sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Arquitetura civil oitocentista: entre Ponte de Sor e Olivais

No passado dia 21 de setembro, os “Encontros com a História” associaram-se à comemoração das Jornadas Europeias do Património e tive oportunidade de apresentar, no CAC de Ponte de Sor, uma pequena comunicação sobre “Arquitetura civil oitocentista no concelho de Ponte de Sor”. Tendo começado por caraterizar o contexto da produção arquitetónica em Portugal ao longo do século XIX, marcado sucessiva e também cumulativamente pelo neoclassicismo, o romantismo e o ecletismo, centrei-me depois nas tendências verificadas na arquitetura do sul do país e, em particular, em alguns imóveis oitocentistas do concelho de Ponte de Sor. Foi possível identificar elementos arquitetónicos neoclássicos, designadamente o traçado retilíneo das fachadas, o desenho de alguns vãos e o recurso a frisos e platibandas (sobretudo com balaustrada), encimadas por acrotérios (em forma de vaso ou esfera) e/ou estátuas. Mas verifica-se igualmente a introdução de componentes decorativos românticos e ecléticos, sobretudo o revestimento azulejar das fachadas e os belos trabalhos em ferro nas guardas e nas bandeiras dos vãos.


O estudo de um determinado assunto, principalmente no que à arte diz respeito, aguça-nos o olhar e desperta-nos para realidades que até então nos tinham passado despercebidas. Depois de umas semanas a estudar a arquitetura oitocentista e a observar atentamente imagens de múltiplos edifícios, incluindo pormenores que se perdem nas vistas gerais das fachadas, dei por mim a ver de outra forma ou a “ver” pela primeira vez diversos imóveis, não só em Ponte de Sor, mas também em Lisboa e, em particular, na zona dos Olivais. Aliás, neste caso, julgo ter despertado o mesmo tipo de “olhar” ao Carlos, que me alertou para as várias semelhanças entre os edifícios do centro histórico daquela freguesia lisboeta e os de Ponte de Sor, analisados na referida comunicação. Afinal (e não resisto a esta pequena provocação), constata-se que na então ainda “Capital do Império”, a par das tendências mais modernas e dos exemplares da “arquitetura de ponta” a nível nacional, se projetava de forma semelhante à da província, no que a arquitetura doméstica erudita diz respeito.

[Nota do editor: Os Olivais foram sede de concelho até 1886 e, portanto, não estavam integrados em Lisboa na época em que alguns destes edifícios foram projetados. Posteriormente, a freguesia continuou a manter um certo carácter pefiférico que só se esbateu totalmente em meados do século XX. Este tipo de arquitectura encontra-se, com facilidade, na Rua de São Bento com cronologias mais recuadas - anos 1850. Isto sem nenhum desprimor para «as nossas terras», Olivais e Ponte de Sor]

Seguem abaixo diversas fotografias de conjunto e de pormenores de imóveis oitocentistas pontessorenses, em particular, os Paços do Concelho e as Casas das Famílias Góis, Branco e Braga; bem como de dois edifícios contemporâneos olivalenses, ambos mandados edificar pelo industrial Francisco Alves Gouveia.

Casa da Família Goes (1877), Ponte de Sor.
Pormenor do gradeamento em ferro da Casa Goes.
Acrotério em forma de vaso, Casa Goes.

Paços do Concelho de Ponte de Sor (1886).
Acrotério de forma esférica, encimando o frontão da fachada lateral dos Paços do Concelho de Ponte de Sor. É idêntico ao que encontramos num dos edifícios da freguesia lisboeta dos Olivais (ver abaixo).
Acrotério em forma de vaso, Paços do Concelho de Ponte de Sor.

Casa da Família Braga (1900), Galveias, Ponte de Sor.
Estátua em cerâmica, figura feminina, Casa Braga.
Estátua em cerâmica, figura masculina, Casa Braga.

Casa mandada construir por António Pais Branco (1899), Ponte de Sor.
Pormenor do revestimento azulejar da fachada da Casa Pais Branco.

Pormenor do gradeamento em ferro da Casa Branco.


Casa mandada construir pelo industrial F. A. Gouveia, Olivais, Lisboa.
Acrotério em forma de vaso ou urna, casa acima.
Acrotério de forma piramidal, casa acima.
Friso com revestimento azulejar, casa acima.

Casa mandada construir pelo industrial F. A. Gouveia (1899), Praça da Viscondessa dos Olivais.
Revestimento azulejar da fachada da casa acima, incluindo o nome do encomendador e a data de construção.
Pormenor da platibanda da casa acima, com estátua e acrotério.

Estátua em barro (?), figura feminina, casa acima.
Acrotério de forma esférica, casa acima. É idêntico ao que encontramos no edifício dos Paços do Concelho de Ponte de Sor (ver acima).

1 comentário:

  1. Ana,

    A questão é que os Olivais não eram, até bastante tarde, da capital do império. Sede de um concelho próprio, só foram integrados no concelho de Lisboa em 1885 (ou será 1886?), mantendo, no entanto, um certo carácter periférico e rural até aos anos 1940.

    Beijinhos e obrigado :p

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