segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O tempo da outra Troika


As mais recentes estimativas da evolução produto português não são nada animadoras, já que neste momento apontam para uma queda a rondar os 3,3%, o segundo pior desempenho da economia portuguesa desde, pelo menos, a Segunda Guerra Mundial. Parece que Portugal não se anda a dar muito bem com as receitas desta Troika, contudo, foi outra a Troika responsável pela maior queda da economia portuguesa. Estávamos então em 1975 e após um conjunto de nacionalizações, ocupações de terra e coisas parecidas, a economia portuguesa registou uma queda de 4,3%.

Foi então que a Revista Time fez, pela terceira e que eu saiba última vez, uma capa dedicada a Portugal - as outras duas foram com Oliveira Salazar (1958) e Spínola (1974). Com Vasco Gonçalves, Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Gomes, alcunhando-os de "Lisbon Troika", o periódico norte-americano assinalava a "ameaça comunista" que então se fazia sentir sobre Portugal.

Será que vamos bater este triste recorde? E em caso afirmativo teremos, mais uma vez, "direito" a uma capa da Time? Aceitam-se apostas!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A vergonha de ser português




No passado sábado assisti na SIC Notícias a uma entrevista de Maria Filomena Mónica. Ora como a entrevistada é daquelas pessoas que aborda um variado leque de assuntos, tal como, por exemplo, Marcelo Rebelo de Sousa, Filomena Mónica deu-me 3 ou 4 assuntos que tratarei aqui.O de hoje é dos poucos em que concordo com ela.

A socióloga utiliza como metáfora para um determinado comportamento do povo português a figura do Zé Povinho, isto é, a figura do saloio que faz o manguito ao patrão, mas apenas nas suas costas, pois à sua frente curva-se perante o magnânimo senhor. Infelizmente, tal como Filomena Mónica o considera, trata-se de uma atitude absolutamente cobarde e desprezível, de uma subserviência básica e acrítica, que me dá voltas ao estômago.

Embora ainda não tenha 30 anos, já presenciei estas atitudes por diversas ocasiões, sobretudo nos meios mais pequenos onde, simultaneamente, tudo se sabe, o "patrão" tem mais poder e existem poucas alternativas para o "servo" se empregar.

Isto deve-se, na minha opinião, a conjunto de factores. Em primeiro lugar deve-se à falta, na sociedade portuguesa, de uma mentalidade verdadeiramente democrática, onde o "patrão" está verdadeiramente disposto a ouvir as críticas/sugestões do seu subordinado e, ao mesmo tempo, onde o subordinado não se preocupa em procurar a crítica construtiva, limitando-se a criticar só por criticar e a esquivar-se ao seu trabalho sempre que pode.

Em segundo lugar, a pobreza crónica do povo português é outro factor determinante, já que este sabe que não pode colocar em risco o seu sustento, pois arrisca-se a um mar de dificuldades para arranjar outro. Este ponto é cada vez mais importante, visto que o desemprego em Portugal é agora algo absolutamente comum e normal.

Por último, deve-se também a uma certa cobardia do ser humano*, que prefere viver uma vida inteira vergado do que arriscar expor a sua opinião perante a autoridade do seu superior hierárquico. É sempre mais fácil criticar nas costas e "vingar-se" com um mau desempenho profissional, sem que com isso se compreenda que se está a prejudicar a si próprio. Por outro lado, quem está em cima também não costuma estar disposto a ouvir desaforos, era o que mais faltava!

Maria Filomena Mónica disse que esta subserviência a fazia ter vergonha de ser português. Eu não vou tão longe, tenho desdém por esta forma de estar na vida, no entanto, isso por si só não me faz ter vergonha de ser português. Na realidade não tenho vergonha de ser português, mas também não tenho actualmente especial orgulho e vocês?

* Chamo cobardia do ser humano para não apelidá-la de cobardia portuguesa. Gosto de pensar que não são só os portugueses que actuam desta forma, todavia, na minha vida lidei de perto com poucos estrangeiros para ter qualquer opinião das suas atitudes.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Caminhando rapidamente para o abismo

Há dias assisti, no ICS/UL, a uma comunicação que analisava as despesas actuais do Estado português. Ora entre os diversos dados que o autor colocou à disposição da audiência, retive que a correlação entre a despesa do Estado e o envelhecimento da população portuguesa é de 0,92, isto é, à medida que o número de idosos cresce, em igual medida - porque a correlação é quase perfeita - crescem as despesas do Estado.
Sabendo que o número de nascimentos por mulher em Portugal é de somente 1,3 estando, desta forma, bastante abaixo da taxa de renovação de gerações que se situa nos 2,1; que algumas estimativas apontam para uma emigração entre os jovens na ordem dos 50.000 portugueses nos últimos 5 anos; e, por último, que Portugal tem 1,2 Milhões de desempregados, dos quais quase cerca de 35% são jovens, estamos perante a tempestade perfeita!

