sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A motivação do Homem por Adam Smith


Adam Smith (1723-1790) foi um filósofo e economista escocês numa época onde tal ainda era possível. Tive o prazer de ler as duas obras mais conhecidas deste autor; na totalidade, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations; e, de forma parcial, The Theory of Moral Sentiments.

Wealth of Nations é considerado o primeiro trabalho de economia e, devido sobretudo a esta obra, Smith é encarado como o fundador da ciência económica. No entanto, publicada numa época onde o conhecimento científico ainda era relativamente reduzido, permitindo que um grande pensador pudesse dominar várias áreas em simultâneo, e imbuída pelo espírito iluminista, Wealth of Nations possui algumas reflexões de carácter quase filosófico.

Hoje trago-vos uma sobre a natureza humana que tive que a transcrever mal a li, pois acho-a genial. Na minha opinião, o que estão prestes a ler resume grande parte daquilo que somos, mas deixo à vossa consideração outras possíveis opiniões. Leiam, vale mesmo a pena.

“ (…) O cachorro afaga a mãe, o pequeno cão de estimação procura de mil formas atrair a atenção do dono, que está a jantar, quando quer que ele lhe dê comida. O homem usa, por vezes, dos mesmos artifícios dos com os seus congéneres e, quando não tem outra maneira de os levar a agir de acordo com os seus desejos, procura, por meio do servilismo e da adulação, obter a sua boa vontade. Não tem, contudo, tempo para fazer isto a cada momento. Numa sociedade civilizada ele necessita constantemente da ajuda e cooperação de uma imensidade de pessoas, e a sua vida mal chega para lhe permitir conquistar a amizade de um pequeno número. Em quase todas as outras espécies animais, cada indivíduo, ao atingir a maturidade, é inteiramente independente e, no seu estado normal, não necessita de ajuda de qualquer outro ser vivente. Mas o homem necessita quase constantemente do auxílio dos seus congéneres e seria vão esperar obtê-lo somente da sua bondade. Terá maior probabilidade de alcançar o que deseja se conseguir interessar o egoísmo deles a seu favor e convencê-los de que terão vantagens em fazer aquilo que ele deles pretende. Quem quer que propõe a outro um acordo de qualquer espécie, propõe-se conseguir isso. Dá-me isso, que eu quero, e terás isso, que tu queres, é o significado de todas as propostas desse género; e é por esta forma que obtemos uns dos outros a grande maioria dos favores e serviços que necessitamos. Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração que eles têm do seu próprio interesse. Apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles. (…) ” 

2 comentários:

  1. É muito interessante, o Adão. Esta altura (revoluções americana e francesa, transição iluminismo - romantismo, fim dos absolutismos...) é imensamente rica em tipos como ele. Gajos ultra cultos, livres pensadores, que já haviam papado os autores Clássicos com a idade em que nós ainda víamos o songoku, e que - mais que tudo - em vez de autenticos manuais técnicos sobre uma disciplina em particular, eram verdadeiros tomos de Cultura transversal.

    Os Vitor Gaspares são pintelhos* quando comparados com estes gigantes ;)

    O pensamento destes tipos é a verdadeira Economia (avant la letre, bem entendido). Permeada e enriquecida por uma dimensão filosófica que nenhum dos "cromos" de hoje ousaria, sequer, abordar. Sabe, às vezes acho que se deixou de pensar a Economia como a ciência humana que é, tentando circunscrevê-la a este híbrido contabilístico e hiper-modelando actual, exactamente por pequenez intelectual e incapacidade de pensar, ler e reflectir sobre aquilo que somos.

    Por isso, lá está, dizem-se, pensam-se e executam-se tamanhas barbaridades como as que hoje em dia estamos a assistir.

    De qualquer modo, e voltando aqui ao Adão (que tem uma campa muito luterana - e cheia de moedinhas :) - num sombrio mas simpático cemitério de Edimburgo), recomendo que o cruze com pensadores da época, para aprofundar mais a coisa. Veja isto à luz do Rousseau, dos Fouding Fathers, de uma perspectiva utilitarista do Homem e o necessário afastamento da Bíblia como ordenador social, de uns toques do mesmo mindset (partilhado) que havia de conduzir a Marx e a Darwin.

    Já agora, penso que é na Teoria dos Sentimentos Morais (esse não li, mas estou a tirar pela pinta) que o A.S. começa a desenvolver os pilares deste excerto que aqui publica.

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  2. Gonçalo,

    Sim tens razão, todos parecem esquecer-se que a Economia é uma ciência social e que o comportamento humano, infelizmente, não se adequa a modelos econométricos (e contra mim falo que os utilizo).

    As suas recomendações são muito bem-vinda, porém, não disponho do tempo necessário para as ler.

    É bastante provável o que diz sobre a Teoria dos Sentimentos Morais, mas não sei confirmá-lo. Como referi só a li parcialmente e durante uma semana de férias que tive em Junho de 2009.....já só tenho uma vaga ideia do que li.

    Um abraço.

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