sábado, 4 de fevereiro de 2012

Todos temos um Cavaco dentro de nós


Existe um exército de pessoas sem-abrigo, diria que são algumas dezenas, que "vivem" no acesso subterrâneo da Gare do Oriente. Como estive afastado de Lisboa durante mais de um ano, reparei que o seu número aumentou consideravelmente, talvez por causa da crise, talvez porque o local é "abrigado", talvez um pouco de ambos, não sei. O que sei é que faz impressão pensar que existem tantas pessoas a dormir (?) praticamente na rua com este frio.

Uns serão certamente culpados da situação em que se encontram, outros simplesmente tiveram azar em algum momento ou durante a vida toda. Independentemente disso ontem de manhã, cerca das 08h40, assisti a uma discussão entre um vigilante da Gare do Oriente e um "sem-abrigo". Não faço ideia o teor da conversa, nem tão-pouco quem teria ou não razão, mas a dada altura o vigilante afirmou "(...) o seu problema é estar mal habituado (...)". Uma pessoa que diz a outra que vive na rua, que dorme num muro de ladrilhos gelados quando estão 3ºC, que está mal habituado, tiradas as devidas proporções, acaba por agir como Cavaco quando este se queixa da sua reforma. O sem-abrigo pode ser tudo: violento, bêbado, drogado, mal-formado, avarento, mas de certeza que não está "mal habituado" seja ao que for.

Este pequeno episódio recordou-me, novamente, o egoísmo humano, a sua pequenez e Adam Smith pois, em relação à maioria de nós, sempre que necessitamos de algo "apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles. (...)"

3 comentários:

  1. Carlinhos, claro q o senhor vigilante esteve no seu pior e isso não se diz, mm q se pense.
    Mas há uma realidade q n conheces, que é a a verdadeira intervenção social. Eu já fiz durante um tempo trabalho de rua e passei à noite pela Gare e outros locais de Lx onde há sem-abrigo, neste caso à procura de crianças. E posso dizer-te que sim, apesar de estarem nessa situação (e a grande maioria está pq quer, acredita), estão mal habituados. Jogam com as IPSS (que há em demasia e a fazer trabalho sobreposto...que não resolve o assunto) e com os apoios que elas lhes podem dar...mts na verdade não querem ser ajudados a construir um projecto de vida. E isto é um verdadeiro "jogo", pq as IPSS precisam deles para terem tb apoios do Estado...
    Digo-te isto, e olha que não é a minha opinião apenas, ainda esta semana isto foi falado numa reunião de parceiros onde estavam pessoas que trabalham com pessoas sem-abrigo.
    Às vezes as coisas não são o que parecem...e olha q dd q entrei para o social percebi que muitas das minhas ideias prévias afinal estavam erradas.
    O social é tb um mundo podre, o que é uma das razões para eu querer mudar. É um jogo de interesses entre os utentes e as IPSS e não se resolvem os problemas de fundo.

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  2. Maria,

    Incrível há 10 anos tu terias escrito este texto e eu feito o teu comentário, nada como o conhecimento empírico para se ter uma verdadeira opinião. Quanto ao Estado e aos apoios do Estado ao "social", sim há demais e muitos recursos são desperdiçados com quem não merece.

    Bjs ;)

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