quarta-feira, 10 de julho de 2013

Alguns dos usos e limites da Cliometria

Começo a publicar alguns dos trabalhos que realizei na componente letiva do meu doutoramento que, por sua vez, alguns foram publicados em Revistas especializadas em História. Hoje trago uma discussão que fiz sobre a Cliometria, tendo como ponto de partida um conhecido trabalho de Fernando Rosas. Deixo apenas dois pequenos trechos porque, caso estejam interessados, podem ler o artigo na íntegra aqui.


Alguns dos usos e limites da Cliometria

O uso de sofisticados métodos quantitativos de origem econométrica, assim como o recurso à teoria económica no estudo da história económica, a partir da década de 1960, levantaram um intenso
debate académico sobre as limitações que estas abordagens teriam à luz das particularidades do processo
histórico. Embora este debate tenha tendido para a sua «pacificação», na historiografia portuguesa perdurou
(e perdura?) até recentemente (Cardoso 2011, 488–494). Este trabalho parte precisamente de uma
publicação da autoria do historiador português Fernando Rosas, analisando somente as principais críticas
que este autor apresenta. Desta forma, muitos outros aspetos relacionados com a cliometria, e passíveis
de uma séria reflexão historiográfica, são intencionalmente ignorados. São os casos do recurso à
história contrafactual, do(s) método(s) como se constroem estatísticas retrospetivas e ainda da minuciosa
crítica de fontes a que devem ser sujeitas as estatísticas produzidas coevamente. Na realidade, o uso da
cliometria é um objeto de estudo que, do ponto de vista metodológico, pode ser perfeitamente tratado
através de uma exaustiva monografia, mesmo que limitado ao caso português, não obstante a modesta
disseminação da cliometria na historiografía económica nacional quando comparada com outros países.

(...)

Uma crítica à cliometria.

Ao estudar a economia e a política económica do Estado Novo, Fernando Rosas critica as abordagens de carácter cliométrico. Segundo este autor, partindo de modelos “(…) irredutíveis, quase sempre, a variáveis quantificáveis, à causalidade ou a abordagens monocausais (…)” (Rosas 2000, 15), fruto da aplicação à história da teoria económica neoclássica, a «nova história económica» reduziu-se à simplificação das explicações “(…) de tipo monocausal e reducionista (…)” (Rosas 2000, 14), ignorando outro tipo de raciocínios e explicações fundamentados na análise de outros géneros de fontes não mensuráveis, nomeadamente, neste caso específico, de carácter político. Por outro lado, os trabalhos cliométricos reproduzem as limitações inerentes aos “(…) pressupostos ideológicos de equilíbrio daquela escola económica [neoclássica] (…)” (Rosas 2000, 15). Adicionalmente, a transposição de conceitos e modelos económicos formulados contemporaneamente para o passado trouxe a este tipo de estudos o pior dos pecados do historiador, o anacronismo. Este autor, embora de forma pouco expressiva, acaba ainda por estender o seu ceticismo às “(…) realidades económicas dos séculos passados (…)” (Rosas 2000, 15), depreendendo-se que as suas críticas não se aplicam somente à análise cliométrica da economia portuguesa durante o Estado Novo.
As críticas apontadas têm, evidentemente, legítimas preocupações historiográficas, pelo que algumas também têm sido notadas por outros autores, quer cronologicamente a jusante (Ramos 1988), quer a montante (Tosh e Lang 2009). Estas refletem, na minha opinião, alguns dos limites e riscos da cliometria sem que, no entanto, se possam aplicar sistematicamente ao trabalho cliométrico, sobretudo tendo em conta as alterações metodológicas que este tem sofrido desde meados da década de 1980 (Greif 1997), através do reforço da contextualização histórica, da diversificação das teorias económicas de onde partem os modelos teóricos com que são construídas as hipóteses, e da adaptação destas a um determinado contexto histórico.

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