sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Estados Unidos da Europa


A partir da época moderna e, sobretudo, após a Revolução Industrial, os pequenos países do continente europeu lideraram o mundo do ponto de vista militar, político, económico, etc. Com o final da Segunda Guerra Mundial, dois gigantes passaram a disputar o anterior predomínio europeu, contudo, um deles é um país essencialmente europeu (União Soviética) e outro, em grande medida, uma extensão da civilização europeia (Estado Unidos).

No entanto, seria uma questão de tempo até novos actores surgirem na política internacional. Assim, bastou que China, Brasil e Índia se desenvolvessem um pouco mais para, devido às duas dimensões continentais, passarem a ter um peso decisivo dificilmente ao alcance de países 10 e 20 vezes mais pequenos.

É esta a situação em que nos encontramos hoje. Mesmo a Alemanha é um país relativamente pequeno se compararmos os seus 80 milhões de habitantes com os 180 milhões do Brasil, os 1200 milhões da Índia ou os 1300 milhões da China. Neste panorama, Portugal com os seus 10 milhões de habitantes distribuídos por escassos 90 mil km2 é pouco mais do que uma pulga.

A questão se coloca é então a seguinte: Querem os europeus a continuar a ter uma palavra decisiva na forma como o mundo funciona? Se sim então a única solução é criar um estado federado que consiga competir com as grandes potências emergentes. No seu conjunto a União Europeia tem quase 500 milhões de habitantes e é de longe a primeira economia do mundo.

Por muito que seja doloroso para alguns países da dimensão de Portugal simplesmente já não fazem sentido. Tiveram o seu tempo, quando a viagem de Lisboa a Santarém demorava um dia a cavalo, mas para mim Portugal é já um anacronismo.

Eu prezo imenso a cultura europeia responsável por um dos principais garantes do bem-estar social: a liberdade. Por maiores atropelos que existem e que tenham existo num passado recente à liberdade na Europa, se compararmos com civilizações como as do Extremo Oriente, África ou até América do Sul, facilmente chegamos à conclusão do que vai acontecer ao mundo quando os centros de decisão passarem para qualquer um destes continentes.

Eu não pretendo viver num mundo em que a civilização europeia não tenha um papel preponderante, e como tal faço votos que esta crise nos leve, por fim, até ao federalismo.

6 comentários:

  1. Não sei se seria essa a solução, é um pouco vago apontar para a placa que diz "federação" sem explicitar maior detalhe.

    Quanto maior o projecto político, maior também a distancia que separa os governantes dos governados. Porque quanto maior o número e diversidade de governados, das duas uma: ou entras pelo autoritarismo e todos se regem pela mesma medida (o que é sempre injusto para todos) ou governas no abstrato e cais na ineficácia (o que faz com que todo o sistema tenha pés de barro e seja facilmente usado em proveito próprio por alguns que têm mais poder num ou outro sector).

    Além de que tal união política nunca seria bem conseguida a curto prazo. E são precisas soluções a curto prazo. Soluções que não passem por saldar dívidas com mais dividas.

    E cuidado com as mitologias. A liberdade e muitas das seguranças (queria evitar dizer "sociais" porque quero ser mais abrangente) que temos na Europa não lhe são inerentes nem inatas. Muito pelo contrário. São exactamente as mesmas coisas pelas quais lutam os chineses, os africanos, e todos os outros que de quem pareces ter medo quando os centros de decisão passarem para os seus continentes.

    Tivemos (nós os europeus, de forma geral, muito geral) 50 anos que nem foram maus, nesse aspecto. Mas enquanto caminhavamos para sociedades mais equalitárias (com atropelos) promovemos directa ou indirectamente a perda de liberdade de muitos outros.

    E ao mesmo tempo, seremos assim tão livres? Ou apenas trocámos uma forma de domínio por outra, que talvez até seja pior - porque subsiste na ilusão da liberdade?

    Espero ter feito algum sentido porque já passa das quatro da manhã...

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  2. Pedro,

    Evidentemente que a minha ideia de "Federação" necessita de muito maior explicação do que aquela que aqui está descrita, mas este espaço é demasiado pequeno para o fazer.

    Como classificas o funcionamento de alguns sistemas federais: EUA, Canadá, Brasil? Achas que são demasiado autoritários ou ineficazes? (a pergunta é honesta)

    Quanto à solução de curto prazo, eu fiz este post não a pensar na actual crise do "Euro", já penso assim há alguns anos, portanto vamos ignorar a actual conjuntura na análise desta questão.

    Também não acho que a "liberdade" seja uma característica inata dos europeus, porém, está já bem enraizada na civilização europeia que se encontra ameaçada e uma Europa Federal seria um maior garante da sua manutenção do que a Europa das Nações.

