinson (Séc. XIX)


Só Conventos, de rara beleza estética e arquitetónica, recordo-me, de cor, de três (São Francisco, São Bernardo e Santa Clara), um Colégio Jesuíta - hoje sede da Câmara Municipal - e um sem número de palácios - Barahona, Achiolli, Condes de Vila Real, etc. 


Foto 3 - Palácio Barahona (1800)


Com tamanho património é incompreensível a falta de turistas na cidade, a pouca oferta hoteleira e, sobretudo, o desconhecimento de alguns portalegrenses da sua história. Por todos estes motivos convido os leitores, se assim o desejarem, a virem comigo, no próximo dia 14 de Dezembro, Sábado, a visitarem a cidade de Portalegre. A ideia será, se existir um quórum mínimo de 8 pessoas, visitar o espaço Robinson e a Igreja de São Francisco de manhã e, após o almoço, a rede de património de Portalegre - um roteiro pelos principais monumentos da cidade. Consoante o número de interessados, marcar-se-á um restaurante em conta para o efeito. 

O custo das visitas é de apenas 2 € e a marcação terá que ser feita até dia 7 de Dezembro.



Foto 4 - Janela do Palácio dos Condes de Vila Real (Séc. XVI)

Prevendo que a maioria dos meus leitores norte-alentejanos sejam de Ponte de Sor, parece-me lógico a visita à ainda capital do Distrito. No entanto, uma visita a certos locais de Ponte de Sor também seria bastante frutuosa que, no caso de perceber que existe essa lacuna entre as pessoas com quem me relaciono, será a próxima.

Assim, se estiverem interessados, enviem um e-mail para: cmsaff@gmail.com

Aos lisboetas gostava que viessem descobrir esta cidade e, ao mesmo tempo, Ponte de Sor.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Saúde Pública no concelho dos Olivais

No século XIX, a sociedade «ocidental» aprofundou a consciência de que determinadas medidas de higiene tinham fortes repercussões na saúde pública. Neste sentido, a administração central do Estado emitiu, com alguma frequência, relatórios em que se aconselhavam determinadas práticas. Aliás, a Ana Isabel Silva já aqui deixou um bom exemplo aquando da epidemia de cólera de 1854.

Também as autoridades municipais procuraram melhorar o estado de salubridade dos territórios que administravam, através da publicação de posturas que obrigavam à manutenção de melhores níveis de higiene. Ora, o Município dos Olivais não constituiu exceção e, em 1853, um ano após a sua fundação, estabeleceu algumas medidas de higiene pública através da publicação de posturas nesse sentido.

Assim, a Comissão Municipal dos Olivais, após uma reunião ordinária na sede do Município, à época situada no número 3 do Largo do Leão a Arroios, aprovou uma postura que regulamentava o funcionamento dos açougues. Embora se tratem de diversos assuntos nesta postura, o artigo segundo refere que "Todos os açougues serão conversados no maior aceio possível, não só a casa, como tambem todos os utensilios, e ferramentas". Porém, há que admitir que se tratava de uma medida algo vaga e, na minha opinião, facilmente passível de ser ignorada, pelo que irá, como iremos ver, ser alvo de uma maior concretização.

Figura 1 - A atual freguesia dos Olivais em 1855.

Em seguida, em Julho de 1853, numa postura relativa ao estado das vias públicas, a Comissão Municipal proibiu "(...) todas as estrumeiras nos caminhos publicos, ruas e praças deste Concelho, bem como todas as que se acham junto das habitações (...)", acrescentando ainda que "(...) d'ora em diante só poderão ser feitas em distancia de trinta braças das mesmas habitações (...)".

Regressando, em Agosto de 1857, ao comércio de carne, a agora Câmara Municipal aperta a fiscalização a esta atividade, contratando um facultativo (médico) para examinar a qualidade da carne vendida nos açougues Olivalenses. Adicionalmente, proibiu-se a venda "(...) volante de carnes verdes e seccas (...)" e de carne cuja a proveniência não fosse um dos matadouros aprovados pela Câmara Municipal, sendo designado um Fiscal Municipal para acompanhar todo o processo. 

Por último, ainda na mesma postura, todos os fornecedores de carnes verdes são "(...) obrigados a dar entrada franca, tanto nos matadouros, como nos talhos, e seus respectivos accessorios não só aos officiaes da Camara (...) a fim de que ahi se possa exercer a necessaria inspecção hygienica (...)".