Assim, tendo em conta todos estes dados, só posso supor que a despesa do Estado vai aumentar até voltar a ser insustentável, ao que se seguirão novos cortes, e mais cortes, até sabe-se lá quando. Uma solução possível é alterar o modo de financiamento da Segurança Social - já que são os 3 milhões de pensionistas que tornam esta correlação quase perfeita -, talvez baseando-o em impostos, pois não me parece muito admissível que se corte muito mais no valor das pensões (tirando talvez as de "luxo", mas não sei até que ponto elas "pesam" assim tanto nesta equação)

O que estranho é que quando era criança lembro-me do meu pai falar nisto. Ora não tendo o meu pai qualquer posição de destaque na sociedade, nem tão-pouco alguma vez se empenhou a fundo no estudo desta questão, eu pergunto-me porque raio nenhum dos nossos dirigentes procurou antecipar este problema? Será incompetência ou simplesmente um relaxamento pelo facto do problema não se fazer ainda sentir durante o seu ciclo político?

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Projecto turístico da albufeira de Montargil


Anteontem tive oportunidade de passar os olhos pelo Público, e embora não tenha feito nada mais do que realmente passar os olhos, li uma reportagem sobre o falhanço do projecto turístico do Alqueva. De forma automática, a minha mente estabeleceu a comparação com o caso de Montargil, uma Albufeira com mais de 50 anos e, tal como a sua congénere do Baixo Alentejo, tem prometido uma revolução turística que continua, em parte, por cumprir. Não que a albufeira não tenha atraído alguns investimentos turísticos, no entanto, creio que todos estão de acordo que estes foram reduzidos e, infelizmente, muitos têm vindo a falhar. Para piorar o cenário correm alguns rumores sobre o possível encerramento do CS Hotel do Lago, o maior e mais luxuoso dos diversos investimento turísticos feito nas margens desta barragem.

Espero sinceramente que o CS mantenha a sua actividade e, dessa forma, traga cada vez mais turistas a Montargil e ao Alto Alentejo. Contudo, queria tecer algumas considerações que, na minha opinião, prejudicam o turismo na zona de Montargil, no caso de empreendimentos de luxo como o CS Hotel do Lago ou do projecto falhado do Charcas Lagoon Resort.

Ao contrário do Presidente da Câmara, eu não compreendo porque é que alguém que está disposto a pagar mais de 120 euros por noite opte por Montargil, em detrimento de qualquer destino no estrangeiro ou, dentro do território nacional, na praia, na montanha e no campo. Eu não faria pelo simples facto que, para além de uma barragem e de uma paisagem agradável, na realidade Montargil e o restante concelho de Ponte de Sor, à primeira vista, pouco mais têm para oferecer. Não dispondo de património histórico visitável ou de qualquer outra actividade que seduza o visitante como, por exemplo, pode com facilidade encontrar-se no Sotavento Algarvio, no triângulo Évora-Elvas-Vila Viçosa ou nas aldeias históricas das Beiras. 

Contudo, o Alto Alentejo é fértil em património histórico (Alter, Crato, Avis, Portalegre, Belver) e mesmo Ponte de Sor tem algum potencial por explorar como, por exemplo, os moinhos de água. Podem ainda surgir outras actividades de carácter lúdico e recreativo, das quais a empresa Azenhas de Seda são um raro exemplo. Só assim, na minha opinião, se pode fidelizar o público que tem possibilidade de escolher com facilidade outros destinos.

Em relação a um segmento com menores recursos económicos, creio que a barragem tem feito o seu papel, sendo visível o sucesso da Orbitur. É sempre mais fácil agradar quem não tem outras possibilidades de escolha e, consequentemente, quem desconhece outras realidades.