    Não sei bem como promovemos a perda de liberdade dos outros, se puderes concretizar.

    Não somos totalmente livres, até porque quase ninguém o é, mas somos bastante mais livres do que os chineses ou os africanos, disso não tenho dúvidas.

    Obrigado pelos teus comentários sempre muito pertinentes ;) Fico a aguarda pela resposta

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  3. Carlos acho que tens toda a razão...no entanto, isso é utópico (infelizmente)...

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  4. Maria, não creio que o seja. Foi exactamente assim que se forjou a Alemanha e a Itália, a primeira com início num acordo aduaneiro. Por exemplo, na Grande Guerra (1914-18) ainda existia um exército Bávaro com alguma autonomia em relação ao exército imperial alemão. Hoje a Alemanha é um país unido, porque não o mesmo com a Europa?

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  5. A pergunta é honesta e terá uma resposta honesta. Em qualquer um dos países que referes existem, como em tudo, aspectos positivos e negativos. Terei todo o prazer (como sabes) em debater aspectos particulares mas seria já divergir da questão Europeia que colocas inicialmente. De modo geral, não considero os sistemas dos países que referes exemplo para ninguém, talvez excepção para o Canadá, mas também pouco conheço deste último.

    O meu comentário anterior era bastante simples. Não coloco de parte a ideia de uma Europa Federal, apenas digo que é necessário muito cuidado - não por medo de uma qualquer perda de soberania, mas porque esta forma de organização não garante por si só nem a liberdade, em qualquer uma das suas vertentes, nem uma maior "facilidade de manutenção". Muito pelo contrário.

    Quanto maior o espaço e o número de pessoas maior será a diversidade e a complexidade da governação. Maior será a necessidade de abstração a nível legislativo (de novo, a menos que pretendas entrar numa vertente autoritária). Maior será a distância entre a administração e o planeamento desta administração e aqueles em prol de quem esta administração supostamente trabalha.

    Numa federação existirá por definição um determinado nível de autonomia local. No papel, parece uma ideia equilibrada. Na prática, não me parece tão fácil definir a linha. Num dos exemplos que deste, os EUA, ainda tens de tempos a tempos ameaças de secessão de estados como o Texas. Tenham ou não algum conteúdo e fundamento, parecem-me evidencia de que esta forma de organização não garante, por si só, unidade ou estabilidade. Muito menos liberdade.

    Mas como disse, não acho que uma organização federativa seja algo descabido, muito pelo contrário. Mas parece-me que é necessário construir a unidade - não apenas económica como também política, militar, etc, e acima de tudo, social - de forma gradual. É necessário criar não apenas interesses comuns como acordos comuns sobre as formas de alcançar esses interesses. E isto através de corpos políticos realmente representativos e organizações civis cuja participação democrática seja real - e não apenas para fins decorativos.

    Por outras palavras, o que quero dizer é que existem problemas de base muito mais pertinentes que têm de ser resolvidos antes de avançar para uma solução desse calibre. O principal, quanto a mim, seria assegurar a participação cívil verdadeira dos cidadãos, em deterimento de uma qualquer "classe política" (mas isto seria outro post). De outro modo, estás a criar algo muito, muito frágil.

    Quanto a sermos mais livres "do que chineses", tens razão. Quanto aos africanos, como sabes é um continente e não tenho informação suficiente sobre todos os países que dele fazem parte para concordar ou discordar contigo. Mas daí até assumir que a supremacia desses países tem subjacente por defeito um qualquer estilo autoritário, e assumir isso por oposição a uma suposta liberdade promovida pelos países ditos "ocidentais"... também tenho sérias duvidas.

    Há tanta coisa aqui que é debatível. Mas tens de dar mais carne para mastigar nos teus posts para sairmos destas generalidades. Porque no fundo, até fazes algum sentido.

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  6. Que bons exemplos então conheces?

    Claro que é difícil montar uma união federal mas vê a resposta que dei à Maria João sobre os casos da Alemanha e Itália.

    Falo de África de uma forma geral, cometendo a imprudência de eventualmente estar a ser incorrecto para com um ou outro caso.

    Lamento mas não tenho quaisquer dúvidas que a nossa liberdade, por maiores defeitos que tenha, é bastante superior em todos os aspectos ao que se verifica em outras regiões do globo (poderão existir excepções que desconheça mas de forma geral é assim).

    Mais carne é complicado porque este local é demasiado curto e gostava que fosse apreciado por um público generalista, o que significa falar sobre generalidades.

    Espero continuar a contar com a tua atenção nos comentários e, caso queiras, podes também escrever.

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