segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O “ouro português”: a evolução do negócio corticeiro em Portugal


(Parte 3: As primeiras décadas do século XX (1900-1929)

                Os primeiros anos do século XX trazem uma novidade técnica que revolucionou a indústria da cortiça, a descoberta do aglomerado de cortiça. Este, patenteado pela firma alemã Grünzweig & Hartmann e, quase em simultâneo, fabricado também nos Estados Unidos pela Armstrong Cork Company, será responsável pela diversificação dos produtos de cortiça – agora utilizada também em aplicações como isolante e de revestimento na construção civil -, pela mecanização da transformação de cortiça e, consequentemente, pelo aparecimento de novas grandes corticeiras e do aumento investimento externo em Portugal neste sector.

            Os primeiros países que produziram o aglomerado (França, Estados Unidos, Alemanha) detinham um potencial industrial e tecnológico muito superior ao português. No entanto, não dispondo da matéria-prima eram obrigados à sua importação, ao que se somavam os custos indissociáveis do comércio internacional, isto é, os custos com o transporte e as respectivas tarifas aduaneiras. Assim, algumas multinacionais optaram por se fixar em Portugal como é o caso da Mundet, cuja principal unidade em território nacional foi inaugurada em 1906 no Seixal.

            A produção no início do século XX continua a crescer com base na mesma estrutura de sempre, onde predomina a preparação de cortiça e o fabrico de rolhas. Porém, com a Grande Guerra (1914-18), a indústria corticeira nacional atravessa uma grande crise devido, por um lado, ao afrouxamento natural do comércio internacional e, por outro, pelo facto que entre os principais beligerantes se encontravam também os maiores importadores de cortiça a nível mundial. Terminado o conflito, Portugal conheceu um período de inflação galopante acompanhado de uma forte desvalorização da moeda o que, de certa forma, amorteceu o aumento de custos provocado pelo crescimento desmesurado dos preços. Ou seja, os corticeiros lusos estiveram em condições competitivas razoáveis e, mal a procura internacional regressou em larga escala, puderam efectuar transacções rentáveis.

            Foi precisamente esta última situação que ocorreu durante a década de 1920, quando a procura mundial de aglomerados cresceu de uma forma significativa. É neste período, por exemplo, que a Mundet abre uma segunda fábrica dedicada somente a este produto no Montijo.

            Esta época caracterizou-se ainda por alguma deslocalização geográfica da indústria corticeira em direcção aos grandes portos atlânticos como a região de Lisboa (Tejo), Setúbal (Sado) ou Porto (Douro). Tal deveu-se ao desenvolvimento da rede de transportes, permitindo que deixasse de ser essencial que as principais fábricas se situassem junto da região produtora. Ainda assim, no distrito de Portalegre, subsistiram algumas corticeiras com o já inevitável destaque para a Robinson de Portalegre, o único empreendimento de grande dimensão do distrito.

Indústria de cortiça no distrito de Portalegre em 1923

Concelho Nº Empresas Nº Trabalhadores
Ponte de Sor 1 24
Portalegre 1 600
Sousel 1 1
Total 3 625

2 comentários:

  1. Muito interessante! Um bom contributo para a afirmação da importância histórica que esta magnífica matéria-prima tem na economia portuguesa!

    Jorge Maroco Alberto

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  2. Jorge,

    A cortiça deve ser dos poucos produtos em que Portugal dispõe de uma vantagem absoluta no mercado mundial, devido a sermos o território onde ela cresce naturalmente quer em quantidade, como em qualidade. Assim, temos que valorizar este produto em todos os seus aspectos.

    Um abraço

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