Pessoalmente espero, num futuro a médio prazo, contribuir para o estabelecimento da indústria turística no concelho de Ponte de Sor e já dei uma modesta contribuição. Em Junho de 2011, a Associação Nova Cultura e a Staurós, contando com o apoio da Câmara Municipal, lançou uma obra que descreve o património histórico religioso da freguesia de Montargil. Trata-se da obra "Montargil na Rota do Sagrado" e  fui o autor da introdução histórica. Um dos objectivos era exactamente de divulgar entre os turistas este património. Para o conseguir é ainda necessário que o mesmo esteja visitável, pelo menos na época alta. Eu sei que a logística é muito difícil, mas recordo-me que Câmara Municipal de Tavira consegue ter, durante o Verão, cerca de 30 monumentos abertos ao público recorrendo a um programa de "Férias Activas" entre os estudantes do ensino secundário.

Fica aqui esta ideia e as minhas opiniões, agora espero as vossas.....


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Todos temos um Cavaco dentro de nós


Existe um exército de pessoas sem-abrigo, diria que são algumas dezenas, que "vivem" no acesso subterrâneo da Gare do Oriente. Como estive afastado de Lisboa durante mais de um ano, reparei que o seu número aumentou consideravelmente, talvez por causa da crise, talvez porque o local é "abrigado", talvez um pouco de ambos, não sei. O que sei é que faz impressão pensar que existem tantas pessoas a dormir (?) praticamente na rua com este frio.

Uns serão certamente culpados da situação em que se encontram, outros simplesmente tiveram azar em algum momento ou durante a vida toda. Independentemente disso ontem de manhã, cerca das 08h40, assisti a uma discussão entre um vigilante da Gare do Oriente e um "sem-abrigo". Não faço ideia o teor da conversa, nem tão-pouco quem teria ou não razão, mas a dada altura o vigilante afirmou "(...) o seu problema é estar mal habituado (...)". Uma pessoa que diz a outra que vive na rua, que dorme num muro de ladrilhos gelados quando estão 3ºC, que está mal habituado, tiradas as devidas proporções, acaba por agir como Cavaco quando este se queixa da sua reforma. O sem-abrigo pode ser tudo: violento, bêbado, drogado, mal-formado, avarento, mas de certeza que não está "mal habituado" seja ao que for.

Este pequeno episódio recordou-me, novamente, o egoísmo humano, a sua pequenez e Adam Smith pois, em relação à maioria de nós, sempre que necessitamos de algo "apelamos, não para a sua humanidade, mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles. (...)"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A vergonha da Piscina dos Olivais (e outras) continua


Eu não sou por natureza um liberal, no entanto, a péssima e, frequentemente, corrupta gestão estatal obriga-me a rever, no panorama estritamente nacional, algumas das minhas posições. Refere Gabriel Tortella, numa das suas obras sobre História Económica, que a existência de alguns monopólios naturais supõe que a melhor solução seria a sua nacionalização, porém, nem sempre a máquina estatal se afigura como um bom gestor.

Infelizmente péssimos exemplos de gestão pública não faltam neste deprimido canto da Europa. Um dos que mais me incómoda, por motivos pessoais, é o caso das piscinas de Lisboa, sobretudo o da piscina dos Olivais. Construída durante o Estado Novo, gerações de olivalenses (e não só) usufruíram deste espaço nas mais variadas vertentes desportivas - Natação, Futsal, Ténis, Basquetebol, Kick-Boxing, entre outras. Eu fui um deles e, para além disso, guardo excelentes recordações de quando ia até à piscina no verão apenas por puro lazer.

Ora algures na viragem do milénio, devido provavelmente a uma certa obsolescência das instalações, este complexo entrou em obras através de um plano que só parcialmente foi cumprido. Embora a obra prevista mais dispendiosa não tenha sido concretizada - a cobertura das piscinas olímpicas -, existiu um forte investimento, diria de alguns milhões de euros, na construção de uma piscina semi-olímpica coberta de raiz. No entanto, esta apenas esteve em actividade pouco mais de um par de anos, tendo sido todo o complexo encerrado pouco depois.

Hoje, passados mais de dez anos, após denuncias e críticas de quase todas as forças políticas por ocasião de eleições autárquicas, o complexo encontra-se abandonado há vários anos, a degradação continua e, de acordo com uma notícia do Público, assim vai continuar.

Gostava, mas gostava mesmo de perceber como é que se faz um investimento de milhões num local para imediatamente este ser encerrado? Gostava, mas gostava mesmo de perceber quem foi o responsável por esta situação e, por último, gostava, mas gostava mesmo de perceber porque é que ninguém é chamado à responsabilidade.