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Mouzinho da Silveira - «Um homem do Alto Alentejo»

José Xavier Mouzinho da Silveira (1780-1849) é uma das principais referências da Monarquia Constitucional portuguesa (1834-1910). Envolvido nos principais conflitos que levaram à afirmação do novo regime, Mouzinho da Silveira será também recordado por um  extenso conjunto de medidas de carácter legislativo que alteraram radicalmente a sociedade portuguesa. Entre estas encontram-se as limitações impostas (e, por vezes, extinção) às instituições vinculares - morgados, capelas, etc. -, a abolição do pagamento dos dízimos, a organização judicial e administrativa do Reino, entre muitas, muitas, outras. A sua atividade foi tão intensa que merecia, por si só, uma nova biografia. 

A sua vida ficou intimamente ligada ao Alto Alentejo, desde logo por ter nascido em Castelo de Vide, em 1780. Mais tarde, em 1809, iniciou a sua carreira como magistrado como Juiz de Fora de Marvão. Foi ainda Provedor da Comarca de Portalegre (1817-1821) e deputado, pelo círculo do Alentejo, na Câmara dos Deputados (1826-1828).

Mouzinho viria a falecer em 1849, em Lisboa, mas cumprindo a vontade do seu testamento foi enterrado na freguesia da Margem, concelho de Gavião*. Posteriormente, em 1875, foi erguido um monumento, no largo principal da freguesia de Margem, à sua memória, tendo a sua construção sido financiada por uma subscrição pública do Jornal do Commercio.

Muito mais haveria para dizer, mas este post serve apenas para um pequeno enquadramento das fotografias que se seguem.

* Mouzinho expressara, como primeira escolha, a vontade de ser enterrado na Ilha do Corvo, mas por motivos de ordem logística e financeira, que o próprio previra referindo Margem como alternativa, tal não veio a acontecer.

 Foto 1 - Sala do Tribunal de Marvão em que Mouzinho se estreou como Juiz.

  Foto 2 - Tribuna onde Mouzinho iniciou a sua atividade como magistrado (Marvão)

Foto 3 - Busto de Mouzinho da Silveira no largo principal, com o seu nome, da freguesia de Margem (Gavião)

Foto 4 - A última vontade de Mouzinho da Silveira (Margem, Gavião). 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Produção Alentejana de cortiça, em 1905, discriminada por concelho

Algumas das principais problemáticas do meu projeto de doutoramento serão estudadas a partir dos registos notariais dos concelhos alentejanos com maior produção florestal e industrial de cortiça. É a partir da informação contida neste tipo de fontes que procurarei resolver as problemáticas relativas ao funcionamento do mercado da terra, entre as quais saliento a análise detalhada dos contratos de arrendamento e/ou de venda de cortiça.





Os conteúdos dos registos notariais encerram ainda informações sobre o estabelecimento de sociedades comerciais e industriais, pelo que também possuem algum potencial na caracterização da indústria corticeira presente no Alentejo. Já relacionado somente com a problemática da deslocalização industrial e das estratégias empresariais, estes registos permitir-me-ão determinar a constituição (ou não) de redes de informação sustentadas pelas empresas, através do recurso a colaboradores no terreno. Toda esta importante documentação encontra-se disponível para consulta nos diversos Arquivos Distritais da região Alentejana – Portalegre, Setúbal, Évora e Beja.


No entanto, sendo impossível consultar todos os concelhos, há que fazer uma escolha. Assim, estou-me a centrar num conjunto selecionado de municípios do espaço alentejano. Este não são mais do que o «TOP 10» em termos de produção de cortiça aos quais se juntam, pelo facto de se terem constituído como importantes centros industriais de cortiça, os concelhos de Portalegre (sede da Robinson Cork Grewers, Ltd.), e de Estremoz (sede da Sociedade Nacional de Cortiças, propriedade da família Reynolds).

Deixo-vos, por mera curiosidade, essa lista.

Produção Alentejana de cortiça discriminada por concelho (1905)


Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo/ Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria/ Direcção-Geral de Agricultura/ NP 952/ Documento 10.

Legenda: A castanho os concelhos em que estou a pesquisar (ou pesquisarei) os respetivos registos notariais.

Nota: Veja-se como, em 1941, Ponte de Sor já tinha ultrapassado muitos dos concelhos que aqui ainda se encontravam à sua frente: http://sobreaponte.blogspot.pt/2012/11/concelhos-com-maior-producao-de-cortica.html